Especial para o Estado
Para tentar arrefecer os prejuízos de micro e pequenas empresas durante a pandemia do novo coronavírus, tradicionais instituições e fintechs (startups financeiras) têm flexibilizado as regras para emprestar dinheiro. Redução dos juros e aumento da carência são algumas das facilidades.
A Caixa anunciou a redução de juros em até 45% nas linhas de crédito para apoio às micro e pequenas empresas, com taxas a partir de 0,57% ao mês. O banco público dá carência de até 60 dias nas operações parceladas de capital de giro e renegociação, e até seis meses de carência para empresas que atuam nos setores de comércio e prestação de serviços. Além disso, são oferecidas linhas de aquisição de máquinas e equipamentos, com taxas reduzidas e até cinco anos para pagamento.
Já o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também anunciou ampliação do crédito para as MPMEs (micro, pequenas e médias empresas) de R$ 10 milhões para R$ 70 milhões, buscando aumentar a capacidade de capital de giro do segmento. Os empréstimos terão carência de 24 meses e prazo de cinco anos para pagamento.
No Banco do Povo Paulista, a linha de microcrédito teve redução de juros de 1% para 0,35% ao mês. O prazo para pagamento passou de 24 para 36 meses, já incluindo o prazo de carência, que aumentou de 60 para 90 dias. Pedidos de concessão de crédito sem avalista passam de R$ 1 mil para R$ 3 mil. As linhas de crédito vão de R$ 200 até R$ 20 mil.
Para além de instituições públicas, a ajuda financeira também está vindo de startups, com ampliação do limite de crédito e extensão do prazo de pagamento, além de carência para começar a pagar a dívida. A IOUU, plataforma de empréstimo coletivo, anunciou que vai diminuir as taxas de juros para dar fôlego aos pequenos negócios. A variação agora será de 1% a 3,6% ao mês. Antes, as taxas variavam, mensalmente, de 1,3% a 3,9%.
“Nos últimos dias, devido à crise, tivemos um aumento de solicitações de empréstimo de 100%”, diz Bruno Sayão, CEO da IOUU. A empresa também dará carência de 90 dias para que se comece a pagar os empréstimos, que podem ser quitados em até três anos. Outra opção é o empréstimo bullet, modelo no qual o montante principal acrescido de juros deve ser pago apenas no final do contrato do financiamento.
O empresário Marcelo Haddad, de São José do Rio Preto (SP), precisou de um financiamento de quase R$ 15 mil depois de ver o faturamento do seu negócio - um trailer de comida árabe - cair 70% na última semana. Além de reduzir o quadro de funcionários de cinco para três pessoas, a empresa está intensificando as vendas por delivery.
“O motivo de procurar um financiamento é a necessidade de manter o negócio funcionando, saldar as dívidas de curto e médio prazos, os boletos, o aluguel. Então, eu estou pegando emprestado esse dinheiro para tentar reforçar meu delivery e aumentar meu faturamento”, diz Marcelo.
A fintech BizCapital também aumentou o limite de crédito de R$ 150 mil para R$ 200 mil, e a carência passa a ser de 50 dias (não mais 30). Em relação aos juros, a startup também reduziu as taxas, que agora variam de 1,99% a 6,49% ao mês, explica o sócio-fundador da BizCapital Francisco Ferreira.
“Eu imagino que a gente ainda vai fazer outras mudanças. Mas o que a gente entende é que, na atual situação, em que você tem vários negócios com redução da receita significativa, a pessoa precisa de um prazo para poder ter um retorno.”
Cuidados necessários
Especialistas destacam a importância das medidas de facilitar os financiamentos, mas também ressaltam a importância de não se precipitar. A principal recomendação é avaliar a situação da empresa antes de se comprometer com dívidas.
O consultor do Sebrae-SP Felipe Chiconato recomenda cautela já que ainda não dá para afirmar até quando a crise vai se estender. “O crédito mal tomado inviabiliza o negócio. O que temos aconselhado é a redução de custo, negociação com credores para maiores prazos, revezamento, férias, descanso de banco de horas para quem possuir, buscar inovação e adequar sua forma de atuar ao novo contexto”, diz Felipe.
O Sebrae conta com um Guia de Gestão Financeira e um infográfico que buscam apoiar os donos de pequenos negócios nesse momento de instabilidade econômica. O documento traz orientações sobre como os donos de pequenas empresas podem realizar o controle das finanças mais preciso diante de complicações nos negócios no atual cenário, que envolvem redução no movimento de clientes, faturamento menor, redução na produção, dentre outros.
O professor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP) Henrique Castro aconselha que, se houver folga financeira no caixa, a empresa deve utilizá-lo. “Mas, se não for possível, é melhor tomar um desses empréstimos do que utilizar saldo de contas garantidas, que têm taxas muito mais elevadas.”
Henrique sublinha que, na hora de tomar um empréstimo, a pessoa deve levar em conta a taxa de juros que está sendo cobrada, se está sendo oferecida alguma carência de pagamento e o prazo para a quitação do empréstimo.
“A carência é algo muito importante, pois em um momento como o atual, de muita incerteza, é difícil saber quando os fluxos de caixa vão começar a entrar novamente”, frisa.
Onde fazer o empréstimo
- BizCapital
Prazo para pagar: 24 mesesCarência para começar a pagar: 50 diasJuros: 1,99% a 6,49% / mêsCrédito: R$ 5 mil a R$ 200 mil
- Firgun
Prazo: 36 mesesCarência: 60 diasJuros: até 1%Crédito: R$ 500 a R$ 21 mil
- IOUU
Prazo: 36 mesesCarência: 90 diasJuros: 1,3% a 3.9% / mêsCrédito: R$ 1 mil a R$ 500 mil
- Kavod Lending
Prazo: 18 a 36 mesesCarência: 90 diasJuros: 1% a 3% / mêsCrédito: R$ 100 mil a R$ 1 milhão
- Nexoos
Prazo: até 24 mesesCarência: 90 diasJuros: 1,14% a 4,19% / mêsCrédito: R$ 15 mil a R$ 500 mil
- Tutu Digital
Prazo: 6 a 24 mesesCarência: 60 diasJuros: a partir de 1,9% / mêsCrédito: R$ 1 mil a R$ 100 mil
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