A comida italiana sempre foi uma tradição na vida de Nestor Girardi, de 31 anos. Após tentar empreender no ramo musical, ele decidiu usar a história da sua família para começar a produzir macarrão e servir a comida em caixinhas.
O negócio começou na garagem do pai dele, em Barretos (SP), em 2020. A ideia, desde o início era entrar no franchising, e, para tirar o plano do papel, ele convidou o amigo Felipe Fontes, de 39 anos. Em quatro anos somente com delivery, a Ital’in House chegou a 142 unidades no Brasil e já tem dois pontos de venda na Europa.
Sócios se conheceram na época da faculdade
Girardi nasceu e cresceu em Barretos. Ainda na adolescência, ele trabalhou em alguns negócios que os pais tentaram emplacar, todos relacionados à comida italiana.
Entre as opções de carreira, a única que ele tinha certeza que não seguiria era a de dono de restaurante, porque sabia que a rotina era exaustiva. Para mudar de ares, Girardi foi para Campinas (SP) estudar engenharia civil em 2014.

Ele dividia a república com alunos de cursos voltados para tecnologia e era o responsável pela cozinha. Nessa época, conheceu o mineiro Felipe Fontes, que já era formado em administração, mas estudava sociologia em Campinas. Os dois desenvolviam startups - Girardi voltado para o setor musical e Fontes com foco no impacto social.
Girardi também era produtor de uma dupla sertaneja e organizava eventos de entretenimento, mas, com a chegada da pandemia, ficou sem trabalho. Como já havia desistido da faculdade em 2016, ele decidiu passar um tempo com os pais em Barretos.
“Do dia para a noite, caíram todas as datas e eu só conseguia pensar ‘e agora, o que faço?’. Eu via pouco meus pais, por conta da correria do dia a dia, então voltar para casa foi a primeira escolha”, explica.
Negócio começou na garagem dos pais
O pai de Girardi tinha recebido uma quantia de dinheiro e estava determinado a abrir um restaurante, mas com o avanço da pandemia, o filho achou que não era a melhor opção. O empreendedor já tinha um modelo de negócio em mente e resolveu que era a hora de investir no projeto.
Inspirado na tradição dos pais, ele sabia que trabalharia com entregas de comida italiana. Mas tinha algumas exigências: o macarrão precisava ser de alto padrão e o produto tinha que chegar impecável até os clientes.
“Já pensava em montar uma empresa desde 2009, quando minha família tinha uma pizzaria. Eu queria vender algo na caixinha, como o China In Box, porque a embalagem ajudava a conservar a temperatura, mas também era bonita e lembrava um presente, além de ser segura para o delivery”, diz.
Girardi pegou R$ 10 mil emprestados com o pai para comprar os materiais necessários para começar a produzir e transformou a garagem da família em uma cozinha. Desde o primeiro dia, a ideia dele era transformar a Ital’in House em uma rede de franquias.
Os primeiros seis meses serviram como um teste de aceitação do público, com vendas somente pelo delivery. Depois de confirmar que a comida agradava aos clientes em Barretos, ele decidiu que era o momento de planejar os próximos passos e chamou Fontes para ajudar na expansão.
“Eu percebi que a produção ocupava muito do meu tempo, não tinha como crescer de forma estruturada sozinho. Eu precisava de um sócio que fosse mais organizado do que eu, e o Fontes já acompanhava a Ital’in House desde o início, então falei: ´É ele’”, explica.
Primeiras franquias foram negociadas com amigos e familiares
Todo o processo de criação da marca até a inauguração da primeira franquia levou um ano. Os primeiros franqueados foram a mãe de Fontes, em Belo Horizonte, e um amigo dos sócios, em Campinas.
“Nós sabíamos que precisávamos de uma expansão cuidadosa. Nos primeiros meses, a gente precisava validar o formato e aprender quais processos de produção e gestão poderiam ser melhorados”, aponta Fontes.
Para fazer todos os testes, eles abriram seis unidades em seis meses. Os riscos eram compartilhados entre franqueadores e franqueados.
Os próximos passos foram as buscas por investidores. O investimento-anjo - no qual uma pessoa com experiência investe em uma empresa que ainda está em desenvolvimento - foi feito pelo empresário Carlindo Boaventura, ainda em 2021. Ele comprou 10% da Ital’in House por R$ 100 mil.
Em 2022, eles receberam o segundo aporte, do investidor canadense Patrick Trumpy, que pagou R$ 500 mil por 10%, voltado para a validação de mercado. Em 2023, o último a embarcar no negócio foi Daniel Skit, que investiu R$ 2,5 milhões por 10%, destinados à expansão.
Neste ano, a Ital’in House iniciou o processo de captação de novos recursos, com a meta de arrecadar R$ 30 milhões para ampliar o alcance de mercado.
Chegaram a 142 unidades no formato grey kitchen
A expansão foi acelerada em 2022, no formato grey kitchen - no qual o foco é o delivery, mas há um espaço para atender os clientes que escolherem retirar os produtos. Eles fecharam 2022 com 23 lojas, passaram para 89 em 2023 e chegaram a 142 unidades abertas em 2024. O faturamento em 2023 foi de R$ 53 milhões.
Apesar do sucesso das retiradas, a Ital’in House deve ter pontos para consumo no local em breve. O piloto do novo formato está localizado na região da Rua Augusta, em São Paulo.
