O empreendedor Rafael Soares, de 41 anos, só teve uma experiência como CLT na vida, mas logo percebeu que a rotina exaustiva não era com o que ele sonhava. A solução foi abrir o próprio negócio.
Ele investiu em cinco empresas diferentes em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), mas todas deram errado em algum momento. Na época em que era dono de um bar, Soares teve que arcar com o prejuízo do celular de um cliente que estragou enquanto carregava no balcão.
Para evitar que o problema se repetisse, montou um totem de madeira, com cabos de carregadores e uma tela que exibia o cardápio, em 2011. O modelo deu origem à Santa Carga, que vendeu as primeiras franquias em 2021 e já chegou à marca de 865 unidades no Brasil.
De ambulante em Copacabana a empreendedor
Soares nasceu e cresceu em Duque de Caxias, com a irmã e os pais. “Quando o meu pai estava desempregado, a gente tinha que dar um jeito de viver. Vendia sanduíche, caldo de cana e até peixe na feira”, afirma.
O empreendedor perdeu o pai quando tinha apenas 16 anos. Para ajudar no sustento da mãe e da irmã, Soares começou a vender empadão na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.
Ele conta que chegou a trabalhar com carteira assinada como auxiliar de escritório, mas percebeu que um emprego tradicional não o levaria aonde queria chegar. O caminho foi empreender.

Como já tinha experiência com computadores, optou por uma loja de reparos em equipamentos de informática, em 2003. “O negócio era em frente a minha casa. Só tinha uma mesinha e duas cadeiras”, diz.
O ex-chefe do pai de Soares viu potencial na empresa e investiu R$ 30 mil para criar a Via Digital Informática. Eles chegaram a ter cinco lojas em Duque de Caxias, mas quebraram em menos de um ano, devido à falta de gestão financeira.
“Essa queda foi a que mais me marcou”, comenta Soares. “O empreendedor que não tem maturidade financeira não acredita que está quebrando. Hoje é fácil falar isso, mas, na época, eu não fazia a menor ideia”.
Empreendeu com cinco negócios antes da Santa Carga
Depois de fechar a Via Digital Informática, Soares começou a fazer reparos em computadores para lan houses. Em 2007, ele decidiu voltar a empreender na área e chegou a abrir cinco lan houses na Baixada Fluminense, com a ajuda de sócios.
Mas, no final dos anos 2000, o caxiense desistiu da sociedade. Ele conta que percebeu que a chegada da internet banda larga na casa dos brasileiros prejudicaria esses estabelecimentos e preferiu sair antes de quebrar de novo.
Soares ainda empreendeu com campo de paintball e exportação de açaí para a ilha de Curaçau, no Caribe. “Eu tive muitos negócios da moda e aprendi que esses modelos têm um tempo de vida muito curto”, afirma.
Em busca de um investimento mais seguro, ele apostou no bar Dialeto Carioca, em 2011. O estabelecimento ficava próximo a uma universidade de Duque de Caxias e atraia estudantes, que pediam para carregar o celular. Mas esse costume trouxe um prejuízo para Soares.
“O bar estava cheio e um garçom derrubou água em cima do iPhone de um cliente, sem querer, mas eu tive que pagar”, conta. “Eu não queria passar por isso de novo, mas não podia deixar de carregar os celulares. Então fiz uma máquina de madeira, coloquei só uma tela, onde passava o cardápio, e alguns cabos de carregadores para as pessoas usarem”.
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Vendeu o bar para investir na Santa Carga
O que Soares não imaginava era que as pessoas iam querer comprar a máquina. Ao começar a receber propostas, ele foi estudar o assunto, trocou o cardápio que aparecia na tela por anúncios de empresas da região e montou um site para a marca. O nome Santa Carga foi inspirado em uma cachaça.
O empreendedor vendeu o bar em 2013 por R$ 300 mil e investiu o valor na nova empresa. Ele conta que o primeiro grande cliente que teve foi a Hyundai, que comprou 300 totens para concessionárias do Rio de Janeiro. Na época, ele também passou a participar de eventos.
Em 2019, Soares decidiu entrar no mundo das franquias. “Para mim, a melhor forma de ter uma expansão rápida e sustentável é por meio do franchising”, afirma. Antes de entrar de cabeça no modelo de negócio, ele convidou um ex-colaborador para ser o primeiro franqueado.
“Essa etapa foi fundamental, porque ele me ajudou a melhorar o produto”, diz. Os totens passaram por diversas modificações. A estrutura agora é feita com alumínio, tem uma tela maior, oferece Wi-Fi gratuito para os usuários, exibe notícias entre os anúncios, pode ser operada a distância e é produzida em uma fábrica própria da Santa Carga, em Duque de Caxias.
