De miçanga a cristal: Mãe transforma hobby com filho em negócio de joias e fatura R$ 150 mil

Empreendedora deixou trabalho como consultora de negócios para investir em marca própria com peças artesanais inspiradas no mar do Rio de Janeiro

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Foto do author Adele Robichez

A carioca Bianca Santini, 46, começou a fazer pulseiras com o filho Joaquim, com então 6 anos, como forma de passar o tempo durante a pandemia de 2020. Aos poucos, elásticos e miçangas viraram metais, cristais e pérolas. Assim nasceu a Mar Joias em 2022, marca de joias artesanais.

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A ideia de transformar o passatempo um negócio se deu quando Santini se isolou por uma semana no seu quarto, infectada com coronavírus. “Montei toda a ideia da Mar Joias nesse tempo. Pintei o logotipo, elaborei o conceito da marca, mas não pensava que se tornaria a minha principal atividade”, diz.

Formada em economia, a empreendedora trabalhou durante a pandemia prestando consultorias de negócios. Ela tem 20 anos de experiência com varejo, tendo trabalhado com a gestão de franquias de lanchonete a lojas de calçados, cosméticos e semijoias.

Bianca Santini, fundadora da Mar Joias Foto: Arquivo Pessoal

No primeiro semestre de 2022, Santini tocou a Mar Joias como uma atividade paralela ao trabalho de consultoria. “Comecei a vender pelo Instagram e WhatsApp para pessoas conhecidas. Formalizei a empresa para poder fazer a venda das peças e notas fiscais, mas ainda tratando como atividade secundária”, relembra.

Ela percebeu que o negócio estava “tomando corpo” no fim de julho. Foi então que decidiu investir todo o seu tempo na Mar Joias. Contratou uma agência, montou um site e o lançou em outubro.

No primeiro ano, ela investiu R$ 58 mil com o lançamento do site, a compra da matéria-prima para desenvolver as peças e das embalagens personalizadas em gráfica, além dos custos burocráticos. “Até então eu trabalhava em casa, não tinha estrutura de custo fixo”, afirma.

A empresa alcançou o faturamento de R$ 64 mil em 2022. O negócio cresceu no ano seguinte, e faturou R$ 150 mil em 2023. Para esse ano, ela quer manter o crescimento e prevê chegar a R$ 240 mil.

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Brinco de ametrino, um cristal brasileiro lapidado manualmente. Foto: Divulgação/Mar Joias

Joias autorais são inspiradas nas praias do Rio de Janeiro

Santini nasceu no Rio de Janeiro, mas mora atualmente em São Paulo. As joias inspiradas no mar, ela diz, são uma forma de se conectar com o lugar de onde veio. Os produtos são confeccionados manualmente com cristais, pérolas e pedras naturais. “Sempre busco confeccionar de uma forma que tenha leveza e movimento, como a natureza”, afirma.

A loja vende brincos, colares, pulseiras e tornozeleiras. “Não vejo ninguém fazendo o design, a montagem e a forma das joias que vendo, são peças exclusivas desde o início”, afirma.

No ano passado, Santini decidiu começar a investir em varejo físico. Migrou o negócio da sua casa para um showroom no bairro de Perdizes, em São Paulo. No espaço de 50 metros quadrados, há um ateliê, onde ela fabrica as joias, e uma área de atendimento ao cliente, com horário marcado.

Brinco de pérolas barrocas. Colar de minipérolas naturais. Foto: Divulgação/Mar Joias

No local, Santini também faz o processamento de pedidos e despachos do site. “Por ser do varejo, ainda encontro dificuldades com as vendas no site. O espaço físico foi uma solução para conseguir estar mais próxima dos clientes. Algumas pessoas preferem ver as peças pessoalmente ou até verificar se realmente existo antes de comprar”, observa.

Cerca de 60% das peças do site estão disponíveis em pronta entrega, as demais são feitas sob demanda. Santini também oferece a possibilidade de os clientes personalizarem as suas joias. “Recentemente uma noiva foi ao meu espaço e fiz na hora um brinco, um colar e uma pulseira do jeito que ela queria para fazer uma composição com o vestido de casamento”, exemplifica.

