Fintechs crescem ao democratizar participação de pequenos investidores

Digitalização acelerada pela pandemia fez surgir novos negócios de investimentos menos tradicionais, como crowdfunding e criptomoedas; número de fintechs cresceu 67% em relação a 2020

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Por Jorge C. Carrasco

A pandemia ameaçou frear o desenvolvimento das startups brasileiras, mas, no meio da crise, as fintechs nacionais acabaram encontrando oportunidades inéditas para crescer no novo cenário global. A digitalização acelerada pelo período fez surgir novos negócios de investimentos menos tradicionais, como crowdfunding — financiamento coletivo — e criptomoedas, e até a maior democratização do acesso de pequenos investidores.

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De acordo com dados do recente relatório “2021 em Números: Ecossistema Brasileiro de Startups”, produzido pela Sling Hub, o Brasil conta atualmente com 1.670 fintechs, o que representa um crescimento de 67% no número de empresas do setor em relação a 2020. Nesse mesmo ano, as fintechs nacionais adquiriram um valor de captação de investimentos total de cerca de 1,6 bilhão de dólares (ou R$ 8,9 bi). Já em 2021, esse valor aumentou em 143%, chegando a atingir 3,8 bilhões de dólares (ou R$ 21 bi).

“O rápido processo de digitalização que se deu nos últimos anos com a pandemia, fundamentalmente no mundo dos investimentos, fez com que as fintechs pudessem oferecer oportunidades novas para um público que não tinha acesso até então a esse tipo de soluções financeiras. As novas plataformas digitais das fintechs que foram surgindo abriram as portas para que todas as pessoas, independentemente da sua renda, pudessem ter a chance de investir e de gerir suas finanças como anteriormente só podiam aqueles que tinham uma consultoria especializada”, explica Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs e sócio fundador da SMU Investimentos.

Tito Gusmão, CEO e fundador da corretora de investimentos Warren. Foto: Omar Freitas

Para Perez, outro fator que potencializaram o crescimento exponencial das fintechs no País foi o surgimento de startups que inovaram em torno das novas tendências de digitalização para ofertar serviços diferenciados, como são os investimentos menos tradicionais de crowdfunding e de criptomoedas.

“Antigamente, para você investir em startups, você tinha que ter um capital de pelo menos de R$50 mil a R$100 mil disponíveis. Hoje, com plataformas de crowdfunding, por exemplo, você consegue acessar esse tipo de investimento com muito menos. Você não precisa ser uma pessoa muito rica para investir em startups”, afirmou Perez.

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Durante a pandemia, com o aumento do capital disponível proporcionado pelos investimentos, as fintechs nacionais aumentaram também, em média, 41% de seus funcionários, passando de 68 mil trabalhadores em 2020 a cerca de 96 mil em 2021. A ampliação desses negócios e o aumento das contratações nos novos modelos híbrido e remoto, permitiram às fintechs passar a contratar mais talentos de diversas regiões do país.

Uma das fintechs de investimentos que mais cresceu na pandemia foi a Warren. Fundada em 2017, a corretora de investimentos e gestora viu multiplicar o número de integrantes na sua equipe profissional e o valor do patrimônio gestionado nos últimos dois anos — que, de acordo com Tito Gusmão, CEO e fundador da Warren, foram anos bastante complexos e de muito aprendizado. Até o começo de 2021, a empresa possuía cerca de R$ 3 bilhões de patrimônio sob gestão e, atualmente, segundo Gusmão, já gestiona R$ 20 bilhões. Além disso, 80% da equipe atual da empresa — que tem 650 funcionários — foi contratada durante a pandemia, o que para o CEO significou um grande passo à frente, mas também um grande desafio.

“Para a construção de produto e cultura da empresa esse processo de crescimento na pandemia é muito desafiador, principalmente se a empresa é muito jovem. Então, nós sofremos bastante por não estarmos todos próximos, debaixo do mesmo teto, mas vencemos a batalha. Em termos de crescimento foi sensacional para a gente”, diz Gusmão.

