Juntar os amigos e viajar para uma cidade como Rio ou Florianópolis. Alugar uma casa, encontrar as melhores festas e cuidar para que todos curtam o máximo possível. Se a tarefa, em vez de divertida, parece uma grande dor de cabeça, é provável que você já tenha sido o responsável por organizar a despedida de solteiro de um amigo ou amiga.
Ao se encontrarem na mesma situação, alguns empreendedores viram nessas dificuldades uma oportunidade de negócio e, assim, passaram a apostar em profissionalizar as festas, oferecendo serviços que englobam desde a preparação para a viagem até mimos, como massagem e brindes personalizados.
Com foco exclusivamente na realização das despedidas, o faturamento de empresas do setor já chega na casa dos R$ 5 milhões, com perspectiva de crescimento para o ano que vem.
É o caso da Game Over, agência de Belo Horizonte (MG) especializada em organizar despedidas de solteiro, com opções no Brasil e no exterior. A ideia surgiu em 2018, após Hermano Filho, fundador da companhia, ter dificuldades para organizar a despedida de solteiro do primeiro amigo que se casou.
“Tem gente que está me devendo até hoje”, comenta, aos risos. “Não tinha uma empresa que fazia o serviço que eu gostaria de usar”. Hoje, a Game Over realiza em média duas despedidas de solteiro por semana. Foram 115 só no ano passado, com um faturamento de R$ 5 milhões e lucro de R$ 900 mil. A expectativa é chegar a um faturamento de até R$ 9 milhões neste ano.
Confira histórias de empreendedores
Quem também decidiu investir no negócio após ficar responsável pela festa de um amigo foi Eduardo Vespa, fundador da Hangover, agência de São Paulo especializada em organizar despedidas de solteiro de alto padrão.
“Imagina uma galera na sua orelha, perguntando onde que é a despedida, como a gente vai, o que vai ter para beber”, relembra Vespa, ao mencionar o momento que passou a ver no modelo uma possibilidade de negócio. “Ninguém nunca pensou nisso, ou não existe mercado”, imaginou à época.
O tempo mostrou que a aposta foi correta. No ano passado, a Hangover teve um faturamento de R$ 4,2 milhões, com 137 despedidas realizadas. A expectativa para este ano é chegar a 160, uma média de cerca de três festas por semana.
Despedidas de solteiro são personalizadas
As festas são personalizadas. O noivo ou a noiva escolhe o destino e, a partir daí, pode selecionar quais serviços e passeios serão incluídos no seu pacote. Os valores partem de R$ 1 mil por pessoa, mas isso não inclui passagens aéreas.
“A gente está focado em toda a experiência, desde a parte da hospedagem até a parte de reserva de camarotes nas melhores baladas. A gente cuida literalmente de tudo para o grupo”, afirma Vespa.
O movimento de empresas apostando em despedidas de solteiro segue uma tendência de “personalização de entregas” no mercado de eventos. “Há toda uma cadeia se adaptando a essa nova realidade”, afirma Doreni Caramori, presidente da Associação Brasileiras dos Promotores de Eventos (Abrape), mencionando a criação de agências e fornecedores especializados em atender diferentes nichos.
O movimento é impulsionado pelo avanço do setor de eventos no pós-pandemia, que registrou um crescimento de cerca de 11% em 2022, segundo a associação.
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Em geral, os clientes optam por realizar uma viagem para fazer a despedida de solteiro. Os destinos mais procurados são Rio de Janeiro, Florianópolis (SC) e Balneário Camboriú (SC). Com destaque para Búzios (RJ), no caso das mulheres, e Goiânia (GO), por parte dos homens. Para os mais endinheirados, é possível viajar para os destinos mais badalados do mundo, como Las Vegas (EUA), Ibiza (Espanha) ou Cancún (México).
“A gente já tem equipe nessas principais cidades em que mais fazemos festa”, conta Vespa. Ele diz que a maioria das despedidas no Brasil ocorrem entre os meses de outubro e abril, enquanto as no exterior acontecem geralmente no meio do ano.
Mulheres são as que mais buscam os serviços
A maioria das despedidas - cerca de 60% - são reservadas por mulheres. Segundo as empresas, isso se dá pela valorização dos diferentes serviços oferecidos e personalização de cada festa. “Para o homem, se tiver bebida gelada, uma casa com piscina de frente para o mar e umas baladas legais, está tudo certo”, afirma Hermano Filho.
“Já as mulheres querem algo a mais. A gente coloca um barman na praia, e elas ficam pedindo drinks e petiscos o tempo inteiro. Passamos na casa no domingo para fazer massagem quando o pessoal está de ressaca. A gente coloca várias opções no pacote.”
Em busca de facilidade para organizar a própria festa, a noiva Caroline Avelar, de São Paulo, decidiu contratar uma despedida de solteira com mais 22 amigas. Elas passaram três dias no Rio de Janeiro, num roteiro que incluiu passeio de barco, festa particular e balada open bar.
“Acho que vale super a pena fechar com a agência, principalmente para noiva, que não vai ter dor de cabeça, já que é um momento muito único na vida. Foi um final de semana inesquecível e indescritível”, conta Avelar.
Ela diz ter planejado a despedida com cerca de seis meses de antecedência, tempo necessário para organizar a agenda das amigas e permitir com que cada um juntasse os cerca de R$ 2 mil gastos na viagem.
Com a festa realizada, a expectativa agora é outra. “Antes a gente estava ansiosa para a despedida, agora a gente fica ansiosa para o casamento”, diz Avelar, que tem cerimônia marcada para setembro, em São Paulo.
Apesar de lidar com noivos e noivas diariamente, os empresários responsáveis pela organização das despedidas ainda não tiveram a oportunidade de realizar a própria celebração. Vespa, por exemplo, quer um roteiro que una o útil ao agradável, servindo também como promoção dos serviços da Hangover.
“Vou filmar e fotografar tudo. Quero 12 dias de despedida, saindo de São Paulo, passando por Floripa, Cartagena (Colômbia) e terminando em Las Vegas”, diz.
Hermano Filho deve apostar em festas em Florianópolis e Balneário Camboriú para facilitar a chegada dos convidados.
“Os clientes brincam que quando for a minha despedida vai ter que ser umas duas ou três, para convidar a turma toda”, conta, ao mencionar que namora há seis anos e já mora com a namorada há dois.
“Tá chegando a hora, né?”, questiona aos risos. Certamente, encontrar alguém para organizar a festa não vai ser um problema.
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