Quando empresas se encontram em situações financeiras muito complicadas, os empreendedores podem se perguntar se ainda é possível lidar com os problemas ou se o melhor a se fazer é se encerrar o próprio negócio. E isso não significa, necessariamente, um sinal de incompetência, já que as dificuldades podem ocorrer por conta de fatores externos ou de falhas no modelo de negócio.
Quando, mesmo em condições absolutamente desfavoráveis, os empresários apostam em continuar com as operações, podem ter no futuro dificuldades para liquidar todas as dívidas com fornecedores e funcionários, além de contrair dívidas pessoais para tentar salvar a empresa.
Não há um momento específico que defina qual a hora de se fechar uma companhia, mas uma análise da origem do problema pode ajudar a identificar se vale a pena pensar em alternativas ou se a situação é insustentável.
Alguns sinais de risco para a empresa
Para entender essa situação, primeiramente é preciso compreender que as dificuldades financeiras das empresas muitas vezes não aparecem de forma clara. Apesar disso, há sinais que acendem uma luz amarela.
Alguns deles podem ser:
- dificuldade no pagamento do 13º salário dos funcionários;
- aderência a linhas de crédito para adiantamento de recebíveis;
- dificuldade de pagamento de fornecedores.
Não necessariamente essas dificuldades são um sinal de má gestão financeira da companhia.
“Pode ser que mesmo gerindo bem o negócio, a empresa se encontre em uma situação complicada, por conta de fatores externos”, afirma o consultor de negócios Vitor Moura, sócio da WIV Gestão Financeira, consultoria especializada em PMEs.
Possíveis problemas na gestão financeira
Em geral, as dificuldades com a lucratividade do modelo de negócio são mais facilmente ajustáveis do que os movimentos de correção da gestão financeira.
“Quando a empresa tem um problema de lucro, ela percebe isso rapidamente”, afirma Moura.
Ele explica que essas companhias vão ao mercado buscar crédito, mas percebem que o movimento é ineficiente e, logo, são forçadas a se adaptar, alterando o modelo utilizado.
Quando a gestão financeira da empresa é a causa das dificuldades, outros pontos. Os principais são:
- falhas na gestão de estoque;
- prazos concedidos para clientes e fornecedores pagarem;
- erros na gestão de inadimplência.
Quando esses pontos são identificados, é possível tentar contornar a situação, a depender do grau de endividamento da companha.
“Temos que separar o que deve ser pago no curto prazo e tentar negociar. As dívidas que são inviáveis pensamos em tratar de forma jurídica”, diz Moura.
Separar razão da emoção é fundamental
A dificuldade principal, segundo Moura, é identificar as dificuldades da empresa e buscar separar a razão da emoção. Entender a situação financeira e os sinais de que as coisas não estão indo bem é fundamental para o empresário não “dobrar a aposta” e levar a empresa para o processo de falência.
“Às vezes o empresário faz uma aposta mais pela paixão pela empresa do que pela visão de negócio”, afirma Moura. “Alguns coaches motivacionais ecoam um discurso que dá a entender que para ter sucesso é preciso ter quebrado um número x de empresas antes”, complementa.
Ele aponta ainda a dificuldade que alguns pequenos empresários têm de pensar em alternativas de trabalho, considerando que muitos não possuem educação formação formal ou alguma outra experiência de trabalho para além do empreendedorismo.
Moura alerta ainda para os riscos de tentar contornar os problemas da companhia com recursos pessoais, o que pode levar o empreendedor a se desfazer de bens importantes como carros e imóveis.
“Às vezes, para tentar salvar a empresa, o empreendedor começa a se desafazer de tudo o que construiu durante uma vida toda”, afirma.
Segundo ele, o uso desses recursos só deve ocorrer quando há um acompanhamento minucioso, em que se identifica a possibilidade de quitar as dívidas da companhia e criar um plano de reestruturação na sequência.
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