Distribuição de energia solar movimenta usinas e redes até o cliente

Negócios criam até serviço de assinatura para levar energia gerada em parques solares até casas e empresas; além da bandeira ambiental, impacto social é motivador

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Por Bianca Zanatta

Em paralelo aos empreendimentos que comercializam e instalam equipamentos fotovoltaicos e os que trabalham com linhas de financiamento específicas para esse tipo de projeto, outra frente que está ganhando terreno para expandir o acesso da população à energia solar fotovoltaica é a da geração compartilhada ou distribuída, foco dos parques e usinas solares. 

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Quem lidera esse modelo por aqui é a portuguesa Afaplan, que chegou há uma década no Brasil e atua na construção de parques que representam mais de 77% da energia solar gerada no País. A empresa previa bater R$ 60 milhões de faturamento em 2021 com a prestação de serviços para empreendimentos de energia renovável, tanto solares quanto eólicos.

De acordo com o CEO, Gonçalo Soares, os clientes são empresas de energia tanto de geração centralizada (para autoconsumo) como distribuída. No caso da geração centralizada, são grandes usinas que podem gerar de 5 MW a 1 GW, como é o caso do Parque Solar de Janaúba, em Minas Gerais, construído para a Elera Renováveis. 

Sun Mobi possui dois empreendimentos solares no Estado de São Paulo, em Porto Feliz e Araçoiaba da Serra. Foto: Pedro Mascaro

“Toda essa energia é depois negociada pelos nossos clientes no mercado livre ou no mercado regulado”, diz o executivo. Ele explica que a energia elétrica é enviada para as cidades pelas linhas e redes de transmissão, seguindo em alta tensão até a rede de distribuição, que é mais ramificada. 

A entrega, então, é feita em redes primárias, que atendem a médias e grandes empresas e indústrias, e em redes secundárias, que atendem a consumidores residenciais, pequenos estabelecimentos comerciais e iluminação pública.

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“A crescente necessidade para cobrir as demandas do País e os compromissos de descarbonização vão exigir um forte investimento na área de geração de eletricidade, principalmente de energias renováveis, pela próxima década”, sublinha Soares. “Isso acontecerá independentemente de qualquer tipo de política, porque é uma necessidade básica que precisa ser reforçada.” Mas o desafio ainda está na necessidade de importar equipamentos e materiais, segundo ele. “O Brasil terá que investir em fábricas de componentes para evitar gargalos futuros.”

Energia por assinatura

Considerada a primeira enertech (startup de energia) do Brasil, combinando tecnologias de geração de energia com o poder de alcance da internet, a Sun Mobi lançou um serviço de energia solar por assinatura destinado principalmente a comerciantes e pequenos negócios do interior paulista e da Baixada Santista. 

A empresa possui dois empreendimentos solares no Estado, em Porto Feliz e Araçoiaba da Serra, que atendem consumidores dentro da área de concessão da CPFL Piratininga, incluindo Santos, São Vicente, Itu, Sorocaba e Porto Feliz, entre outros municípios.

Alexandre Bueno, sócio da Sun Mobi, consideradaa primeira enertech (startup de energia) do Brasil. Foto: Thiago Ventura

O modelo de assinatura pode ser contratado igual a um serviço de internet ou TV a cabo. O assinante recebe um aparelho de monitoramento do consumo que avisa em tempo real o status de gasto de eletricidade e inclui ainda um aplicativo que emite alertas quando há pico de consumo dos aparelhos elétricos, entre outras funcionalidades. Segundo Alexandre Bueno, sócio da enertech, a base de clientes da empresa tem dobrado a cada dois anos e a expectativa é chegar a 6 mil consumidores nos próximos três anos.

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Fundado em 2016, o Grupo Gera, que oferece soluções de geração de energia solar, eólica, hídrica e a biogás, também está apostando em um serviço de assinatura para os consumidores. São 16 empreendimentos solares distribuídos nos Estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais. 

Em cada região, as usinas estão sendo instaladas especificamente para atender residências, comércios e indústrias locais que buscam redução de custo, aumento de competitividade e mais sustentabilidade. De acordo com o grupo, o serviço é destinado prioritariamente a quem gasta acima de R$ 300 por mês na conta de luz.

Busca por investidores

No caso da carioca Plexo Solar, fundada em 2018 pelos sócios Michel Sednaoui, Paulo Simoni e André Castro, o primeiro projeto foi uma usina de autoconsumo remoto de 5 MW que alimenta as agências do Banco do Brasil em Minas Gerais. De 2020 para 2021, o crescimento no faturamento da empresa foi de 132,5% e 127%. 

A equipe, que atualmente conta com os três sócios, dois engenheiros e uma estagiária, deve dobrar de tamanho no ano que vem para atender ao plano de gerar 25 MW a mais com novos projetos, já que agora foi criado um novo braço – a Plexo Solar Comercializadora, com foco em pequenas e médias empresas e residências. 

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Segundo Michel Sednaoui, a geração distribuída de energia solar ainda é bastante restrita a empresas de grande porte, que se propuseram a desbravar o mercado, mas a ideia é que todos tenham acesso. “Agora está vindo a nova fase, em que essa geração distribuída está sendo democratizada. E a Plexo Solar tem o intuito social de mudar a forma do negócio da energia solar no Brasil”, afirma.

Para que as residências possam consumir, eles estão conversando com diversos investidores de impacto que possam financiar os projetos. “Já para as PMEs, nós representamos a Associação Brasileira de Energia Solar no LAB Inovação Financeira, onde estamos criando um seguro de crédito para que o risco final dos investidores que passarão a vender essa energia seja diminuído”, diz o empreendedor. 

A vez das comunidades

Pautada pelo idealismo dos sócios, a Plexo Solar também tem o compromisso de fazer um projeto social para cada usina solar que constrói. A iniciativa resultou em uma parceria nacional com a ONG indiana Barefoot College (em tradução literal, “Faculdade dos Pés Descalços”), que já atuou em 93 países. 

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“Na nossa parceria, o objetivo é formar mulheres analfabetas como engenheiras de energia solar”, diz Sednaoui, que está agora em Paraty para entender a dinâmica local e iniciar a implantação de um projeto que deve levar energia solar a todas as casas sem luz da região. “Você não precisa saber ler e escrever para montar um circuito, conectar placas e saber operar, manter e consertar. Tem casos de sucesso pelo mundo inteiro. A ONG já formou mais de 2 mil mulheres”, ele destaca.

Outra iniciativa que serve de inspiração para empreendedores que queiram atuar no setor é a Revolusolar, finalista do Prêmio Jovens Campeões da Terra da ONU e também do Global Innovation Lab for Climate Finance. A ONG arrecadou R$ 90 mil em uma campanha de financiamento coletivo para criar a primeira cooperativa de energia solar em favelas do País, nos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira, na zona sul do Rio de Janeiro. A Cooperativa Percília e Lúcio de Energias Renováveis, batizada em referência a duas lideranças históricas das duas comunidades – Tia Percilia e Lúcio Bispo – beneficia 35 famílias que passaram a ter, desde setembro, um alívio médio de 30% na conta de luz. 

As 60 placas de energia solar que alimentam o sistema foram instaladas no telhado da Associação de Moradores da favela da Babilônia e a Revolusolar homologou a usina com a concessionária de energia elétrica do Rio. O projeto faz parte de um plano de expansão da atuação da ONG, que pretende padronizar e replicar a ideia em outras comunidades no Brasil e, depois, na América Latina. 

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