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Brasileira fatura R$ 13 milhões com faxina nos EUA

Mila Garro largou faculdade de administração, trabalhou como faxineira nos EUA e abriu a Fiv5 Star Cleaning; ela conquistou seu primeiro milhão de dólares com três anos de operação.

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Foto do author Adele Robichez
Atualização:

Ela desistiu dos estudos e de uma possível estabilidade financeira no Brasil para viver como ajudante de faxineira nos Estados Unidos. Contra a vontade da família, a mineira e hoje empresária Mila Garro, 36, embarcou sozinha ao país norte-americano aos 19 anos, sem visto definitivo e nenhuma vivência com o idioma.

Apesar dos desafios iniciais, o sucesso da sua meticulosa limpeza brasileira no país estrangeiro foi tanto que, quatro anos depois, abriu a sua própria empresa no ramo da limpeza: a Fiv5 Star Cleaning, com sedes em Charlotte, na Carolina do Norte, e em Miami. Em 2023, faturou US$ 2,7 milhões (R$ 13,4 milhões).

Descobriu que poderia ser “rica fazendo faxina”

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Natural de Paracatu, em Minas Gerais, Mila Garro se mudou para Belo Horizonte após a separação dos pais, quando completou quatro anos de idade. A mãe foi embora para Brasília e a deixou sozinha com o pai, um policial civil que teve problemas de alcoolismo pouco tempo depois.

Aos oito anos, passou a morar com a avó materna, também em Belo Horizonte. Acompanhando-a nas vendas de lingeries em barracas, teve o primeiro contato com o empreendedorismo.

Quando completou 15 anos, em 2003, Mila escolheu como presente de aniversário uma viagem à cidade de Boston, nos Estados Unidos, onde uma tia trabalhava como faxineira. Passou um mês ajudando na limpeza das casas que a tia atendia.

No fim, recebeu cerca de US$ 400 pelo serviço (cerca de R$ 2.000 pelo câmbio de hoje). “Isso ficou na minha cabeça: fiquei rica fazendo faxina”, brinca.

Empresária mineira, Mila Garro fatura R$ 13 milhões com empresa de faxina nos EUA Foto: Melchi Castro

Foi aos Estados Unidos contra vontade da família

Desde então, nada tirava da cabeça de Mila Garro a ideia de voltar aos Estados Unidos. Mas a família era um obstáculo: além do pai, quase todos os seus parentes eram funcionários públicos e a pressionavam para que seguisse o mesmo caminho.

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De volta a Minas Gerais, Garro concluiu o ensino médio aos 18 anos. Com 19, cedeu à pressão do pai: prestou vestibular, cursou administração durante um ano na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e se dedicou aos estudos para se tornar escrivã da Polícia Civil.

“Fiz o que o meu pai pedia, mas ainda com o desejo de ir aos Estados Unidos”, relembra. Na última etapa do concurso da polícia, ela foi eliminada. “Fiquei muito frustrada, mas ao mesmo tempo me senti muito livre”, revela.

A mineira viu a reprovação como uma oportunidade de seguir o seu sonho. A tia que a acolheu no passado já não morava mais nos Estados Unidos, mas passou o contato de uma amiga, também faxineira, que poderia hospedá-la.

Em abril de 2007, a empresária decolou sozinha para o estado de Nova Hampshire. Ao chegar, as boas lembranças de quando tinha 15 anos foram tomadas por uma dura realidade.

Sofreu maus-tratos e trabalhava sem pausa

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“Foi um contraste grande. Dessa vez, não tinha minha tia; me tornei ajudante de uma pessoa que trabalhava 11 horas por dia; recebia US$ 300 no mês. Aquilo me assustou, mas decidi ficar porque a escolha era minha”, assume.

Foi maltratada pelos primeiros patrões brasileiros. “Eram muitas horas trabalhadas. Às vezes, eu não podia parar nem para almoçar. Lembro que exigiam que eu tirasse as sujeiras do carpete com o cantinho da unha”, diz.

