Wilson Poit recebeu o segundo carimbo da história da sua carteira de trabalho no último mês, 33 anos depois que ela foi assinada pela primeira vez por um empregador. Em todos esses anos, tocou a vida profissional como empreendedor e agora, justamente quando o País mostra fortes sinais de recessão econômica e o desemprego atinge 12,5%, segundo o IBGE, ele volta para o outro lado do balcão, como superintendente do Sebrae-SP.
À frente da seção paulista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, que conta com 33 escritórios regionais e 250 pontos de atendimento em parceria com as prefeituras, Poit quer focar seus esforços nos mais jovens reunidos em espaços coletivos como coworkings e incubadoras, que poderiam ocupar imóveis municipais abandonados. “A inovação vem do forasteiro, da pessoa nova, que chega e questiona, né? O coworking propicia isso, o olhar de fora.” Em tempo, o Sebrae-SP mantém o seu próprio coworking na região central da capital, dentro do Centro Nacional de Referência em Empreendedorismo, Tecnologia e Economia Criativa.
Leia mais
:: Coworkings se concentram nas regiões sul e oeste de São Paulo
:: Marketplace reúne pequenos negócios focados no público 50+
Para colocar de pé seu plano, em menos de um mês no Sebrae-SP ele já teve agenda com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, e a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Aline Cardoso. Poit, que nos últimos anos registrou passagens pelas gestões municipais de Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB), hoje é filiado ao partido Novo (seu filho Vinicius Poit é deputado federal eleito em 2018 pelo mesmo partido).
A ideia é que o Sebrae possa trabalhar em conjunto com municípios e o Estado para chegar aos jovens. Por meio do programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), que leva noções de empreendedorismo a alunos do Ensino Fundamental em parceria com escolas estaduais, municipais e particulares, foram capacitados cerca de 250 mil alunos em 342 municípios de 2015 a 2018.
No ano passado, o Sebrae-SP inaugurou a Escola Superior de Empreendedorismo (ESE), na capital, com graduação em administração, MBAs e cursos de extensão voltados ao desenvolvimento da economia criativa e também de startups.
“Precisamos tirar o jovem do quarto, da caverna, onde estão isolados nas telas”, diz Poit, segundo quem sua gestão deve adaptar as metas do Sebrae-SP para que mais pessoas sejam impactadas. “Gostaria que muito mais jovens, incluindo meu filho caçula, de 15 anos, dissessem que querem empreender quando crescer.”
Para seus planos, Poit terá de driblar um eventual corte na mira do atual ministro da Economia. Paulo Guedes já falou que vai “meter a faca” no Sistema S, formado por nove entidades (como Sebrae, Senai e Sesi) e que hoje recebe cerca de R$ 17 bilhões ao ano.
Biografia
A trajetória empreendedora de Poit remete à adolescência. Dos 11 aos 17 anos, pulava de bico em bico. Mas, como faz questão de dizer, só montou um negócio de sucesso aos 40 anos, a Poit Energia. “Antes, tive cinco empresas, quase quebrei várias vezes”, diz, aos 60 anos.
Essas histórias são contadas no livro O não você já tem, então vá à luta, com prefácio de Jorge Paulo Lemann e que será lançado nesta segunda-feira (leia mais abaixo). No volume, ele conta da vida humilde no campo até a venda da Poit Energia em 2012, com 18 filiais na América Latina, por cerca de R$ 400 milhões.
A empresa nasceu depois que ele foi mal atendido ao tentar alugar um gerador de energia e, como gosta de contar, criou a Poit numa brecha de oportunidade. Agora no Sebrae, quer usar sua experiência para potencializar os dois grupos de empreendedores: aqueles que nasceram da oportunidade, como ele, e também os que surgiram da necessidade.
“A missão do Sebrae é ajudar os empreendedores por necessidade, por desespero até, e também estimular que o jovem cresça com vontade de ser empreendedor por oportunidade”, conta Poit, segundo quem os microempreendedores individuais (MEIs) devem receber atenção especial, já que muitos brasileiros foram empurrados ao empreendedorismo por conta do desemprego.
Hoje, o País conta com de 8,3 milhões de MEIs, sendo 2,2 milhões no Estado de São Paulo. O MEI está prestes a completar 10 anos de operação em julho - foi criado formalmente em 2008, mas apenas em julho de 2009 teve o primeiro trabalhador formalizado como microempreendedor.
Segundo o relatório anual da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o chamado Global Report, 53% de todos os empreendimentos no Brasil são MEIs. Com uma perspectiva de melhora da economia apontada durante o estudo, 31% dos brasileiros adultos viam o momento como oportuno para investir em um novo negócio.
Empolgado com o começo da sua nova gestão, e um otimista nato, Poit diz querer apostar as fichas no MEI, porta de entrada de novos empregos no País. “Se cada um dos milhões de MEIs do Estado criar um emprego, já resolvemos o desemprego.” Por regra, um MEI tem direito a manter apenas um funcionário em folha e pode declarar anualmente faturamento de R$ 81 mil (até o ano passado eram R$ 60 mil).
LANÇAMENTO
O não você já tem, então vá à luta Editora:Portfolio PenguinPreço: R$ 59,90Lançamento: dia 3/6, às 19h, na Livraria da Vila dos Jardins (Al. Lorena, 1.731)
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.