Atualmente, a Warren planeja perpetuar o modelo de trabalho híbrido para seus colaboradores, adotando reuniões presenciais de toda a equipe apenas uma vez a cada dois meses para discutir os assuntos mais importantes do futuro da fintech. 

A Stake, plataforma que permite a pessoas de diversos países investir na bolsa americana também é uma das fintechs que mais tem crescido no meio da crise sanitária mundial. Fundada na Austrália em 2016, ela entrou no mercado brasileiro em 2020 e atualmente tem mais de 40 mil clientes no País. Seu foco é o público de investidores pessoa física e, de acordo com Paulo Kulikovsky, COO da empresa, um dos fatores que mais impulsionou seu crescimento nos últimos anos foi o acesso fácil e rápido que a plataforma oferece para quem quer investir no mercado dos Estados Unidos. 

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“A nossa empresa nasceu com o objetivo de democratizar os investimentos. Sabíamos que, para muitas pessoas, investir nos Estados Unidos era algo muito difícil, então a nossa ideia foi criar uma solução simples para que qualquer pessoa com acesso a um aplicativo de celular pudesse ter a escolha de colocar seus recursos em outros ativos", explica.

Paulo Kulikovsky, COO daStake, plataforma que permite a pessoas de diversos países investir na bolsa americana. Foto: Yuri Andreosi

A empresa possui operações no Reino Unido, na Nova Zelândia e na Austrália. A maioria dos investidores da Stake, de acordo com Kulikovsky, têm em média entre 25 e 34 anos. Apenas no quatro trimestre de 2021, a startup viu o número de clientes aumentar 90% em relação ao terceiro trimestre.Em maio do ano passado a fintech também captou mais de R$ 210 milhões em uma rodada de investimentos da Série A para expandir seu negócio globalmente. Com esses recursos, a empresa projeta um crescimento de cerca de 150% para a operação brasileira ainda em 2022. 

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Democratização de investimentos

Nessa mesma direção, a SproutFi procura conquistar o público brasileiro com uma plataforma inovadora de investimentos. A premissa da fintech é provocadora: quer ser uma rede social de investimentos na América Latina, sem taxas e sem saldo mínimo, e com a possibilidade de acessar os investimentos em ativos do mercado dos Estados Unidos. 

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Para tirar do papel essa ideia, Ruben Guerrero, o atual CEO e Fundador da SproutFi decidiu juntar-se com Tyler Richie, CTO da empresa, que também atuou entre 2014 e 2017 como um dos primeiros cientistas de dados e engenheiros de machine learning colaboradores do Nubank. Ambos já conheciam o mercado brasileiro e decidiram lançar no País uma fintech que solucionasse os problemas dos brasileiros que desejam começar a investir no mercado norte-americano.  Para Guerrero, que é natural da República Dominicana, mas viveu durante muito tempo nos Estados Unidos, fundar uma iniciativa como a SproutFi era essencial para contribuir com a mudança que ele sempre quis ver no continente latinoamericano. 

“Crescendo em um lar latino, me causou uma grande impressão o fato óbvio de que as pessoas que tinham acesso a recursos continuavam avançando na vida, mas as pessoas que não tinham sequer acesso à informação adequada de como poupar ou como investir iam ficando para trás. Por isso, eu decidi que queria criar uma plataforma em que as pessoas pudessem não apenas investir de forma simples no mercado norte-americano, mas também compartilhar ideias de investimentos, dúvidas, problemas e até soluções que geram impacto. Eu queria criar uma comunidade de investidores”, conta.

No ano passado, a fintech recebeu um aporte de R$30 milhões para impulsionar o início da sua operação na América Latina e, de acordo com Guerrero, o objetivo é oferecer o acesso para os clientes regionais a mais de 4 mil ações dos Estados Unidos e fomentar o uso da plataforma como uma comunidade integrada para milhares de pessoas ainda em 2022. 

“É possível investir sem ser rico”, afirmou Guerrero. “E o que estamos construindo pode ajudar muitas pessoas a encontrar a melhor forma de avançar na vida, de acordo com seus objetivos, superando todas barreiras”.

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