A disparidade de remuneração entre donos e donas de negócios no Brasil sofreu uma leve queda, especialmente quando comparada com o último ano antes da pandemia - 2019.
Neste Dia do Empreendedorismo Feminino, comemorado nesta terça-feira, 19, o Estadão traz dicas para que mais mulheres possam ter acesso à informação e empreender.
Em dezembro daquele ano, homens ganhavam 32% mais, em média. Agora, a diferença está em 30% - R$ 3,43 mil para eles e R$ 2,63 mil para elas. Vale ressaltar que, sim, houve um recuo entre os ganhos, porém, como é possível perceber, o abismo e o caminho para uma redução mais relevante ainda são bem desafiadores.
Os dados são de um levantamento do Sebrae, obtido com exclusividade pelo Estadão, com informações da PNAD Contínua, do IBGE.
O que pode explicar essa diferença?
A gerente de empreendedorismo feminino, diversidade e inclusão do Sebrae Nacional, Geórgia Nunes, ressalta que este cenário não é diferente do que se vê no “mundo CLT”, por exemplo. A disparidade salarial é uma realidade tanto para quem trabalha como empregado quanto para empreendedoras.
E ela explica que uma coisa que precisa ser destacada é que não existe uma predisposição feminina - ou masculina - a nada. Porém, por crenças infundadas e preconceitos presentes estruturalmente, muitas vezes há obstáculos maiores para mulheres.
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Agora, uma dificuldade maior que a especialista destaca é no quesito acesso ao crédito - recursos financeiros. Segundo ela, há casos de mulheres pagando juros mais altos. “Além de questionamentos que não são feitos aos homens, como: ‘seu marido sabe que você está aqui pedindo esse empréstimo’ ou ‘você tem o seu próprio negócio, mas você é mãe, quem cuida dos seus filhos?’”, explica.
Nunes conclui que o empreendedorismo, assim como o ambiente de trabalho, ainda não é um ambiente receptivo para as mães, que encontram inúmeras dificuldades para retornar a uma jornada de 8 horas, por exemplo. E, no “mundo CLT”, nem todas as empresas oferecem essa flexibilização.
“Acontece que, em meio a este contexto, o mercado vai se fechando para essas mulheres e uma das principais consequências é justamente o empreendedorismo por necessidade - que não envolve planejamento, preparação nem estudo de viabilidade. Ela busca se adaptar a esse mundo do empreendedorismo. E a mola propulsora é o filho, que precisa sustentar e arrumar tempo para levar para a escola.”
Como essa disparidade pode ser reduzida?
Nunes, do Sebrae, ressalta a necessidade da criação de políticas públicas, para começar. Existe uma redução a ser considerada, que são estes dois pontos porcentuais, mas o abismo ainda é muito grande, com um longo caminho pela frente. “Nós estamos ampliando os espaços em áreas que antes não se viam muitas mulheres empreendendo. Isso é um avanço, mas é um avanço ainda muito pouco significativo e que a gente precisa trabalhar”, fala.
A especialista conclui que o foco deve ser sempre levar informação, para que mulheres percebam que as dificuldades que estão enfrentando podem ser melhor solucionadas com bons direcionamentos e ajuda especializada, como é o caso do próprio Sebrae, que oferece cursos e atendimentos ao empreendedor de maneira gratuita. “Como que a gente muda esse cenário? A gente precisa passar por uma mudança cultural também, que é mais demorada.”
Diferenças por região
Além dessa diferença média de cerca de R$ 800 entre os gêneros, é possível perceber também, na mesma pesquisa, que a região também faz muita diferença. No Distrito Federal, por exemplo, o rendimento de donos de negócios - sem fazer distinção por gênero neste caso - é cerca de três vezes maior do que no Maranhão, que detém o menor “salário” para donos de negócios (R$ 4,74 mil ante R$ 1,54 mil).
O Centro-Oeste também é a região com a maior renda para donos de negócios - R$ 4,12 mil, em média. O Nordeste tem a pior, menos da metade da primeira colocada - R$ 1,91 mil.
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