O Brasil ganhou mais de 3,9 milhões de microempreendedores individuais (MEI), micro e pequenas empresas em 2024. Dados do Sebrae mostram que somente em novembro foram abertos 321 mil pequenos negócios, o que indica um crescimento de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior. O que novos e antigos empreendedores podem esperar de 2025?
O economista e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) Renan Pieri afirma que o cenário econômico dos últimos dois anos foi positivo para as empresas e não deve ser muito diferente em 2025.
Dois fatores devem contribuir para esse panorama: a queda da taxa de desemprego e o aumento na média salarial dos brasileiros. “Mais pessoas ocupadas geram um consumo maior. Se elas ganham mais, vão gastar mais também, o que é propício para os negócios”, analisa Pieri.
Contudo, o economista aponta que os empreendedores precisam aproveitar o bom momento, porque o próximo ano deve ser o último do ciclo econômico positivo. Ele aponta que o aumento da taxa de juros e da inflação pode levar a uma desaceleração do consumo.
“O cenário econômico em 2025 não será muito diferente do que vimos em 2024, mas algumas mudanças podem incomodar o consumidor. A perspectiva é positiva, porque apesar de mais elevadas, as taxas não estão fora de controle”, completa.
Pequenos negócios devem tomar cuidado para não se endividar
Uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC) em parceria com o Estímulo, fundo de impacto que apoia pequenas empresas, mostrou que 45% dos empreendedores brasileiros estão endividados.
Pieri afirma que sair do endividamento será mais desafiador em 2025, porque a tendência é que, com a taxa de juros mais alta, o crédito fique mais caro.
“Não só os donos de negócios podem ter dificuldades para conseguir dinheiro e quitar as dívidas, como o cliente também vai encontrar desafios para financiar produtos com preços mais altos”, explica.
A melhor forma de lidar com o endividamento é evitar entrar nele. A consultora de negócios do Sebrae-SP Adriana Montoro diz que o empresário precisa investir em ferramentas que ajudem a profissionalizar a gestão financeira, além de fazer um acompanhamento diário, para não acumular contas que exijam a aquisição de crédito.
“É importante analisar o que a empresa tem a pagar, mas também o que ela tem a receber. Às vezes, a pessoa se endivida porque não tem controle sobre o quanto ganha”, destaca Adriana.
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Planejamento traz liberdade de escolha para o empreendedor
Para garantir a sobrevivência do negócio em 2025, Pieri aponta que será essencial buscar por uma estrutura de capital saudável, o que começa com o planejamento.
Estar preparado para lidar com imprevistos dá ao empreendedor a chance de fazer boas escolhas. Se for necessário trocar equipamentos ou atualizar o estoque, por exemplo, é mais fácil negociar valores e pagamentos com dinheiro na mão.
“Planejar traz segurança para a empresa, além de permitir que ela aproveite as oportunidades de expansão que podem surgir”, analisa o economista.
Nada melhor para ensinar o que funciona ou não do que os erros. Adriana diz que o início de um novo ano pede que a pessoa tire um tempo para analisar tudo o que aconteceu no último ciclo. Ela indica três perguntas que devem ser respondidas:
- O que eu quero para 2025?
- Quais serão os meus desafios?
- Quais serão as minhas metas?
“A base do planejamento é definir objetivos, desde volume de vendas até faturamento e lucro. Esse é o momento de ver o que aconteceu em 2024 e projetar um futuro melhor”, afirma a especialista.
Como as pequenas empresas podem se preparar para 2025?
Mesmo sem grandes mudanças, o cenário econômico vai exigir que o empreendedor saiba se diferenciar para conquistar os brasileiros que entraram ou retornaram ao mercado de trabalho há pouco tempo.
Pieri destaca que é importante analisar a concorrência, para ver o que é oferecido, e buscar apresentar algo novo. Para chegar às respostas certas, é essencial ouvir os desejos dos consumidores.
“A empresa tem que saber onde o cliente encontra produtos semelhantes, se ele gosta de comprar na loja ou online e se prefere indicações boca a boca ou nas redes sociais. É uma análise da experiência de consumo que vai salvar o empresário de apostar no cavalo errado”, completa.
Adriana aponta que, além de atrair novos consumidores, também é fundamental investir na manutenção dos relacionamentos que já existem. Isso passa por fatores como atendimento, qualidade do site ou da loja física e presença nas redes sociais.
“É nos detalhes que o negócio pode sobressair. Desde características vinculadas à estrutura, como a fachada do estabelecimento, até pontos humanizados, até como prestar um atendimento no qual o cliente sinta o propósito da marca, são detalhes que fazem a diferença”, conclui.
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