Menopausa e bem-estar acima dos 40 anos motivam negócios

Empresas Plenapausa e No Pausa veem oportunidade em falta de informações sobre sintomas e cuidados do climatério; mercado mundial tem alcance de US$ 600 bilhões

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Por Marina Dayrell

Em um País que teve um saldo de 2 milhões de empresas novas num ano de pandemia, segundo o Mapa de Empresas do governo federal, encontrar um nicho pouco explorado pode ser difícil. Se o público-alvo for mulher, acima dos 40 anos e estiver entrando na menopausa, no entanto, há duas notícias. A primeira: os números para esse mercado são promissores. Segunda: ele praticamente não existe e não tem concorrentes. 

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Um levantamento da Sociedade Norte‑Americana de Menopausa estima que até 2025 mais de 1 bilhão de mulheres no mundo estarão na pós-menopausa (o período a partir de um ano após o fim do último ciclo menstrual). Considerando que a expectativa de vida da mulher no Brasil é de 80 anos, segundo o IBGE, é esperado que essa etapa corresponda a um terço da vida.

De olho nesses números, as empreendedoras Marcia Cunha, de 38 anos, e Carla Moussall, de 32, criaram neste mês de agosto a Plenapausa, empresa com foco em ajudar quem está passando pelo climatério (o que, popularmente, conhecemos como menopausa, mas a menopausa tecnicamente corresponde apenas ao dia da última menstruação). A empresa surgiu a partir de uma pivotagem, ou seja, uma mudança no rumo do negócio, após um programa de aceleração.

Milagros Kirpach e Miriam de Paoli criaram a No Pausa para levantarinformaçõessobre climatério. Foto: Catalina Bartolom

“15% da população brasileira está nas fases de pré e pós-menopausa, entre 40 a 64 anos de idade. São 34 milhões de mulheres e possíveis clientes. No mercado, fala-se muito da questão da menstruação e da fertilidade, mas a menopausa não é o fim. Eu comecei a fazer pesquisas e fui percebendo como é latente a desinformação sobre o tema e ficou claro que a primeira coisa que a gente deveria fazer era gerá-la”, conta Márcia. 

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No Brasil, nas pesquisas feitas pela Plenapausa, as empreendedoras ouviram cerca de 100 mulheres no climatério: 41% não conhecem os sintomas da menopausa e apenas 15% procuram tratamento médico. Com as descobertas, criaram um serviço freemium - que começa gratuito e, ao longo do tempo, passa a incorporar serviços pagos - no qual a pessoa responde um formulário e recebe uma avaliação com o estágio da menopausa em que se encontra, dicas para o dia-a-dia e indicações do que fazer.

Até o momento, a empresa é mantida com capital próprio - o que propicia a avaliação gratuita -, mas o plano é que, ao atingir 300 questionários preenchidos, haja o lançamento de um produto ou serviço ainda em desenvolvimento. Até então, já foram feitas 200 avaliações na plataforma.

“A procura por alguns serviços já começou. Já há mulheres nos chamando pelo whatsapp. Essa demanda por contato tem crescido bastante desde o lançamento. A ideia é que em três meses estejamos lançando algo”, explica Márcia.

De acordo com um estudo feito pela Female Founders Fund (fundo de investimento de capital semente para empresas criadas por mulheres), em 2020, as oportunidades para o mercado mundial da menopausa giram em torno de US$ 600 bilhões. Dos US$ 254 milhões investidos em tecnologia para a saúde da mulher nos últimos dez anos, apenas 5% foram destinados a tratamentos para a menopausa, sendo a maior parte empregada em saúde reprodutiva e fertilidade. 

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Enquanto o Brasil ainda começa a explorar esse mercado, fora do País já existem startups se consolidando no segmento. No começo do mês, a norte-americana Elektra Health, comunidade de serviços para pessoas em menopausa, levantou US$ 3,75 milhões em capital semente. Já a britânica Vira Health, criadora do aplicativo Stella, que funciona como um assistente de saúde para a menopausa, arrecadou £ 1,5 milhão.