Atualmente, ela terceiriza a fabricação de cerca de 30% das peças; o restante, ainda é ela quem faz sozinha. A empresa conta com uma funcionária para apoiá-la na parte operacional do negócio. O ticket médio das joias é de R$ 600. O público da marca é composto em sua maioria por mulheres com 40 anos ou mais.

Brinco Joá, primeira peça da Mar Joias e campeã de vendas Foto: Divulgação/Mar Joias

O produto mais vendido é a primeira joia lançada por ela: o brinco Joá. Com o nome inspirado em uma pequena praia do Rio, a peça tem uma argola em prata 925 pura, com opções de banho de ouro 18k ou ródio branco. Ele tem pequenas pérolas naturais ou turmalinas penduradas ao longo do seu comprimento.

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“Levei um dia e meio para montar o primeiro par de brincos. Hoje não demoro nem dez minutos”, fala. Em 2023, ela vendeu 445 peças no total.

Brinco de esmeraldas brasileiras Foto: Divulgação/Mar Joias

Santini deseja investir na presença da Mar Joias em mais lojas colaborativas pelo Brasil. Hoje ela está na Casa 22, em São Paulo, um espaço que reúne diversas marcas pequenas e autorais. Nos próximos anos, também pretende expandir a gama de produtos, com a inserção de linha de produtos para casa e acessórios como bolsas e carteiras.

Joaquim, hoje com oito anos, já passou da fase de fazer pulseiras, diz Santini. No entanto, ele continua muito participativo e interessado com a Mar Joias. “Ele diz que é o CEO da marca”, brinca a mãe. “Quando pesquiso sobre os cristais, ele sempre mostra interesse, sabe todos os nomes, pergunta das vendas.”

Bianca Santini com seu filho, Joaquim Foto: Arquivo Pessoal

Avaliação de clientes

No Google, a Mar Joias conta com quatro avaliações, todas com a nota máxima permitida pela plataforma (cinco estrelas). Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, comentários positivos ou negativos podem ser uma ação a favor ou a contra a empresa.

A empresa não tem registros no site Reclame Aqui.

Consultor dá dicas para quem quer transformar hobby em negócio

Transformar um hobby em negócio pode ser uma jornada prazerosa e gratificante, mas exige uma análise cuidadosa e um planejamento estratégico.

Segundo Cássio Ferraro, consultor especialista em planejamento estratégico e marketing do Sebrae-SP, é fundamental lembrar que “qualquer empresa é uma empresa. Então, ela é um negócio e, se você abre uma empresa com fins lucrativos, obviamente ela tem que trazer lucro”.

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Antes de investir em um empreendimento baseado em um hobby, Ferraro enfatiza a importância de verificar a viabilidade do negócio. “A viabilidade naturalmente se verifica fazendo um plano de negócios. Por mais que você vá fazer aquilo de que você mais gosta, tem que entender qual será o tempo em que ele tratá retorno financeiro, e se esse investimento vai te dar lucro”.

Ele ilustra essa análise com um exemplo prático: “Digamos que você faça um plano de negócio para montar uma empresa no setor alimentício. Eu verifico o ponto, o cliente, a quantidade de vendas por dia, semana e mês. Se o investimento é de R$ 100 mil, mas o lucro é menor que 2%, enquanto uma aplicação financeira no mercado dá 3%. A taxa de atratividade se torna uma consideração crítica. A análise que o empreendedor tem que fazer é justamente essa.”

Ele adverte que, mesmo que trabalhar com algo prazeroso seja tentador, “o prazer sozinho não paga as contas no final do mês”.

Os motivos que levam alguém a transformar um hobby em negócio podem variar, desde aspectos de saúde até a busca por mais tempo livre e satisfação pessoal. No entanto, o maior risco reside em empreender sem planejamento.

“A grande armadilha é quando você resolve empreender sem se planejar. Se você recebe uma indenização da sua empresa e decide investir em um hobby sem fazer um plano de negócios, isso pode gerar grandes problemas”, exemplifica.

Ferraro também destaca a importância de considerar, além da lucratividade, o prazo de retorno do investimento: “Qualquer plano de negócio fala para você que a previsão de retorno do seu investimento é saudável em até cinco anos. No entanto, eu acredito que o empreendedor não pode se dar ao luxo de esperar cinco anos para ter o retorno do investimento que ele está fazendo no negócio.”

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