Um brasileiro que se mudou para os Estados Unidos para estudar, transformou uma pequena loja de malas, que não ia bem, em uma grande loja de produtos para bebê. A MacroBaby, localizada em Orlando, na Flórida, começou a se concentrar cada vez mais nas experiências offline e se tornou muito procurada por quem busca preparar o enxoval dos filhos.
Com maior variedade de itens e produtos mais baratos, que podem custar até um terço dos valores no Brasil, a loja começou a fazer sucesso também entre os brasileiros, e se tornou “queridinha” de muitas celebridades do País. Figuras como Xuxa Meneghel, Sabrina Sato, Wesley Safadão e Ivete Sangalo fazem parte da lista de clientes da empresa. Agora, ele pensa em expandir o negócio com franquias.
“Nós vamos muito além de ser apenas uma loja”, afirma o empresário Richard Harary, de 46 anos, fundador da marca. Segundo ele, outros serviços oferecidos pela companhia, como ultrassom 3D, uma “maternidade de bonecas”, onde crianças mais velhas podem buscar acessórios para seus brinquedos, e vendedores bilíngues especializados são parte do sucesso da MacroBaby.
Atualmente, a loja faz parte da holding Macro Corporation, que engloba outras 15 empresas do grupo, responsáveis pela produção de marcas próprias de produtos para bebês, além de trabalhos em outros ramos, como no setor imobiliário e de consultoria empresarial.
Empresa começou com compra de loja de malas
O paulistano Richard Harary se mudou em 1996 para Orlando para estudar inglês e, posteriormente, cursar psicologia na University of Central Florida. O alto custo das mensalidades para estrangeiros e os planos de estudar por mais alguns anos fizeram com que ele buscasse formas de conseguir um visto de trabalho — e eventualmente se candidatar a um green card — a fim de pagar taxas mais baratas.
Harary descobriu que poderia obter seu visto sendo dono de alguma empresa local e foi buscar opções. Em 1999, conheceu um brasileiro dono de uma loja de malas na cidade, que ficava ao lado de um grande supermercado de onde vinham quase todos os clientes. Com o fechamento do mercado, a loja, com a clientela minguando, estava à venda por US$ 7 mil. Foi a oportunidade de que o empresário precisava.
“Logo pensei que tinha que ir atrás dos meus clientes”, relembra Harary, que fechou uma parceria com companhias aéreas que operavam na cidade, para vender malas, que eram entregues para os passageiros que haviam tido suas bagagens danificadas.
Em 2001, passou a vender seus produtos no eBay, um dos principais sites e-commerce do país. Com o sucesso nas vendas e parcerias, diversificou os produtos oferecidos no site e passou a vender peças de roupa e acessórios de marcas conhecidas, como Timberland e The North Face.
O sucesso fez com que a Macro Store, como era chamada, diversificasse cada vez mais os seus produtos, inclusive, aqueles voltados para bebês. Mas foi com o nascimento da primeira filha que o empresário percebeu uma nova oportunidade no mercado.
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Nascimento da filha mudou área de atuação
Foi em 2007, quando teve a primeira filha, Gabriela, que Harary começou a olhar com mais carinho para os produtos para bebês que vendia na Macro Store.
Ao perceber a dificuldade de entender os produtos e escolher as melhores opções, viu que talvez essa pudesse ser uma oportunidade de negócio.
“Fui a uma loja do setor e vi aquele atendimento superfrio, você mesmo que pega as coisas da prateleira. O cliente quer comprar os produtos, mas não conhecia nada sobre eles e não tinha assistência alguma”, diz Harary.
Foi o estopim para que ele reformular sua loja física, vender mais produtos desse setor e mudar seu atendimento. “Fomos nas maternidades e descobrimos que, na época, nasciam cerca de 130 bebês por dia na cidade. Pensei que, se a gente vendesse somente para 5% deles, já estaríamos muito bem”, diz o empresário.
Buscando fazer propaganda nas maternidades locais, a clientela começou a crescer e, com o tempo, o foco da empresa migrou completamente para os produtos de bebê. Em 2012, a companhia passou a se chamar MacroBaby.
Loja não foi pensada inicialmente para brasileiros
“A ideia sempre foi vender para americanos. Não tinha ideia que um brasileiro iria até os EUA para comprar produtos de bebê, eu estava totalmente desatualizado do País”, comenta Harary. Segundo ele, a falta de produtos e os altos custos cobrados no País, são os principais motivos que levam os conterrâneos a buscar sua loja na Flórida.
Ele estima que um enxoval para bebê com marcas de custo mediano, pode custar cerca de R$ 8 mil nos EUA, enquanto no Brasil, com os mesmos produtos, poderia chegar a até R$ 20 mil. “Tem carrinho de bebê que custa de R$ 18 mil a R$ 20 mil no Brasil, e nos Estados Unidos sai por US$ 1,3 mil (cerca de R$ 6,7 mil)”.
Apesar do rótulo de “queridinha” das celebridades e da sua alcunha de “rei” do enxoval de bebê, Harary afirma que a MacroBaby oferece produtos para todos os bolsos, inclusive para quem busca economizar. “Temos carrinhos de bebê por US$ 50″, afirma o empresário.
Agora a ideia de Harary é expandir a atuação da empresa, que já tem forte presença no e-commerce e em Orlando, para outras regiões dos EUA. Para isso, ele deve apostar no modelo de franquias, e já há estudos para a abertura de uma unidade em Nova York, mas não há prazos definidos.
O faturamento anual, segundo o empresário, é de mais de R$ 100 milhões.
Quem busca empreender fora do país deve planejar
Segundo o consultor de internacionalização do Sebrae-SP, Márcio Carvalho, quem busca empreender no exterior e internacionalizar a operação de sua empresa, tem que se planejar para concorrer em um novo mercado, diferente do que está acostumado.
“Se uma empresa pretende vender para os Estados Unidos ou Europa deve estar preparada, porque os padrões, em geral, são elevados e a concorrência tende a ser maior”, afirma Carvalho.
Segundo ele, uma boa alternativa pode ser vender para países vizinhos, que fazem parte do Mercosul, o que permite se familiarizar com o processo de regulação internacional com mais facilidade, já que os acordos existentes entre os países facilitam o comércio dentro do bloco.
Segundo Carvalho, leva um certo tempo para um negócio estar maduro suficiente para se internacionalizar. Ele estima algo próximo de dois anos pelo menos, mas afirma que não há uma regra definida para qual é o momento mínimo de maturação.
Em geral, esse processo ocorre primeiramente de forma indireta, por meio de uma empresa que cuida da exportação e venda dos produtos no país estrangeiro, chamada de comercial exportadora. O segundo passo seria trabalhar com um representante comercial no país estrangeiro, vendendo de forma direta os produtos da companhia.
“Já quando falamos em abrir um escritório ou uma unidade fabril, estamos em um ponto mais avançado no processo de internacionalização”, afirma Carvalho.
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