Oportunidades em comunidades digitais 

O estudo realizado pela Female Founders Fund em torno do mercado para a menopausa apontou que as maiores oportunidades para as empresas estão em produtos como cremes e suplementos, telemedicina e comunidades digitais para mulheres se conectarem. É justamente neste último que a No Pausa se estabeleceu há dois anos, no Brasil e na Argentina. 

“O projeto nasceu de uma necessidade minha, quando, aos 48 anos, eu comecei a ter desequilíbrios na minha saúde e não conseguia ver de onde eles vinham, cada médico me falava uma coisa, até que fiz um exame de hormônios e veio o resultado: perimenopausa (período que antecede a menopausa). Eu não sabia sequer que existia isso. O nosso propósito é esse: não queremos que ninguém atravesse o climatério sem informação”, conta Miriam de Paoli, de 51 anos.

Marcia Cunha, uma das fundadoras da Plenapausa, empresa que ajuda pessoas em menopausa a identificar sintomas. Foto: Jp Mubarah

Ao lado da argentina Milagros Kirpach, de 27 anos, ela criou a empresa que nasceu para compartilhar experiências e encontrar soluções de forma conjunta com outras pessoas. Entre os serviços oferecidos, o principal é a rede informativa com conteúdo gratuito para cerca de 80 mil membros. 

“Não são só as mulheres que entram no climatério, qualquer pessoa que menstrua vai entrar, independentemente da sua identidade de gênero. Por isso, tentamos usar a linguagem inclusiva. Na nossa comunidade na Argentina, 1,2% é representada por um coletivo de pessoas transgênero”, explica. 

Em conjunto com a geração de conteúdo informativo gratuito, para ter faturamento as empreendedoras fazem workshops para governos, organizações da sociedade civil e empresas (como, por exemplo, consultoria para trabalhar o etarismo nas corporações) e apostam na cocriação de conteúdo com marcas. 

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Recentemente, elas fizeram parcerias com a Womanizer - marca alemã de vibradores - e com a Feel, sextech brasileira de lubrificantes. O faturamento consegue manter a empresa de pé desde o nono mês de criação. 

Bem-estar sexual na maturidade 

Quando fundaram a sextech, no ano passado, as empreendedoras por trás da Feel estavam mirando nas mulheres de 35 anos, mas, durante as pesquisas para criar os lubrificantes e óleos para massagem, descobriram um movimento de mulheres mais velhas que consomem lubrificantes, vibradores e falam mais sobre sexualidade na terapia.

“Isso nos levou a entender que tem muita qualidade no ponto de vista da sexualidade nesta idade versus o que acontece com o corpo em termos fisiológicos (a mudança nos hormônios traz ressecamento vaginal) e em termos de atitude, pois existe uma inteligência sexual, de saber o que gosta e o que não gosta”, explica a CEO da marca, Marina Ratton, de 35 anos. 

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Segundo o Portal Mercado Erótico, especializado no setor, os lubrificantes são um dos produtos mais vendidos no segmento de bem-estar sexual, principalmente por causa da mulher acima dos 40 anos que entrou na menopausa. 

Marina Ratton, uma das fundadoras da sextech Feel, que tem mirado nopúblico 40+. Foto: Paulo Liebert

“O sex shop é um ambiente em que a mulher se sente à vontade para falar de dor sexual, secura vaginal, vaginismo, anorgasmia, questões que muitas vezes deveriam ser levadas para ginecologistas e terapeutas, mas elas não conseguem espaço para se abrir”, conta Paula Aguiar, de 53 anos, CEO do Portal Erótico.

Com as pesquisas, a Feel entendeu que precisava que o lubrificante, carro-chefe da marca, também fosse hidratante e tivesse a capacidade de regenerar microfissuras, características que podem ser boas para todas as idades, mas que são especialmente benéficas para o público acima dos 40 anos. 

“Essas mulheres não estão sendo atendidas pelo mercado. No segmento de beleza, com cremes para o rosto, sim. Mas considerando a potência desse mercado em termos de crescimento ainda existem poucos produtos focados nas mulheres na faixa de 50 a 60 anos”, conta Marina. 

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A sextech prepara três lançamentos para o fim do ano e dois deles serão focados em necessidades específicas do climatério e da menopausa. 

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