Um local de arquitetura agradável, excelente conexão de internet, que favorece a criatividade e o networking, que tem estrutura para receber clientes para reuniões ou até mesmo futuros investidores, bem localizado e, por fim, que não demanda esforços com manutenção e limpeza.
Esse é o escritório dos sonhos para empreendedores em início de jornada (quando ainda estão sozinhos ou com poucos funcionários) ou mesmo para aqueles que precisam se dedicar às estratégias de escala da empresa. A solução que reúne todos os atributos acima – e ainda incorpora a happy hour como atividade básica durante a semana – são os coworkings, que se espalham pelo País a passos largos. De acordo com o censo realizado pelo Coworking Brasil, site que reúne informações sobre o mercado, o País fechou o ano de 2018 com 1.194 espaços – e 214 mil pessoas circulando diariamente por eles.
Segundo o presidente da Associação Nacional de Coworking e Escritórios Virtuais (Ancev), Ernísio Dias, o boom dos escritórios compartilhados aconteceu nos anos de 2016 e 2017, com o aumento de 40% na abertura de espaços. “Nos anos 1990, já tínhamos por aqui os chamados business centers, prédios de salas comerciais e que também ofereciam o serviço de escritório virtual (endereço fiscal e atendimento telefônico para empresas que não estão alocadas fisicamente). A partir de 2005, o conceito de coworking foi difundido e esses lugares tiveram de se adequar.” Dias ainda diz que, como modelo de negócio, o espaço deve trabalhar com um mix de serviços: escritório virtual, salas privativas e espaço compartilhado.
Do ponto de vista do cliente, o coworker chancela a afirmação do presidente da Ancev. Segundo o censo do Coworking Brasil, que entrevistou 578 pessoas em todo o País, 36% usam o modelo de estações rotativas de trabalho, 29% usam mesas fixas em ambientes compartilhados e 28% optam pelas salas privativas. Entre as empresas, 36% têm somente uma pessoa e 34% são formadas por até cinco funcionários. Sobre o networking, 33% dos entrevistados já foram contratados para um projeto por alguém que conheceu no coworking, e 73% disseram ter aprendido algo novo com os colegas de escritório.
Com o objetivo de fazer uma curadoria dos espaços da capital paulista e listar os principais serviços e estrutura oferecidos, o Estadão PME reuniu 247 endereços no Guia do Coworking Estadão PME - no lançamento do buscador, em maio, eram 230 espaços; em agosto de 2019, adicionamos 17 outras unidades. No serviço online, é possível achar espaços de acordo com endereço, estação do metrô, distância a pé da estação, se tem ou não bicicletário, sala de reunião, entre outras facilidades. Neste caderno, confira alguns dos destaques visitados pela reportagem.
Coworking engatinha no franchising
Mesmo com o crescente número de coworkings no País, o modelo de negócio ainda não mostrou a que veio quando o tema é franquear marcas. Atualmente, apenas uma das unidades mapeadas pelo Estadão PME em São Paulo é associada da Associação Brasileira de Franchising (ABF), a My Place Office. Na ABF está também a Ôshi, com franquia em Campinas e outras cidades, mas sem escritórios na capital paulista.
Para a consultora e especialista em franchising Ana Vecchi, apesar do movimento tímido, as marcas de coworking são franqueáveis. “Qualquer negócio que tenha histórico de venda e de faturamento pode se tornar uma franquia. Porém, sabemos que esse modelo requer um investimento maior e que, por isso, ele não se tornará moda, por exemplo”, diz.
A rede My Place Office, inaugurada em 2010, abriu o modelo para franquia em 2017, após identificar o boom do mercado. Atualmente, são 12 franqueados com unidades em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Florianópolis e Vila Velha (ES). A taxa de franquia custa R$ 40 mil e não inclui o valor da estrutura para montar o espaço (de no mínimo 60 m²), estimado em R$ 80 mil. O retorno do valor investido é de 24 meses.
“Oferecemos treinamento e suporte para que o franqueado tenha condições de tocar o negócio sozinho após três meses, sem depender tanto da rede. Temos uma supervisora para acompanhar os franqueados”, diz a gerente de novos negócios da My Place, Daniele Lopes.
O presidente da Associação Nacional de Coworking e Escritórios Virtuais (Ancev), Ernísio Dias, acredita, no entanto, que o modelo não é adequado para franquia. “Não há segredos de gestão ou tecnologia na administração de um coworking, fatores importantes no franchising. O importante é saber atender o público. As taxas de franquias são muito altas para um franqueado com espaço pequeno. E, para quem tem um local grande, não compensa ser franquia. Pode ter a própria marca.”
Para a consultora Ana Vecchi, é indispensável trabalhar o conceito da marca para que o modelo funcione no franchising. “A prática do compartilhar, o networking, a probabilidade de fazer negócios com outras pessoas contam mais do que o café de graça”, acredita.
* Conhece algum coworking que não está aqui? Tem alguma história para nos sugerir? Escreva para a gente: pme@estadao.com
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