Do hobby de correr a empreendedora Mônica Saccarelli levou para os negócios o que acredita ser um dos maiores aprendizados ao longo de 11 anos empreendendo: a motivação para não desistir.
Há dez anos correndo maratonas pelo mundo, ela conta que a força que usa para completar uma prova, como os mais de 42 quilômetros que correu em Tóquio neste ano, é a mesma que a faz perseverar pelos altos e baixos do empreendedorismo: “Eu cheguei até aqui, então agora não dá para desistir”.
Aos 42 anos, Mônica já participou da criação de três empresas. Em 2018, nasceu a Diin, uma fintech de micro investimento (a partir de R$ 1), fruto da sua paixão pela área de finanças com a do sócio, Frederico Meinberg.
“Por que as pessoas não investem ou não poupam? Elas não têm tempo para estudar finanças e tem a questão do dinheiro. Com pouco, onde ela vai investir?”, indaga. A ideia da Diin, hoje com 20 mil clientes, é melhorar a educação financeira dos brasileiros, ajudando-os a criar o hábito de poupar com mais rentabilidade do que a poupança – cerca de 5,7% ao ano.
Com graduação em relações públicas e comunicação e especialização em marketing, o gosto pelo mercado financeiro surgiu durante um estágio na antiga Bovespa. “Caí lá de paraquedas sem saber o que era bolsa subindo e caindo, mas aprendi e me apaixonei pelo mercado.”
Antes que desse o passo seguinte na carreira (um emprego em marketing na antiga Link Investimentos, a última experiência sendo funcionária), começaram a aparecer os sinais de que Mônica tinha uma veia empreendedora. “Sempre tive espírito de dono. Nunca fiz o perfil da pessoa que está acomodada reclamando da empresa. Sentia um incômodo constante.”
A inquietude na carreira, que Mônica destaca como uma das características imprescindíveis para ascender como empreendedor, a levou a propor para os sócios da Link a criação de um projeto de home broker (negociação de ações pela internet) que, com dois anos de existência, angariou 15 mil clientes.
Em 2010, a Link foi vendida para a UBS, que não quis o setor de home broker, e mais uma vez, com o apoio de sócios, Mônica criou uma nova empresa, a Rico, corretora de investimentos online. “Acredito muito em sociedade, é difícil empreender sozinho.” Foi com a Rico que Mônica sentiu a perseverança ser testada. “Foram três anos de prejuízo. Não tínhamos a mentalidade e o mercado atual de investidores.”
O que a fez continuar investindo na empresa foi exatamente o aprendizado que levou da corrida: acreditar no propósito do que estava fazendo. “Empreender é uma montanha-russa. Tem dia que você acha que vai ser grande, mas em outro parece que não vai dar certo. Tem que aguentar. Se você acredita muito e gosta do que está fazendo, isso vai fazer com que você passe da fase de validação.”
Em 2017, com 200 mil clientes, a Rico foi vendida para a XP Investimentos, a maior concorrente. A venda foi uma decisão estratégica e uma oportunidade do momento, diz. “Quem acha que empreender é para vender a empresa não vai aguentar passar pelos altos e baixos. Você tem de criar um negócio pelo propósito que ele tem.”
Sem medo de recomeçar, ela diz que a ansiedade é a mesma de tempos atrás, mas a maturidade ajuda a resolver problemas. “Me falaram: ‘Você não está velha? Vai competir com a molecada?’ Não me sinto velha. Hoje consigo respirar para tomar decisões.”
O tempo de mercado também fez Mônica perceber o seu universo dominado por homens. “Tive sorte de ter bons sócios, mas tive que brigar pela minha posição.”
Na Diin, em que 45% dos clientes são mulheres, ela é a única representante entre os dez funcionários. Agora, a fintech reservou duas vagas para o gênero feminino e investe em educação financeira para elas. “As mulheres muitas vezes não têm acesso ao mercado, e a gente quer que elas se sintam à vontade.”