A par da situação, um amigo de infância a convidou para prestar serviços de limpeza em uma lanchonete em Connecticut. Trabalhava diariamente das 5h às 20h. Lá, conheceu o ex-marido, um brasileiro com cidadania norte-americana, de quem se divorciou no ano passado. Mas o casamento permitiu-lhe obter o green card.

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Faxina brasileira chamou atenção dos clientes

O então casal se mudou para Charlotte, na Carolina do Norte, onde ela voltou a atuar como ajudante de uma faxineira. A experiência a fez entender como funcionava o mecanismo de trabalho nos EUA.

Com o detalhismo da faxina brasileira, que vai além da superfície, não foi necessário muito tempo até que ela conquistasse a sua própria clientela na cidade. Em 2009, contava com 30 clientes fixos, limpando de 3 a 4 casas por dia. No ano seguinte, esse número dobrou.

Após rejeitar inúmeras indicações e perceber o sucesso do seu serviço, ela decidiu sair da parte operacional em 2011 e administrar o seu próprio negócio: a Fiv5 Star Cleaning.

Funciona assim: ao contratar os serviços da empresa, uma equipe de faxineiras profissionais vai até a residência do cliente para limpá-la. O preço depende do tamanho da casa e do tipo de serviço.

A limpeza regular gira em torno de US$ 150 a US$ 180 (R$ 746 a R$ 895). Já a profunda, de US$ 300 a US$ 500 (R$ 1,5 mil a R$ 2,5 mil).

Empresária mineira, Mila Garro fatura R$ 13 milhões com empresa de faxina nos EUA Foto: Melchi Castro

Conquistou primeiro milhão com três anos de operação

Em 2014, Mila Garro faturou o seu primeiro milhão de dólares – quase R$ 5 milhões na cotação atual. “Quando meu contador me mostrou, não acreditei. Ainda estava tentando aprender, e já tinha faturado dessa maneira. Isso me animou a aprender ainda mais”, recorda-se.

A empresa em Charlotte contava com 30 funcionárias em 2019, quando Mila se mudou para Miami com o ex-marido. Na cidade, abriu uma segunda unidade. Com as duas operações, o faturamento da Fiv5 Star Cleaning atingiu US$ 2,7 milhões em 2023, ou seja, ultrapassou R$ 13 milhões.

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Garro diz não saber exatamente quanto investiu no começo para abrir a empresa, mas afirma que “foi pouco”. “O dinheiro ia entrando e eu ia dando os passos, investindo em cursos e contratações, à medida que eu tivesse condições”, diz.

Ela estima que, ao longo de 12 anos, investiu cerca de US$ 100 mil (R$ 497 mil) na empresa.

As 45 faxineiras da Fiv5 Star Cleaning faturam entre US$ 600 e US$ 800 por semana (R$ 2,9 mil a 3,9 mil), segundo a proprietária. A companhia atende cerca de 60 a 65 clientes diariamente. São aproximadamente 800 clientes fixos atualmente.

A Fiv5 Star Cleaning é avaliada com 4,9 estrelas no Google. Há 276 comentários na página sobre a empresa. A maioria elogiam a qualidade da equipe e da limpeza minuciosa realizada pelas funcionárias.

Apenas cinco comentários foram negativos, avaliados com uma ou duas estrelas. Eles mencionam pressa das faxineiras na realização da limpeza, redução da qualidade do serviço e aumento dos preços.

Empresária dá cursos online sobre faxina nos EUA

Por ter encarado inúmeros desafios no início, a empresária Mila Garro começou a dar dicas sobre faxina e empreendedorismo nas suas redes sociais em 2019, especialmente para mulheres imigrantes nos Estados Unidos.

A experiência atraiu muitas dúvidas e a agradou tanto que, em 2021, resolveu ampliar e investir na iniciativa: mergulhou em cursos de marketing, reestruturou a sua conta no Instagram e, a partir daí, criou produtos digitais: mentorias, cursos, consultorias e material online.

