Eles atendem Palmeiras e Flamengo e faturam com biometria facial para barrar brigões em estádios

O engenheiro Ricardo Cadar criou a Bepass, que tem parceria também com outros clubes, como São Paulo e Botafogo; tecnologia foi responsável pela prisão de 200 suspeitos

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Foto do author Felipe Siqueira

O primeiro contrato que conseguiram fechar, de acordo com o fundador da marca, foi por sorte. Uma oportunidade que não estava sendo esperada apareceu e eles estavam prontos para aproveitar o momento. A ideia inicial era atender condomínios corporativos, no estilo Faria Lima, em São Paulo. Hoje, o modelo de negócio da Bepass se concentra em clubes e estádios de futebol, com faturamento que chegou a R$ 8 milhões no ano passado.

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O primeiro contrato da marca foi com o Palmeiras, que manda seus jogos no Allianz Parque. Segundo a Bepass, desde novembro de 2022, 200 suspeitos foram presos com o auxílio da biometria facial da empresa, em parceria com o clube e com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Conheça, a seguir, a história da empresa.

Ricardo Cadar, fundador da marca, tem ligações muito fortes com o futebol - e desde muito cedo. Natural de Minas Gerais, a família dele possui vínculo com o Atlético-MG há cerca de 50 anos: ele e mais quatro parentes são conselheiros do clube. Quando criança, costumava entrar nos jogos acompanhando jogadores. E, hoje, com 53 anos, utiliza essa paixão para ganhar a vida.

Com 19 anos, ainda na faculdade de engenharia civil, resolveu montar uma construtora. Neste ínterim, dividia seu tempo entre a Universidade Federal de Minas Gerais e a empresa própria. “Eu fiz minha minha carreira na área de engenharia, sempre empreendendo. Primeiro, imobiliário, depois, estrada, e, depois, ruas e manutenção de cidades. Por fim, viramos uma companhia de loteamentos”, explica.

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O fundador e CEO da Bepass, Ricardo Cadar Foto: Divulgação/Bepass

Porém, décadas depois, decidiu diversificar a carteira de negócios. Surgiu uma oportunidade, em 2016, de comprar uma parte de uma recém-fundada startup de tecnologia com foco na área de biometria facial.

Entre 2016 e 2019, ele morou nos Estados Unidos, e o desejo de empreender com tecnologia foi aflorando mais e mais. Quando voltou ao Brasil, assumiu de vez o negócio voltado para biometria facial, como CEO. Depois de alguns poucos anos, porém, de acordo com Cadar, uma certa frustração foi batendo, já que o foco do negócio era somente lidar com a área pública.

A partir disso, veio a fundação da Bepass, com um principal intuito: realizar serviços voltados à biometria facial focando somente a iniciativa privada.

A ideia inicial era vender o conceito para condomínios corporativos, de escritórios. Porém, uma oportunidade surgiu para que o serviço fosse implementado no Allianz Parque, estádio do Palmeiras.

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“A gente praticamente se estruturou dentro do Palmeiras”, explica Cadar. A partir disso, viu uma oportunidade de nicho de negócio - ainda pouco explorado.

Com isso, o modelo de negócio da marca passou a ser totalmente pensado para esse tipo de iniciativa. A receita vem inteiramente de uma taxa cobrada por ingresso comercializado.

Quanto maior o público, maior a arrecadação, sendo que a instalação e as eventuais adaptações necessárias para o local são inteiramente custeadas pela Bepass. Atualmente, eles têm contratos com alguns dos principais clubes do País, como:

  • Palmeiras
  • São Paulo
  • Grêmio
  • Flamengo
  • Fluminense
  • Botafogo

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E os seguintes estádios:

  • Arena Fonte Nova, em Salvador, na Bahia
  • Vila Belmiro, em Santos, São Paulo
  • Arena das Dunas, em Natal, no Rio Grande do Norte

Luta contra violência e cambismo

Em 2023, foi aprovada e sancionada a Lei Geral do Esporte - de número 14.597. E isso foi feito depois de uma longa discussão pensando em possíveis soluções para dois temas que atingem o esporte no mundo inteiro: violência e cambismo. Além disso, a proposta do texto é unificar todas as diretrizes do esporte no País.