As franquias foram oficialmente lançadas em 2020, mas Soares só conseguiu negociar as primeiras unidades no ano seguinte. O processo de expansão começou a se acelerar em 2022, e a Santa Carga chegou a 865 unidades em 2025. O faturamento não foi revelado.
Como os usuários não pagam nada para usar os totens, o franqueado só lucra com os anúncios e é o responsável por mapear empresas que possam ter interesse na publicidade. O negócio é instalado em comércios, como restaurantes e lojas, que cedem o espaço e a energia elétrica em troca de publicidade e gestão de WiFi.
Soares quer ter a maior holding de microfranquias do País
A meta de Soares a longo prazo é ter a maior holding de microfranquias - que têm investimento inicial de até R$ 135 mil - do Brasil. Para chegar lá, ele sabe que precisa adicionar outras marcas ao catálogo da empresa.
A primeira novidade foi a Vinho24h, uma adega que funciona sozinha, lançada neste ano. Ele conta que teve a ideia depois de ficar sem vinho para beber com os amigos em casa. “A entrega ia demorar e no mercado do condomínio havia poucos rótulos, com um preço alto. Pensei que seria ótimo ter opções por um valor fixo a um elevador de distância”, explica.
Os franqueados faturam com a venda dos vinhos, assinaturas do clube do vinho e exibição de anúncios. A nova empresa tem 10 unidades em operação. O objetivo do empreendedor é chegar a mil unidades da Santa Carga e 60 da Vinho24h até o fim de 2025. “Quero trazer mais quatro ou cinco marcas, que sejam líderes do seu segmento”, conclui.
Veja os dados das franquias da Santa Carga e Vinho24h
Santa Carga
- Investimento inicial: R$ 19.900
- Faturamento médio mensal: R$ 8.316
- Lucro médio mensal: R$ 7.940,10
- Prazo de retorno: a partir de 8 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: R$ 199 ou 5% do faturamento
- Número de unidades em operação: 865
Vinho24h
- Investimento inicial: R$ 29.900
- Faturamento médio mensal: R$ 11.482 (com 6 vendas por dia + 5 anunciantes)
- Lucro médio mensal: R$ 10.885
- Prazo de retorno: a partir de 14 meses
- Prazo de contrato: 5 anos
- Royalties/mês: R$ 597
- Número de unidades em operação: 10
Avaliação dos consumidores
A Santa Carga recebeu uma classificação média de 5 estrelas no Google, com 12 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários positivos elogiam a personalização e o acabamentos dos totens. Não há avaliações negativas.
Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
No site Reclame Aqui, a empresa não recebeu reclamações.
Franquias em casa são baratas, mas cotidiano pode atrapalhar
As franquias que funcionam de casa são uma boa opção para quem quer começar a empreender, mas não tem muito dinheiro para investir.
O coordenador de Mercado do Sebrae-RJ, Glauco Nunes, afirma que a flexibilidade de horários e o custo operacional reduzido também tornam o modelo atrativo.
“Franquias são negócios que já foram testados. O empreendedor começa a trabalhar com suporte e um nome consolidado no mercado, o foco será aumentar a sua cartela de clientes”, explica Nunes.
Por outro lado, um dos principais desafios é se concentrar na gestão da empresa e não ser atrapalhado pelo dia a dia doméstico.
O especialista aponta ainda que as franquias home based costumam ser mais simples e ter uma capacidade de expansão pequena.
Para saber qual é a melhor opção, ele recomenda que o empresário estude a fundo a marca antes de assinar o contrato. “É importante analisar todos os itens do contrato, esclarecer qualquer dúvida e saber quanto tempo o negócio leva para atingir o ponto de equilíbrio”, afirma.
O planejamento financeiro é determinante para qualquer empreendimento, mas, ao investir em uma franquia, é fundamental colocar na ponta do lápis todos os gastos essenciais e o capital de giro que será necessário para manter a empresa viva nos primeiros meses.
A dica do coordenador para conseguir se dedicar é separar um espaço dentro de casa que funcione como um escritório, onde as pendências da marca serão resolvidas. Ele também destaca a importância de diferenciar as contas da pessoa física e da pessoa jurídica.
“O negócio só gera lucro porque consome recursos. Tem que pagar impostos, contas, taxas e funcionários, se tiver. O ideal é que o empreendedor tenha uma conta pessoal e outra conta para a empresa dele”, conclui.