“É uma virada de chave em relação à estrutura, já que agora as lojas precisam ter uma fachada que converse com o cliente final. Eu brinco que a gente começou de trás para frente: a marca se estabeleceu no digital, mas agora precisa se estabelecer no físico”, explica Fontes.

Para ajudar na popularização da Ital’in House, eles participam de eventos, como a Festa do Peão de Barretos de 2024. Nestor afirma que o volume de vendas nos 11 dias de rodeio chegou a 30 mil caixinhas.
Outra etapa do processo de expansão é a introdução de pratos mais leves no cardápio, com massas integrais, pouco calóricas, proteicas e sem lactose.
O objetivo é alcançar novos públicos, de pessoas interessadas em um estilo de vida mais saudável, as que optam por uma dieta vegana ou têm alguma restrição alimentar.
Com o selo Ital’in Green, o projeto já é testado em Ribeirão Preto (SP), mas deve ser levado para outras unidades ao longo do verão.
Expansão internacional começou em Amsterdã
Neste ano, a Ital’in House deu os primeiros passos internacionais, com a inauguração de unidades em Amsterdã, na Holanda, e em Dublin, na Irlanda. Os franqueados são executivos brasileiros, com experiência em gestão e conhecimento prévio sobre os países.
Nos próximos meses, a marca deve chegar à Inglaterra, mas Fontes afirma que o plano de expansão inclui Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos, além de outras nações da Europa.
“A filosofia da Ital’in House é a validação: a gente testa, testa e testa antes de ampliar. Se você fizer diferente e quiser acelerar o crescimento, especialmente em nível global, só tem um fim: você quebra. A gente precisa alcançar os espaços com calma e respeito pela cultura de cada região”, diz Fontes.
Veja os dados da franquia da Ital’in House
- Investimento inicial: a partir de R$ 250 mil
- Faturamento médio mensal: R$ 140 mil
- Lucro médio mensal: 12% a 18%
- Prazo de retorno: entre 16 meses e 20 meses
- Prazo de contrato: 5 anos, com possibilidade de renovação
- Royalties/mês: 7%
- Número de unidades em operação: 142
Avaliação dos clientes
A Ital’in House da Rua Augusta, em São Paulo, recebeu uma classificação média de 4,7 de 5 estrelas no Google, com 57 avaliações até a publicação desta matéria. Os comentários positivos elogiam a qualidade da comida e a quantidade generosa servida em cada porção, e os negativos abordam problemas com a entrega.
Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.
Já no Reclame Aqui, a marca tem uma reputação classificada como ótima, com nota média de 8,5 de 10 nos últimos seis meses e 47 reclamações registradas no período. As críticas estão relacionadas a problemas na entrega, pedidos incorretos e estornos.
Delivery é mais econômico, diz especialista
A principal vantagem de uma empresa que funciona somente com retiradas e entregas, como a Ital’in House, é a economia com os custos de um ponto físico. A analista de negócios do Sebrae-MG Simone Lopes explica que o espaço não precisa estar em uma área de alto fluxo de pessoas, o que permite procurar por regiões que tenham aluguéis mais baratos.
Ela explica que é importante estar próximo a áreas que facilitem a logística, mas que é possível adaptar a localização e o tamanho da loja de acordo com o orçamento disponível.
Por outro lado, o grande desafio do delivery é mostrar o valor da marca. “As opções disponíveis nos marketplaces são inúmeras, o que obriga o empreendedor a apresentar um diferencial para chamar a atenção do cliente. Se você não tem o ponto físico para ter um contato direto com o consumidor, precisa levar isso para o digital”, avalia.
A dica é usar a internet para se conectar com o público-alvo. Um caminho nas redes sociais é investir em tráfego pago para que a sua marca seja exibida com mais frequência para as pessoas certas. Outro ponto fundamental é desenvolver um cardápio prático, seja nos marketplaces, como iFood e Rappi, ou em sites próprios.
Como transformar um negócio em sucesso no delivery?
Existem algumas dicas que são essenciais para construir um negócio sólido, independente do formato. Investir na gestão financeira, saber precificar o produto e identificar o seu público-alvo são algumas delas. Mas, no delivery, alguns pontos têm uma influência maior no sucesso - ou fracasso - da empresa.
O primeiro deles é a padronização de processos de produção, apresentação e entrega. Simone aponta que essa etapa é fundamental no setor de alimentação em geral, mas se torna ainda mais importante no delivery, já que, sem a chance de oferecer experiências inovadoras fisicamente ao cliente, o diferencial precisa estar no produto e na entrega.
O cuidado com a entrega tem um personagem principal: a embalagem. Quando falamos de alimentos, é natural que eles comecem a perder a qualidade logo após a finalização do preparo. Por isso, investir em recipientes que garantam a conservação da temperatura, aroma e textura pelo maior tempo possível é importante.
“Garantir que o produto chegue até a casa do cliente com qualidade é fundamental para que a experiência seja positiva, mas exige que o empreendedor invista tempo e dinheiro para encontrar a melhor embalagem para cada item. Se for uma embalagem exclusiva da marca ou tiver diferenciais, a empresa tem que mostrar isso nos canais de comunicação para conscientizar o consumidor sobre o valor agregado”, afirma a especialista.
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