De um lado, o processo acelerado de envelhecimento no Brasil, hoje com mais de 30 milhões de pessoas acima de 60 anos e a previsão de atingir 68 milhões em 2050, segundo o IBGE. Do outro, a falta de empresas que dialoguem com esse público, que tem dinheiro para gastar e movimenta mais de R$ 1,6 trilhão por ano, segundo dados do Instituto Locomotiva.
Essa combinação de fatores levou os irmãos Vanessa e Bruno Zambetti a criar a Inonni, marketplace focado no mercado da longevidade, lançado em abril com investimento inicial de R$ 350 mil. A ideia para o negócio surgiu após Vanessa ficar responsável por cuidar de um tio de 62 anos, cadeirante, e ter dificuldade para encontrar produtos e serviços confiáveis.
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“Parece bobeira, mas eu comprei uma cadeira de rodas que não coube no carro por falta de informação, além de ter problema para encontrar médico que atendesse em casa”, conta a publicitária. A insatisfação a levou a criar um blog sobre o tema e, pela interação com os leitores, percebeu a lacuna no mercado. “A gente quer que a plataforma facilite o dia das pessoas acima de 50 anos e leve a elas produtos, serviços e conteúdo.”
O serviço atua como um facilitador entre os 35 fornecedores atuais – 85% deles pequenas e médias empresas – e o consumidor final. Por meio do site, o cliente tem acesso a produtos e serviços, que vão desde os mais tradicionais, como cinto de segurança para cadeira de rodas, ofertado pela Reapta, aos mais inusitados, como o tablet para a terceira idade, com ícones grandes e botão para ligações de emergência, da marca Obabox, vendido pela Loja Senior. Embora a entrega dos produtos seja feita pelos fornecedores, a Inonni acompanha o processo, em contato com o cliente para o caso de eventuais problemas.
Como ainda é incipiente, esse mercado em que se insere o marketplace tem espaço para crescer. Segundo mapeamento da Hype60+, consultoria de marketing com foco no mercado sênior, existem apenas 81 negócios no País voltados especificamente para esse público. Entre elas, as startups EuVô, aplicativo de transporte para quem tem mobilidade reduzida, e ISGame, que ensina maiores de 50 anos a desenvolver games. A Hype60+ também aponta que 73% dessas empresas existem há menos de cinco anos.
“É um mercado embrionário. Falar de longevidade é uma novidade no mundo todo. Ainda tem um preconceito gigantesco. A maioria das empresas faz pesquisa de mercado com público-alvo de até 45 anos, então elas não sabem o que eles querem”, argumenta Layla Vallias, cofundadora da Hype60+. Para ela, o mercado da longevidade, que chama de oceano prateado, é promissor, podendo seguir os moldes de aquecimento observado no Japão e nos EUA.
O empreendedor Leo Wehbi, cofundador da Vem, Vida, startup de suplementos nutricionais que está na Inonni, é um dos que acreditam no potencial do setor. “Com a inversão da pirâmide de expectativa de vida, percebemos que não havia marca de vitamina que dialogasse com esse público.”
Ao lado de dois sócios, ele desenvolve desde 2018 ômega 3 e polivitamínicos acessíveis aos mais velhos, com cápsulas menores e cores diferentes, tampas mais fáceis de abrir e embalagens com letras maiores. “O mercado é pouco explorado. Poucas empresas têm coragem de falar com esse público e de assumi-lo”, diz, em referência ao preconceito do mercado.
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