Empreendedora ‘salva’ casa de Vinicius de Moraes e incrementa negócio hoteleiro

Renata Proserpio agregou imóvel ao hotel que ela já comandava, o que culminou em reposicionamento de marca e valorização da empresa

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Foto do author Ludimila Honorato
Atualização:

“A vida é a arte do encontro”. O verso de Vinicius de Moraes em Samba da Benção representa bem a trajetória pessoal e empreendedora de Renata Proserpio. Paulista com alma baiana, ela se estabeleceu em Salvador após conhecer o marido no carnaval da Bahia.

Anos depois, no segmento da hotelaria, salvou da destruição a casa onde o poeta morou, agregou o imóvel ao empreendimento dela e se reposicionou no mercado com o turismo de experiência.

Renata Proserpio comprou a casa de Vinicius de Moraes em Salvador e integrou o imóvel ao hotel dela Foto: Luisa Proserpio

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Foi em 1992 que o Mar Brasil Hotel, com 20 apartamentos, abriu as portas em frente à praia do Farol de Itapuã. O empreendimento foi instalado no terreno ao lado da casa onde o compositor morou por sete anos com a atriz Gessy Gesse, última mulher dele.

“Esse hotel fez logo muito sucesso, porque era intermediário entre os hotéis de luxo e as pousadas mais simples que não ofereciam o mínimo de conforto que o público solicitava, sobretudo o paulista”, diz a empresária.

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Hotel de frente para o mar tem 76 quartos divididos em três categorias Foto: Darío G. Neto/ASN Bahia

Influenciada pela poesia e bossa nova do artista, Renata, de 66 anos, conta que sempre olhou para a moradia vizinha com muita emoção e não hesitou quando, em 2000, o imóvel foi colocado à venda. Ela lembra que a intenção de um dos compradores era demolir a casa histórica, construída em 1974, para fazer um condomínio frente ao mar. Inadmissível.

Ela e o marido juntaram as economias, venderam imóveis em São Paulo e compraram a residência. Foi assim que eles salvaram a casa de Vina, como o poeta era conhecido, e mantiveram viva a memória de um dos principais compositores da música popular brasileira.

Novos encontros

Em 2005, a arte do encontro se materializou outra vez. A filha de Renata, na época com 13 anos, estudava na mesma escola que a neta de Gessy e foi por intermédio das adolescentes que ambas se conheceram.

Juntas, elas começaram a aprimorar o ambiente a partir das memórias da atriz, que contou sobre as frequentes visitas de amigos à casa, como Toquinho e Dorival Caymmi, as festas, o local e a posição de cada móvel. A atmosfera também foi incrementada com objetos originais do casal, como roupas e manuscritos. “Ela tinha guardado bilhetes, cartas, dedicatórias que Vina tinha feito para ela.”

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A partir dali, o local virou um museu e, depois, o muro que separava o hotel da casa caiu por terra e a integração aprimorou o negócio. Em 2018, a suíte que servira de ninho para Gessy e Vinicius foi reconstituída e passou a ser disponibilizada para hospedagem. O ambiente reserva itens originais, como a cama de metal, que Renata descobriu em um antiquário, e azulejos do artista Udo Knoff. Uma banheira nova foi colocada na mesma posição da antiga.

Suíte no Casa Di Vina Boutique Hotel tem cama original de Vinicius de Moraes Foto: Darío G. Neto/ASN Bahia

Um dos arquitetos que construiu a moradia foi chamado para pontuar algo que tivesse sido modificado para que voltasse à origem. Cenógrafos de Salvador voltados a recriar ambientes também foram contratados para remontar os espaços da casa, e uma releitura poética foi feita a partir da descrição de poetas convidados sobre cada canto do imóvel.

Reposicionamento de marca

No ano passado, os proprietários completaram um projeto de transformar o Mar Brasil Hotel na Casa Di Vina Boutique Hotel. Quem se hospeda ali aproveita para conhecer a história do poeta por meio de fotos, objetos e descrições do lugar. A varanda que um dia recebia os amigos de Vinicius hoje é o restaurante da hospedaria. Num andar acima, a sala abriga a máquina de escrever original do artista.

“A gente proporciona ao hóspede essa mesma experiência (que Vinicius teve), de estar na banheira com o olhar perdido no encontro do céu com o mar”, diz Renata. ”Essa é a proposta do hotel, ter experiência de conforto, de estar em frente ao mar, mas também de estar na casa do poeta e vivenciar essa história.”

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O hóspede aproveita a boa gastronomia, unindo a cozinha mediterrânea com a baiana, inclusive com receitas ensinadas por Gessy, arte e poesia em um ambiente tranquilo e relaxante. “Isso trouxe uma graça a mais ao serviço.”

Casa do poeta Vinicius de Moraes foi integrada ao hotel; o que antes era a varanda hoje serve como restaurante Foto: Darío G. Neto/ASN Bahia

O reposicionamento obteve resposta rápida do público, com aumento da demanda dentro da tendência do turismo de experiência, que preza pela imersão do visitante. “É um privilégio poder ajudar a manter a memória do Brasil, da MPB e proporcionar essa experiência que as pessoas ficam com lágrima nos olhos. Do ponto de vista do negócio, é algo que agrega muito valor”, diz a empresária.

Ela conta que a suíte é bastante concorrida, buscada principalmente para celebrar o amor nas mais diversas formas: um aniversário de casamento, noite de núpcias, um reencontro ou mesmo fãs que desejam ficar onde Vinicius dormiu.

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“Nós verificamos uma oportunidade de ocupar um nicho de mercado que não era ocupado, mas era muito buscado, sobretudo pelo público corporativo”, afirma. Para Renata, o principal desafio do empreendedor hoje é se renovar e ter capacidade de redefinir o negócio o tempo todo, em função das mudanças do mercado.

“O perfil do consumidor vai mudando. Durante a pandemia, teve muito público regional, dos Estados limítrofes, que vinha de carro. Agora, estamos vendo o público doméstico voltando, ainda não no mesmo nível que víamos antes. E o internacional está voltando de forma muito tímida”, analisa. O hotel tem 76 quartos divididos em três categorias e tem uma média mensal de ocupação de 76%, sendo que em janeiro atinge a totalidade.

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