MARINGÁ (PR) - A franquia de sorveterias paranaense Gela Boca apostou em um projeto diferente para otimizar as operações e atingir mais locais de venda. Sua primeira unidade autônoma funciona basicamente “sozinha”, com todo o processo de entrada na loja, compra e pagamento do produto, sendo coordenado pelo cliente por meio do celular.
Lançado no final de julho em Maringá (PR), cidade-sede da empresa, o modelo foi pensado para aumentar a capilaridade e permitir ao franqueado ter mais pontos de venda, além de uma atuação mais focada na logística e menos na gestão de pessoas.
“A gente passa na loja duas vezes por dia, na parte da manhã e da noite, para fazer a reposição dos produtos e a limpeza da loja. Somente no domingo, na parte da tarde, que um funcionário fica aqui fazendo a reposição constante dos produtos, por ser o horário de maior movimento”, explica Thiago Ramalho, CEO da Gela Boca.
Ele destaca que o franqueado que operar com a loja autônoma ainda terá todo o trabalho de logística para manter as operações funcionando, mas afirma que o modelo permitiria que ele tivesse mais operações sob o seu controle operando simultaneamente.
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Especialistas ouvidos pelo Estadão reforçam que, apesar de as franquias serem autônomas, o funcionamento delas está diretamente ligado à dedicação do franqueado. Mesmo sem ter a necessidade de um atendente no local, as unidades necessitam de um grande trabalho de logística e gestão para terem sucesso.
Processo é todo comandando pelo cliente
Desde a abertura da porta, até a saída do local, todo o processo é comandado pelo cliente. Ele baixa o aplicativo da Gela Boca, faz o seu cadastro e insere os dados do cartão de crédito, que são utilizados para o pagamento dos produtos e também como garantia no caso de furtos.
Com tudo pronto, basta escanear o QR code na porta, que a entrada na loja é permitida. Lá dentro, vários freezers disponibilizam opções de sorvetes de pote, picolés, casquinhas, além de bebidas geladas. Basta escanear o QR code do produto pelo celular e efetuar o pagamento. Um interfone no local permite falar com central de atendimento da marca, em caso de algum problema.
A unidade contém diversas câmeras, que acompanham o usuário dentro do estabelecimento. O sistema, que ainda está sendo aprimorado com base na utilização dos clientes, analisa quem está na loja e detecta qual produto foi pego. Assim, é possível fazer a cobrança posteriormente em caso de furto.
O modelo, que ainda está em fase de teste, pode ser alterado posteriormente a depender das necessidades de cada operação. Pode contar com atendente em momentos de alto volume de vendas ou ficar localizado em pontos com menor chance de depredação, por exemplo.
Tecnologia permite otimizar as operações
Ramalho destaca que o cadastro dos usuários na plataforma abre um leque de possibilidades para a empresa. “Tendo os dados, no meio do dia, ao perceber que certas lojas estão lotadas, posso disparar um cupom para ser utilizado em uma unidade próxima que esteja vazia”, afirma Ramalho.
A loja autônoma também permite que a empresa atenda o público em horários nos quais normalmente não conseguiria operar. Na noite anterior à conversa com a reportagem, a loja fez duas vendas por volta das 3h da manhã.
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Marca nasceu como sorveteria da família
A Gela Boca foi fundada em 2000, pelo pai de Ramalho, como uma sorveteria local de Maringá, e abriu as primeiras unidades franqueadas cerca de dez anos depois na mesma cidade. A partir de 2015 a empresa se expandiu para o interior de São Paulo e depois para Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Hoje, são mais de 100 franquias, com diferentes tamanhos e modelos. A franquia do modelo autônomo, por exemplo, tem investimento inicial de cerca de R$ 120 mil (mais detalhes abaixo).
Com fábricas próprias e preços atrativos para os grandes centros, a ideia da Gela Boca é oferecer um produto intermediário entre as empresas de produção de sorvetes “direto de fábrica”, como a Oggi, e das opções mais personalizadas, como a Chiquinho Sorvetes.
“Nós tentamos juntar as duas coisas. Você tem lojas com a opção do banana split tradicional, com toda a experiência de consumo no local, onde também se vende um picolé simples, de R$ 2″, afirma Ramalho.
E apesar de todo o planejamento para a expansão da marca e de suas diferentes unidades, a ideia de abrir uma sorveteria autônoma surgiu por um acaso. Ao se encontrar em um café com um dos franqueados da Gela Boca para discutir a compra de um carro usado do parceiro de negócios, Ramalho ficou sabendo que o franqueado estava empreendendo em uma startup de automação para atendimento.
“Vamos fazer, eu topo”, disse Ramalho, enquanto discutiam a ideia de implementar a tecnologia em uma unidade piloto da Gela Boca. “Mas você vai ter que investir comigo na loja, se você acredita no projeto”, disse para o parceiro, que aceitou logo em seguida.
O resultado saiu melhor que o planejado. A nova unidade faturou cerca de três vezes o que havia sido estimado para todo primeiro mês de vendas. Curiosamente, porém, toda a conversa que deu origem ao projeto se deu em um café e não em uma sorveteria. Quem sabe na próxima.
Dados de investimento da franquia
- Investimento inicial: R$ 120 mil
- Royalties/mês: R$ 1 mil
- Faturamento: R$ 40 mil
- Lucro: 10% do faturamento
- Retorno de investimento: cerca de 30 meses
Os dados se referem ao modelo de loja autônoma da Gela Boca. Investimento inicial já inclui taxa de franquia, estoque inicial e a locação do equipamento para a venda.
A empresa possui ainda outros modelos de loja com atendentes. Os modelos têm investimento inicial a partir de R$ 199 mil e faturamento de R$ 50 mil/mês e vão até opções de lojas grandes, que chegam a R$ 1,2 milhão de investimento inicial e faturamento de R$ 150 mil/mês.
Os dados citados neste texto foram coletados originalmente em agosto de 2023.
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