Tudo isso se tornará viável por meio da identificação - via biometria - de pessoas que não podem entrar nos estádios por conta, por exemplo, de episódios de violência durante partidas ou outros crimes. Demandas que a tecnologia da Bepass é capaz de atender.

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O professor de MBAs da FGV e relator da comissão de juristas do Senado que elaborou o anteprojeto da Lei Geral do Esporte, Wladimyr Camargos, diz que essa discussão se iniciou por volta de 2015, quando o documento começou a ser redigido por um grupo de especialistas - do qual ele fazia parte.

Em 2017, o projeto de lei de número 68 foi incluído na pauta do Senado e, em 2022, aprovado, seguindo, assim, para a Câmara dos Deputados. Como projeto de lei de número 1.825, foi aprovado no mesmo ano. Em junho de 2023, a lei foi sancionada.

“Tudo isso são formas de prevenção. Afasta os que já estão proibidos e ajuda a procurar eventuais foragidos”, diz Camargos.

Um outro ponto a ser ressaltado é em relação ao cambismo: como as autenticações dependem de cadastro sob um único CPF, se 100% dos ingressos são vendidos dessa maneira, ficaria impossível de se adquirir um ticket na rua para entrar no jogo.

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“Talvez este seja um dos principais pontos positivos desta nova lei”, comenta o advogado especialista em direito desportivo e sócio do Corrêa da Veiga Advogados, Mauricio Corrêa da Veiga.

Biometria em alguns estádios será obrigatória a partir deste ano

A Lei Geral do Esporte dá um prazo máximo de dois anos para eventuais adaptações necessárias. Como ela foi sancionada em junho de 2023, esse prazo será junho deste ano. Portanto, arenas com capacidade a partir de 20 mil pessoas precisarão atender a três pontos, conforme o artigo 148 da lei:

  • controle e fiscalização do acesso à arena esportiva por monitoramento via imagem das catracas
  • identificação biométrica dos espectadores acima de 16 anos
  • central técnica de informações, com infraestrutura suficiente para garantir os dois tópicos acima

Pagamentos via biometria facial

A Bepass também vai iniciar um projeto-piloto no Allianz Parque no próximo mês de março, durante partidas oficiais do Palmeiras, que permitirá o pagamento via biometria facial dentro do estádio.

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Quem já foi a algum evento de grande porte sabe que muitas vezes é necessário adquirir um cartão pré-pago e que, geralmente, custa até R$ 10, para poder consumir alimentos e bebidas.

Estes cartões costumam ser usados apenas naquele evento, e o valor investido dificilmente é revertido em crédito para compras.

No caso de eventos com biometria facial, em que esse cadastro já terá obrigatoriamente sido feito, será possível também, de maneira facultativa, acrescentar uma carteira virtual, com carregamento por pix, cartão de crédito ou débito, para transações via reconhecimento facial dentro do estádio.

Essa iniciativa, explica Cadar, está sendo estruturada por um braço da Bepass, a Bepay, em parceria com a ZigPay e com a Visa.

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Lidar com tecnologia é desafiador

De acordo com o vice-presidente da vertical de consultoria do Ecossistema 300 Franchising, Lucien Newton, é ótimo ter um mar azul de oportunidades, especialmente quando o tema é tecnologia, como já explicamos neste material sobre concorrência.

“Claro que existe o desafio de lidar com a baixa demanda, além de trabalhar para que o produto ou serviço se torne conhecido. Mas a possibilidade sempre é interessante”, ressalta o especialista.

Porém, o setor de tecnologia tem algumas peculiaridades que precisam de atenção. “Desenvolver e manter a tecnologia sempre custa caro. E ainda tem a questão de uma possível obsolescência rápida, em que tudo pode ficar ultrapassado numa velocidade incrível”, comenta Newton.

Avaliação de clientes

No site ReclameAqui, a nota da Bepass na categoria Geral, que envolve todo o tempo de vida no site, é 6,3 - considerada regular. São 216 postagens ao todo, sendo que 100% foram respondidas.

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No Google Meu Negócio, com uma nota que vai de 1 a 5 estrelas, a média deles é de 3,7. Os autores das notas concedidas não podem ser verificados. Eventualmente, avaliações positivas ou negativas podem ser uma ação a favor ou contra a empresa.