Será que um estoque de produtos mal pensado pode quebrar uma empresa? Sim, o risco é real, de acordo com especialistas, e não é tão incomum de acontecer.
A boa notícia é que existem estratégias para evitar que a situação chegue a esse ponto. O Estadão conversou com o Sebrae-SP para entender o que o empreendedor deve fazer para não comprar errado.
A primeira dúvida é: por que comprar estoque de maneira errada pode levar um negócio à quebra? Existem três pontos que explicam isso:
- Houve o custo de comprar os produtos de fornecedores.
- O dinheiro para pagar essa mercadoria saiu do capital de giro, de empréstimo ou de investimento direto do bolso do empresário.
- Há um custo para pagar o espaço onde esse estoque é armazenado.
Tudo isso descapitaliza a empresa, ou seja, tira dinheiro dela. Se existe um planejamento financeiro e uma estratégia de vendas, a tendência é que esse estoque gire, o que vai fazer com que gere caixa para o negócio.
Logo, cria-se um ciclo saudável de compra e venda de estoque, com faturamento suficiente para pagamento de todas as despesas - funcionários, aluguel, contas e fornecedores - e eventual lucro.
Porém, caso a venda do estoque não funcione como esperado, fazendo com que aquela mercadoria fique parada, começa o grande problema.
“Muitas empresas têm dificuldades de caixa por causa de um estoque elevado”, explica o consultor de negócios do Sebrae-SP Davi Jeronimo.
Além da dívida com o fornecedor e do custo com o espaço para armazenagem, tudo aquilo que está parado não está cumprindo o principal propósito: gerar venda, e consequentemente, entrar para o caixa.
Se não há dinheiro entrando no caixa, tudo vai ter que ser custeado com o que a companhia já tem. E, se não tem, vai precisar contrair mais dívidas, para que consiga cumprir com as obrigações financeiras.
Nesse caso, o ciclo deixa de ser saudável e passa a ser extremamente prejudicial. “Já atendi empresas que têm R$ 300 mil em estoque e não possui dinheiro para repor mercadoria que sai com recorrência”, afirma Jeronimo.
A situação pode se agravar a ponto de só ter no estoque o que não vende. E o que pode ter saída com maior frequência não está disponível, já que não há dinheiro para novas aquisições.
Nesses casos, a saída é fazer a famosa queima de estoque. “Aquilo já descapitalizou a empresa. Precisa fazer caixa, e o mínimo que entra já ajuda.”
Como ter um estoque adequado? Confira 8 dicas
Para não haver prejuízo com estoque, alguns passos podem ser seguidos, de acordo com Jeronimo.
- Pesquise o mercado: entenda, dentro do que pode ser vendido pela empresa, o que as pessoas procuram, o que atrai mais vendas.
- Olhe para a concorrência: veja quais produtos têm mais giro em lojas com nichos e itens semelhantes.
- Busque históricos: se houver possibilidade de já ter um histórico com o que pode dar certo, melhor. Mas, se não existir, vai ser preciso trabalhar com a percepção.
- Saiba o que o cliente quer: é varejo? É atacado? Busque encontrar qual o melhor tipo de venda para a loja.
- Entenda o seu negócio: o que é necessário fazer para conseguir vender? Qual estrutura é necessária? Assim, será possível saber também o que é preciso ter no estoque.
- Tenha critérios: tudo fica mais fácil quando se anotam operações na ponta do lápis, para conseguir controlar o que é gasto e o que é vendido.
- Realize testes: isso precisa ser feito com parcimônia, comprando estoque em pequenas quantidades e avaliando o que tem mais saída.
- Tenha paciência: é preciso realizar tudo com calma, para não queimar etapas. Depois de um tempo mapeando o que pode dar certo no empreendimento, aí, sim, o empresário pode comprar em maior quantidade, “para não errar logo no início”, completa Jeronimo.
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