Não é raro ver publicações nas redes sociais, principalmente no Instagram e no TikTok, sinalizadas como publicidade ou parceria. Associar uma marca a uma pessoa famosa para impulsionar o negócio é uma estratégia antiga e se tornou ainda mais popular com o surgimento dos influenciadores digitais, mas funciona para pequenas empresas?
A resposta é sim, contudo, alguns cuidados são necessários. A analista de negócios do Sebrae-MG Daniela Soares afirma que, pelo lado positivo, o influenciador atua como uma ponte que liga a marca aos clientes.
“A pessoa vai ajudar a dar visibilidade para a empresa, por meio da conexão que ela tem com os seus seguidores, além de ser uma forma de ter vídeos e imagens de qualidade atrelados ao perfil do empreendimento”, avalia.
A especialista diz que as redes sociais se transformaram em uma vitrine para os negócios, e o influenciador é o profissional responsável por levar os consumidores até esse espaço.
“Se a parceria for feita do jeito certo, o empreendedor terá resultados positivos, seja no número de seguidores, no volume de vendas ou no fluxo de clientes na loja”, aponta Daniela.
A empreendedora Stefania Bonetti, de 32 anos, fundadora da Onda Eco, marca de produtos de limpeza ecológicos que nasceu em 2020, em Curitiba (PR), viu nos influenciadores uma forma de comunicar o que as prateleiras de mercado não conseguiam.
Os produtos são comercializados online e em pontos de vendas físicos, em estados do Sul e do Sudeste, mas Stefania achava que só os rótulos e as descrições do site não eram suficientes para convencer os clientes sobre os diferenciais da Onda Eco.
“A gente precisava de alguém que não só divulgasse, mas que também explicasse os benefícios para as pessoas. Dentro da nossa estratégia de iniciativas digitais, o marketing de influência tem um papel fundamental para propagar o conhecimento sobre a marca”, afirma a empreendedora.
Estudar o perfil do influenciador é essencial para evitar polêmicas
Como citado no começo desta matéria, a parceria com influenciadores digitais pode ser positiva para pequenas empresas, mas exige alguns cuidados. Em primeiro lugar, Daniela aponta que o empreendedor precisa definir quais são os seus objetivos com a ação.
As postagens podem ter a intenção de impulsionar as vendas, o número de seguidores ou a visibilidade da marca nas redes sociais. Nenhuma das opções é incorreta, mas é preciso definir a meta antes de escolher o influenciador ou o investimento pode ser desperdiçado.
Depois, é fundamental estudar o perfil das pessoas selecionadas. “O escolhido precisa ter familiaridade com o setor e valores alinhados à missão da marca”, aponta a analista de negócios do Sebrae-MG.
Ela destaca que fugir de perfis polêmicos é um cuidado essencial, já que a imagem da empresa estará atrelada à do profissional. A Onda Eco já encerrou contratos por comportamento inadequado na pandemia e posicionamentos controversos que não refletiam os valores do negócio.
“Para nós, é muito importante entender se o estilo de vida e conceitos do influenciador são compatíveis com os princípios da Onda Eco, para que seja de fato uma mensagem real”, diz Stefania.
Daniela afirma que uma forma de evitar alguns problemas é produzir um briefing detalhado. O ideal é incluir informações como:
- Os produtos ou serviços que vão aparecer no conteúdo
- O que a empresa espera dos vídeos ou fotos
- O formato e quantas postagens serão feitas
- As redes sociais que serão utilizadas
- As datas de publicação
Para garantir conteúdos de qualidade, é importante dar liberdade para que o influenciador produza os materiais com um toque pessoal, mas sempre com os detalhes alinhados para evitar erros de comunicação.
“Uma informação errada pode gerar uma crise para a empresa. O perfil pode promover dados sobre uma promoção que não são verdadeiros e causar um transtorno, já que os clientes vão atrás de um benefício que não é real. Para ser algo positivo, tem que evitar ruídos”, analisa.
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Nano e microinfluenciadores são opçõe para pequenas empresas
Engana-se quem pensa que os perfis com milhões de seguidores são a melhor opção sempre. Para os pequenos negócios, os nanoinfluenciadores, com até 10 mil seguidores, e microinfluenciadores, com até 100 mil seguidores, podem ter um resultado mais eficiente.
Daniela explica que os perfis locais costumam despertar mais confiança nos internautas, além de possibilitarem a realização de ações presenciais. Também é possível procurar por pessoas focadas em um assunto específico, que estejam alinhadas com a marca, já que fica mais fácil atingir o público-alvo.
“O custo-benefício também precisa ser considerado. É mais fácil negociar com influenciadores menores, tanto valores quanto a forma como o serviço será feito. O impacto nos clientes é maior, e os gastos com perfis pequenos são menores”, afirma.
Na hora de selecionar um perfil, Stefania diz que analisa mais o engajamento do que o número de seguidores. “Como nós trabalhamos com públicos nichados, os perfis menores tendem a ter seguidores mais fiéis e com interesses alinhados ao que temos a oferecer”, afirma.
O empreendedor pode negociar uma publicidade, na qual há o pagamento em dinheiro pela publicação, ou uma parceria, onde existe uma troca de serviços entre a empresa e o influenciador sem um contrato financeiro.
Todas as postagens, independentemente do tipo de acordo, precisam ser identificadas como tal, para não haver problemas com o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) ou com o Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Como escolher o influenciador adequado para a sua empresa?
Não existe uma receita para encontrar o perfil ideal para a sua empresa, mas analisar o seu público-alvo ajuda a chegar a algumas respostas. Para começar, é importante entender em qual rede social ele está.
Apesar de serem mais comuns no Instagram e no TikTok, as parcerias podem chegar a outras plataformas, como o X - antigo Twitter - e o Facebook. Depois, é a hora de descobrir o tipo de conteúdo que essas pessoas consomem e quem produz.
Stefania conta que busca selecionar perfis que tratem de saúde e sustentabilidade. Para temas específicos, que envolvam alguma característica técnica dos produtos, ela opta por influenciadores com algum tipo de formação.
“Temos uma parceira que é nutricionista. A escolhemos para falar sobre problemas de saúde e intoxicação atrelados a produtos de limpeza convencionais, porque é uma profissional da área. Isso gera credibilidade para o conteúdo, e credibilidade é algo que valorizamos acima de tudo”, comenta.
A empreendedora não revela os números do impacto no faturamento e no aumento das vendas, mas afirma que a parceria com influenciadores se tornou essencial para o negócio.
Ao selecionar alguns perfis, Daniela recomenda que o empreendedor analise os insights para mapear alcance, engajamento e potencial do influenciador. Novamente, é essencial checar se a pessoa não está envolvida em polêmicas que possam prejudicar o trabalho.
A analista de negócios do Sebrae-MG afirma que existem ferramentas que ajudam a filtrar as contas, como o Airfluencers e o BuzzSumo, mas que, no caso das pequenas empresas, é possível economizar e fazer a busca manualmente.
“É importante analisar o comportamento dos seguidores que o negócio já tem e ver quais perfis de influenciadores eles seguem. Assim dá para classificar quem são os formadores de opinião locais”, conclui Daniela.
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