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“No início, tive dificuldade. Fui atrás de muito estudo porque eu não sabia como fazer o contrato com a funcionária, que sistema usar, como vender meu serviço para o cliente, como trabalhar com marketing e fazer anúncios… só sabia fazer faxina. Fui de pouco a pouco, colocando em prática. Às vezes, dava certo, outras não…eram tentativas. Agora já tenho tudo isso para passar para as pessoas”, explica.

A Gold Company Experience, como batizou a empresa, oferece os seguintes pacotes:

  • Curso Cleaning 8k (US$ 500, R$ 2,5 mil): a empresária promete ensinar as pessoas a montar um negócio de limpeza “do zero” nos Estados Unidos, faturando US$ 8 mil por mês (R$ 39,8 mil). Entre os pontos abordados, estão desde informações sobre como abrir uma empresa no país; quais as licenças e produtos necessários para a faxina a como limpar uma casa adequadamente, ser produtiva e não esquecer de nada no momento da limpeza.
  • Kit 8k (US$ 119, R$ 592): é fornecido um pacote com um modelo de contrato já pronto para as faxineiras e a lista de toda a documentação necessária para organizar o seu negócio.
  • Mentoria Gold Company (US$ 2,5 mil, R$ 12,4 mil): um curso com duração de três meses, com aulas semanais. De acordo com Mila Garro, é mais aprofundado: são ensinados os 12 pilares que ela considera importante para o sucesso de uma empresa no ramo da limpeza. São aspectos relacionados a vendas, inteligência emocional e sistemas
  • Consultoria individual (US$ 3 mil, R$ 14,9 mil): é feita para a pessoa que está enfrentando um problema pontual. Nesse caso, Garro se propõe a montar uma reestruturação parcial ou completa da empresa.

Somando todos os cursos, mentorias e treinamentos, Mila Garro diz que formou 1.128 alunos até 2023 – 95% são moradores dos Estados Unidos e já atuantes no ramo da limpeza. Os produtos estão hospedados na plataforma digital brasileira Hotmart.

“Eu costumo dizer que a minha empresa me trouxe muita realização profissional e financeira. Mas foi no ensino que encontrei a minha paixão”, diz. A empresária também salienta que os resultados dependem da dedicação do aluno na aplicação prática dos aprendizados.

No dia 5 abril, a mineira comandará a segunda edição de um evento imersivo chamado “Gold Company Experience”. Com capacidade de receber até 750 pessoas, ele acontecerá em Miami, com duração de 12 horas.

O evento, com a participação de nomes como o youtuber Tiago Brunet, uma das principais referências em treinamento de líderes e espiritualidade, tem ingressos por US$ 453 (R$ 2.253).

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Empreender nos EUA pode ser vantajoso, mas exige preparação

O advogado de imigração João Mateus Loyola afirma que os Estados Unidos incentivam novos negócios com “taxas fiscais favoráveis”. De acordo com ele, pode ser interessante para brasileiros empreenderem nos Estados Unidos, uma vez que a taxa de imposto corporativo atual dos EUA é de 21%, inferior à média latino-americana de 28% a 35%.

A maioria dos estados do país também oferece incentivos ou facilidades para investidores estrangeiros, como a isenção de imposto estadual e crédito fiscal para novos mercados.

Por outro lado, Loyola chama atenção para a necessidade de conhecimento sobre a área em que deseja atuar antes de apostar no negócio. “Muitos empreendedores de primeira viagem optam por iniciar as atividades o quanto antes e acreditam que aprender ‘no caminho’ vai dar certo, mas muitas das vezes estão enganados”, diz.

Uma boa opção é se preparar antecipadamente, investindo em cursos com quem já tem um negócio estruturado no país.

Outro ponto de atenção é o cálculo dos custos da empresa. “A mão de obra americana não é algo muito barato”, exemplifica. Além disso, não basta ter conhecimento na área, é essencial se diferenciar no mercado para ter chance de fazer sucesso.

Em resumo, as suas principais dicas são: pesquisar qual é a melhor estrutura empresarial para o seu negócio, que vai trazer os melhores benefícios fiscais; entender as normas legais do local em que você planeja abrir o seu negócio; fazer uma pesquisa de mercado e ter um bom planejamento antes de iniciar qualquer atividade.

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