PUBLICIDADE

Ele veio da periferia do RJ e hoje tem startup de inteligência artificial nos EUA

Empresa tem 4 ‘personalidades’ que dão dicas para áreas específicas; especialista alerta para riscos em orientações sobre saúde e finanças

PUBLICIDADE

Foto do author Adele Robichez
Atualização:

Rogério Magela, 52 anos, nasceu e foi criado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro. Era interessado por computação desde a infância, e, em 2023, juntou conhecimentos em neurociência e psicanálise para criar a Minddhi, startup de inteligência artificial.

A história de Magela começa aos 12 anos, quando ganhou seu primeiro computador. Aos 14 anos, diz que já tinha bom conhecimento de programação. Aos 17, ingressou em engenharia química na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Pouco depois, a PUC-Rio abriu um curso de engenharia da computação, e ele conseguiu uma bolsa para seguir a sua verdadeira paixão.

Rogério Magela, fundador da startup Minddhi Foto: Divulgação/Minddhi

PUBLICIDADE

Magela se interessou também pelo estudo da mente humana. Em 2018, ele lançou o livro “Homo Conscius: O Despertar da Consciência Universal”. Na obra, ele defende a evolução da inteligência artificial para um modelo próximo à mente humana real, dotada de capacidades cognitivas superiores e mais consciente, uma vez que ela não reage ao ambiente externo.

Em 2022, as IAs generativas, capazes de criar conteúdos, como o Chat GPT, explodiram. Elas usam o “Large Language Model (LLM)”, que utiliza uma grande quantidade de dados para gerar respostas coerentes e contextualizadas. “Isso rompeu a barreira de que eu precisava. Agora, o Homo Conscius seria possível”, afirma Magela.

Startup usa neurociência e psicanálise

A Minddhi nasceu em agosto de 2023. O modelo, que teve o seu protótipo desenvolvido em três meses, integra conhecimentos de neurociência e psicanálise para se aproximar da mente humana.

Com sede na Flórida, nos Estados Unidos, a Minddhi é uma empresa americana. A decisão está relacionada à expectativa de um futuro investimento vindo do país, em dólar. Até então, Magela investiu cerca de R$ 1,1 milhão na startup, com o dinheiro da sua empresa, a holding Global Tech.

IA dá dicas de saúde e finanças, mas isso é perigoso

A startup disponibiliza atualmente quatro “personalidades” de IA: o “sábio” Elder Sage; o personal trainer Arnold Personal; a consultora de economia familiar Anne Finanças; e a nutricionista Isa Nutri. O modelo está na versão Beta, lançada em março.

Publicidade

Cada personalidade é especialista em uma área, segundo a empresa. “Essas mentes são ensinadas a responder especificamente para você o que você quer”, diz Magela. A nutricionista pode passar uma dieta. O personal, um treino novo de academia. O sábio, ajudar na ansiedade e depressão. A consultora, fazer um planejamento financeiro individual.

O uso de IA para fins de saúde ou financeiro pode ser arriscado, porque os programas dão respostas erradas com alguma frequência, no que os especialistas chamam de “alucinação” -a IA pode não saber a resposta, e inventa uma.

Eder Max, consultor de negócios do Sebrae-SP, diz que há riscos nesse uso. “É arriscado receitar um protocolo errado. E se houver algum problema com o usuário, e ele morre?”, questiona.

“O próprio Chat GPT, por exemplo, tem em sua política algumas coisas vetadas, que ele não faz. Uma dessas é, por exemplo, um receituário (médico). É muito perigoso e pode acarretar em seriíssimos problemas”, pontua.

Orientações financeiras por IA também podem causar prejuízos ao usuário.

Magela diz que a intenção é facilitar para as pessoas. “Quero democratizar o acesso a serviços de especialistas por um preço acessível”, diz Magela. Por enquanto, o uso das ferramentas é gratuito – portanto, a startup ainda não tem faturamento. Até junho de 2025, o negócio espera faturar U$ 1,8 milhão.

Personalidade IA Elder Sage, sábio Foto: Divulgação/Minddhi

Segundo o empresário, diferentemente de outras IAs, que coletam informações da internet, as personalidades da Minddhi são educadas com a ajuda de profissionais formados nas suas áreas específicas. Cada “especialista” conta com o acompanhamento de um especialista.

Publicidade

Ele diz que em breve o uso da tecnologia terá uma assinatura mensal. Serão três planos independentes para cada personalidade: de R$ 5, R$ 25 e R$ 50. O preço dependerá da quantidade de mensagens e serviços pedidos, como dietas e treinos.

Personalidade IA Isa Nutri, nutricionista Foto: Divulgação/Minddhi

As personalidades entendem e respondem mensagens e áudios em qualquer idioma. Elas têm sido acessadas majoritariamente por jovens entre 25 e 30 anos.

Tecnologia é aperfeiçoada com informações das conversas

Enquanto as personalidades são gratuitas, todas as informações passadas nas conversas podem ser acessadas pela Minddhi e usadas para educá-las.

O primeiro passo, ao acessar a versão Beta pelo Telegram, é uma anamnese, ou seja, um conjunto de questões pessoais específicas para cada área.

“O usuário tem que passar um monte de informações. No caso da Isa Nutri, a altura, a gordura… Pode falar com ela como se fosse um ser humano. Com isso, ela consegue fazer um atendimento personalizado”, afirma Magela.

