Quase 90% dos empreendedores não têm funcionários e metade ganha só um salário mínimo

Dados do Sebrae mostram que País tem cerca de 30 milhões de pessoas com empreendimento próprio, sendo apenas 11 milhões de MEIs

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Foto do author Felipe Siqueira

Nove em cada dez donos de negócios no Brasil não têm funcionários. São empreendedores que trabalham por conta própria e desenvolvem todas as funções dentro da empresa, desde o investimento até a venda ou prestação de serviço, segundo dados do Atlas dos Pequenos Negócios, elaborado pelo Sebrae.

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Os números – baseados na PNAD Contínua, do IBGE – consideram empreendedores no geral, sem avaliar o tamanho do empreendimento, explica o analista de gestão estratégica da entidade Denis Nunes.Segundo ele, o cenário de não ter empregados é a síntese do Microempreendedor Individual (MEI) brasileiro, mas isso não quer dizer que todos estejam formalizados dessa forma, com CNPJ aberto.

Em dezembro de 2021, mês de fechamento do Atlas, havia cerca de 29,8 milhões de pessoas à frente do próprio empreendimento no País, sendo que 25,9 milhões atuavam de maneira autônoma. No mesmo período, o número de MEIs somavam apenas 11,2 milhões. Para o Sebrae, os dados revelam o enorme espaço para o crescimento de microempreendedores individuais.

Vale ressaltar que esses números voltaram a crescer. Em dezembro de 2019, 24,5 milhões atuavam por conta própria. Porém, um ano depois, já em meio à pandemia, a estatística caiu para 23,2 milhões. A partir do início do ano passado os números passaram a ter um aumento relevante, chegando ao patamar mais recente, de quase 26 milhões, em dezembro de 2021. ”Em um cenário de alto desemprego e crise sanitária, as pessoas procuraram se ocupar, para conseguirem ter renda. Com as restrições, alguns viram oportunidades”, diz Nunes, do Sebrae.

Segundo ele, esse movimento é essencial para movimentar a economia. O que não cabe é ficar totalmente parado. “O empreendedorismo acaba sendo a saída da crise para muitas pessoas.”

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Ele explica que vários empreendimentos acabam ficando na informalidade, sem CNPJ, porque não sabem exatamente o que vai deslanchar. “A pessoa vende várias coisas, uma pela manhã, outra à tarde e mais uma outra no período da noite. Se uma dessas opções der certo, aí, sim, pode ser que formalize a empresa.”

Salário mínimo

Neste cenário, como o negócio existe para que a pessoa consiga tirar o próprio sustento, é muito difícil ter estrutura para contratar alguém sob as leis da CLT. Por isso, o empreendedor acaba atuando por conta própria.

Os valores que o indivíduo consegue ter de “salário” não são altos. De acordo com o levantamento do Sebrae, quase metade (45%) dos donos de negócios no Brasil ganham até um salário mínimo como renda mensal. Além disso, 27% tiravam, por mês, de um a dois salários mínimos.

Lucas Anouck, de 26 anos, que atua como publicitário e produtor para PMEs no ramo de moda, é MEI. Ele conta que até pensa em contratar um assistente, que o deixaria mais “livre” para conquistar novos clientes. “Queria fazer mais prospecção”, diz o publicitário. Mas isso é uma ideia para o futuro. Hoje, por conta dos custos que um funcionário gera e pela renda mensal própria ainda ser instável, ele diz que é impossível.

O publicitário e produtor Lucas Anouck, de 26 anos Foto: Tiago Queiroz/Estadão  Foto: Tiago Queiroz

A saída, diz Anouck, é fechar contratos de prestação de serviço com outros autônomos. “Se um cliente precisa de fotos ou aumentar engajamento de redes sociais, eu faço a ponte com profissionais especializados. Então, organizo a produção, seleciono modelo, vou atrás de fotógrafo.”

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