O empresário Leonardo Pflüger Zanardi, de 29 anos, de Florianópolis, em Santa Catarina, tinha uma carreira encaminhada como advogado no Brasil, mas algo estava faltando: ele queria “respirar” automobilismo, sua paixão desde cedo. Pensando nisso, há cerca de cinco anos, partiu para a Alemanha e abriu uma empresa de aluguel de carros especializada em um dos maiores autódromos do mundo: Nürburgring.
A empresa Nürblife fica bem perto do complexo esportivo e disponibiliza veículos e experiências para que as pessoas possam acelerar. Duas voltas custam de R$ 1.000 a R$ 2.500, dependendo do carro. O faturamento em 2023 está na casa dos € 550 mil (R$ 2,9 milhões).
A história com o país europeu começou bem cedo para Zanardi. Ele tem ascendência alemã, o que facilitou a entrada por ter passaporte do país e, durante a faculdade, cursou parte do bacharelado por lá.
Foi nesse momento que teve a oportunidade de pisar na pista pela primeira vez. “Aquilo ficou na minha cabeça. Eu tinha minha carreira já no Brasil, mas, com o tempo, eu comecei a perceber que aquilo (amor por carros) era mais forte do que a advocacia”, fala.
Autódromo teve acidente com Niki Lauda
O interesse dele era estar próximo à pista, que é histórica no automobilismo - uma das maiores do mundo, tanto em tradição, quanto em extensão. Dividida em duas partes, o complexo de Nürburgring tem mais de 25 quilômetros de traçado. O chamado “laço norte” ou “Nordschleife” sozinho tem mais de 20 km. Por lá, as curvas são tão atrativas quanto perigosas, sendo palco de inúmeros acidentes - até mesmo fatais.
Um dos mais icônicos é o do tricampeão de Fórmula 1 Niki Lauda, em 1976, que quase culminou na morte do piloto. Campeão da categoria pela primeira vez no ano anterior, ele se recuperaria ainda em 1976 e retornaria às pistas para efetivar seu tricampeonato - em 1977 e 1983. Essa trajetória é contada no filme Rush, de 2013.
Esse trecho maior é o que fica aberto ao público, sendo possível ir com o próprio carro de passeio ou com um alugado em uma empresa como a Nürblife.
Para alugar o carro e dirigir no local, é preciso ter a PID (Permissão Internacional para Dirigir), uma carteira de habilitação global, que é conseguida nos departamentos de trânsito estaduais (veja aqui informações do Detran-SP). Junto com ela, é preciso levar a CNH original.
Novo circuito para mais segurança
Visando mais segurança, foi construído o circuito de Nürburgring, com mais espaço para escape dos carros e curvas bem menos cegas e acentuadas, com cerca de 5 km de extensão.
A última vez em que a Fórmula 1 figurou por lá, inclusive, foi em 2020, em um calendário cheio de substituições por conta de restrições da pandemia de covid-19. Essa área, porém, não fica aberta ao público.
Advogado trabalhou em concorrentes para entender negócio
Com todo este contexto de amor pelo automobilismo e o tradicionalismo de Nordschleife, Zanardi foi de vez para lá em 2018. A dinâmica de trabalho, de gerir uma empresa, em comparação a ficar sentado em um escritório, também o atraiu bem mais.
Naquele primeiro momento, ele ainda não abriria a empresa. Por cerca de dois anos, ficou trabalhando em lojas similares ao negócio que ele pretendia começar, para entender como funcionava o dia a dia do local.
“Por lá, as principais linhas de empreendimento são oficina e aluguel de carros. Como o meu conhecimento técnico não era tão grande assim, preferi seguir pela questão dos automóveis”, comenta.
Após entender melhor o mercado, abriu, em 2021, a Nürblife, que, agora, está indo para seu quarto ano de operação. Como sempre, o início foi mais complicado, por conta da necessidade de capital de giro - e também da necessidade por crédito.
Como ele não era conhecido pelos bancos locais, demorou um pouco para conseguir acesso ao dinheiro. Porém, assim que teve o aporte, as coisas começaram a andar com mais facilidade.
Atualmente, o negócio já consegue se custear com a própria operação, sem a necessidade de capital de giro ou empréstimos. “Ainda estamos no começo, mas já pegou tração”, conta. Ele não tem sócios, toca a administração sozinho - e o dia a dia também.
Ao todo, são sete carros disponibilizados para os clientes, todos esportivos e que aguentam o “tranco” de Nordschleife. Os contratos são fechados com, ao menos, duas voltas no laço norte. O mais barato é sair andando com um Clio RS ou Golf GTI, que custam a partir de € 198 (R$ 1.060).
Mas é possível ter uma experiência mais imersiva na velocidade, com uma BMW M2 G87, com motor de seis cilindros, 3.0, turbo. Claro que isso ficaria um pouco mais caro: € 468 (R$ 2.507).
O ideal, comenta Zanardi, é sair da garagem com um carro mais simples e menos potente se a pessoa nunca pilotou por lá. Isso porque, por mais que simuladores possam ajudar a conhecer o traçado, as diferenças de níveis da pista, altitude e até mesmo zebras, que são muito altas, só são efetivamente conhecidas com o volante em mãos.
Por questões de segurança, todos os que contratam os serviços da marca recebem um vídeo, em inglês - legendado, se necessário - que vai abordar temas como entrada e saída do veículo, posição das mãos no volante, onde acelerar e frear na pista, recomendações sobre temperatura de pneu, como dar passagem para veículos mais rápidos e, claro, respeitar todas as orientações e regras da pista, sob risco de banimento, caso alguma seja quebrada.
Pessoas que moram perto do circuito vão com o próprio carro. Então é mais difícil ter clientes alemães na empresa. Eles existem, mas são minoria. Por conta da maior facilidade do atendimento em português e espanhol, a maior parcela de clientes da Nürblife é de brasileiros e espanhóis.
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