Personalidade IA Arnol Personal, personal trainer Foto: Divulgação/Minddhi

A Minddhi também trabalha com a tecnologia “não sei”: tudo o que as personalidades virtuais não sabem, separam para o especialista responder e educar. “Aí ela já aprende”, aponta o empresário.

Questionado sobre a segurança da informação, Magela diz que se preocupa com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), apesar de admitir que tem acesso às conversas para melhorar as personalidades.

Publicidade

“Estamos fazendo isso com cuidado, pegando as informações e gravando com criptografia avançadíssima. São vários protocolos para elas serem cifradas e somente a inteligência ter acesso, mais ninguém.”

Para evitar problemas com privacidade, direitos autorais e ilicitudes, a tecnologia da Minddhi ainda não aceita fotos, vídeos, documentos e links externos. A versão prevista o fim do ano permitirá o envio e a detecção de imagens.

“Precisamos tornar as personalidades Minddhi confiáveis e seguras. Não queremos levá-las a polêmicas éticas e morais neste início. Não é uma questão técnica do uso da IA generativa, que já está acessível, mas uma decisão de negócio, de credibilidade do produto”, explica Magela.

Personalidade IA Anne Finanças, consultora de finanças Foto: Divulgação/Minddhi

Em relação às possíveis consequências da tecnologia para as profissões, o empresário diz que seu “compromisso não é com as pessoas, é com a digitalização, a tecnologia”.

A versão Beta+ da Minddhi será lançada em julho com todas as funcionalidades disponíveis na web (como funciona o ChatGPT). A partir de setembro, a comunicação com as personalidades também poderá ser realizada por meio de um aplicativo próprio.

“A nossa ideia é colocar em todas as mídias: via internet, aplicativo, Telegram, WhatsApp, e ficar tudo integrado para o usuário ter acesso onde quiser”, indica o empresário. A integração dos servidores das big techs, no entanto, é considerada um desafio por Magela, por necessitar de um cuidado maior com a privacidade das mensagens.

Negócio oferece IA corporativa personalizada

A ideia da startup é também personalizar IAs para empresas. Novas personalidades podem ser desenvolvidas a partir da educação delas sobre qualquer tema.

Publicidade

“Elas aprendem via voz também, então podem saber de tudo sobre uma empresa, participando de reuniões, fazendo considerações, análises, dando opiniões”, destaca Magela.

A primeira versão corporativa será lançada em agosto para uma empresa brasileira. Por enquanto, o serviço não será aberto para o público criar as suas próprias mentes porque a Minddhi quer ser detentora da tecnologia.

Consultor aponta vantagens e riscos da IA

Um aspecto crucial na implementação de IA é a conformidade com a LGPD, segundo Eder Max, do Sebrae-SP. Ele alerta para a importância de políticas claras de privacidade, obtenção de consentimento explícito dos usuários e garantia de que os dados sejam armazenados e processados de forma segura.

“A LGPD exige que o consentimento seja claro, além de informar para que os dados serão usados e dar a liberdade de não consentir o uso pelo usuário”, ressalta.

A segurança da informação é outra preocupação. “Adotar práticas robustas de segurança cibernética, incluindo criptografia de dados, autenticação multifatorial e monitoramento constante de ameaças, é indispensável”, recomenda Max.

Para ele, a ética no uso da IA também não pode ser ignorada. “A IA pode ser treinada com vieses, e é importante que isso seja evitado para garantir justiça e equidade”, ressalta.

O especialista também destaca a importância de focar na qualificação dos funcionários para trabalhar com a IA, transformando-os em operadores de tecnologia e analistas de dados, em vez de substituí-los. “Investir na capacitação dos colaboradores é fundamental para integrar a IA de forma eficaz e ética no ambiente corporativo”, avalia.

Publicidade

Max diz que profissionais que trabalham com IA podem infringir a ética, além de trazerem um risco operacional para o negócio.

Implementar inteligência artificial nas empresas pode ser um processo desafiador, mas, com a abordagem correta, pode ser um diferencial para a operação do negócio, segundo o consultor.

“O primeiro passo é a análise de necessidades”, afirma Max. “É crucial identificar as áreas do negócio onde a IA pode trazer melhorias significativas, como aumento de eficiência, redução de custos ou melhor atendimento ao cliente”, orienta.

Para começar, as empresas devem escolher plataformas e ferramentas de IA que atendam às suas necessidades específicas. Max destaca que fatores como escalabilidade, custo e suporte são essenciais na escolha da tecnologia.

“A IA pode ser usada para automatizar processos repetitivos e baseados em regras, liberando recursos humanos para tarefas mais estratégicas”, explica.

A automação de tarefas repetitivas é um dos principais benefícios da IA. Processos como o atendimento ao cliente via chatbots e o gerenciamento de inventário podem ser significativamente melhorados, acredita o consultor. “Chatbots, por exemplo, podem responder a perguntas frequentes dos clientes, liberando a equipe para lidar com questões mais complexas”, exemplifica.

Outro benefício importante é a capacidade da IA de analisar grandes volumes de dados rapidamente, identificando padrões e fornecendo insights para a tomada de decisão. A personalização do atendimento ao cliente também é destacada por Max: “Plataformas de e-commerce utilizam IA para recomendar produtos que o cliente tem maior probabilidade de comprar, aumentando as vendas”.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.