O publicitário Toshio Hito, de 52 anos, começou a empreender em 2007 com R$ 5 mil, como pipoqueiro ambulante nas ruas de Marília (SP). O início com apenas um carrinho colorido e o suporte da esposa veio a se tornar a Pop’s Fantasy, uma loja de pipocas saborizadas, que atende 14 estados brasileiros e faturou R$ 1,7 milhão em 2022.
Descendente de japoneses, antes de empreender Hito morou 10 anos no Japão a sua futura esposa Suzana Hito, 51. Lá ele trabalhou em fábricas como operador de máquinas, com produtos eletrônicos, serralheria e até processamento de peixes.
Em 2007, voltou ao Brasil para casar-se. Na ocasião, o casal precisou ficar no País para cuidar da mãe de Suzana, que adoecera. Sem nenhuma perspectiva de conseguir um emprego, mas precisando de dinheiro, os dois resolveram colocar em prática um plano antigo: empreender.
Carrinho de pipoca foi solução barata para começar negócio
Toshio pensou em um negócio diferente com um produto que não exigia muito investimento financeiro: pipoca. “Naquele ano, a pipoca ainda não tinha inovação. No Brasil, era somente a branca, no cinema, ou em casa, feita no microondas. Os pipoqueiros estavam sempre do mesmo jeito: de jaleco branco ou em tendas. Vi uma oportunidade porque todo mundo gosta de pipoca, independe da classe social”, diz.
No início, Toshio e Suzana investiram cerca de R$ 5 mil em um carrinho com uma pipoqueira embutida, e um pequeno galpão para armazená-lo à noite. O carrinho era todo colorido, assim como as pipocas, que têm uma cor para cada sabor: vermelhas, de morango; roxas, de uva; marrons, de chocolate; azuis, de tutti frutti.
Os saquinhos que embalavam o produto eram transparentes, justamente para mostrar o diferencial a quem os via passando pela rua. “Como se fossem presentes”, explica Toshio.
O nome Pop’s Fantasy veio de um desejo ambicioso: “Coloquei um nome internacional na intenção de ganhar o mundo, sonhador”, brinca.
Mas a escolha também foi estratégica, na intenção de fugir de preconceitos. “Não queria que ficasse estigmatizado como ‘Pipoca do japa’”, revela.
O casal abriu um espaço físico da Pop’s Fantasy em Marília em 2013, depois de mais de seis anos se aventurando debaixo de sol e chuva pelas ruas da cidade.
Hoje, o espaço de 260 m² conta com 12 colaboradores, com vagas reservadas para imigrantes e refugiados venezuelanos.
“Assim como já fomos dekasseguis (brasileiros de origem japonesa que imigram ao Japão para trabalhar), há mão de obra qualificada vinda da Venezuela, e com boa vontade. É um resgate das nossas raízes enquanto imigrantes”, explica.
Teve medo do preconceito contra ambulante
Além do estigma com as suas origens, Toshio Hito teve medo de sofrer preconceito ao decidir virar ambulante. Filho de pais rigorosos, que seguiam o tradicional sistema de educação japonês, o empresário sempre tirou boas notas na escola.
Isso colocou em cima dele expectativas diferentes do caminho que ele escolheu traçar, fora do trajeto acadêmico tradicional.
“‘Poxa, Toshio tinha boas notas’, todo mundo dizia. Quando vai ver, estou trabalhando como ambulante na rua. Não é o que se espera aos 36 anos. Imagina-se que haja um mínimo de estabilidade nesse ponto. Mas, às vezes, a vida te leva a isso”, declara o CEO da Pop’s Fantasy.
“Eu blindava a minha mente para não me sentir mal, e sim orgulhoso por mudar a forma de o brasileiro comer pipoca”, recorda-se.
Ele e Suzana, que também empurrava o carrinho nas ruas, passaram a focar em um lema japonês sobre o mérito de escolher a trajetória mais difícil – nesse caso, o de “pensar em inovação, colocar a mão na massa e ter paciência para ver o resultado”, como diz o empresário.
Como não era comum haver pipoca gourmet, os empresários realizaram uma série de testes para descobrir como deixar o produto com sabor de frutas, além de desenvolver a sua própria máquina para uma produção ainda inexistente no País (pipocas de diferentes sabores).
Só para descobrir uma forma de aumentar o prazo de validade do produto, sem aditivos, que viabilizasse a sua exposição, foram necessários mais de sete anos de testes. Hoje, cada porção de pipoca, vendida em um pote transparente com tampa lacrada, tem validade de um ano.
Como o mercado de pipocas se popularizou com o passar dos anos – do que Toshio orgulha-se de ter contribuído –, o casal lançou também algodões doces coloridos, atualmente responsáveis pela metade das vendas da empresa.
Mas a popularização não preocupa Toshio. “Pipoca qualquer um fabrica, o nosso diferencial é o encantamento. A nossa missão é surpreender, encantar, inovar. É a nossa base, é como transmitimos ao público aquela sensação de quando estávamos com o carrinho: de alegria”, diz.
Nos pontos de venda, as pipocas de 55g a 70g (a depender do sabor) são vendidas por cerca de R$ 13,90 – mesmo preço do algodão doce, de 30g, disponível também em diversas cores e sabores, como banana amarela, coco branco e tutti frutti rosa ou azul.
Empresário espera 2024 mais positivo
Durante a pandemia de covid-19, o Pop’s Fantasy ficou por volta de um ano com funcionamento reduzido, uma vez que a venda principal é feita para estabelecimentos como quiosques de shoppings centers e padarias, que ficaram fechados no período. O faturamento caiu 24%, ficando em R$ 700 mil em 2020.
A recuperação foi rápida: em 2021, a empresa fechou o ano em R$ 1,3 milhão. Mas, desde a crise, a sazonalidade da venda do produto tornou-se imprecisa, lamenta Toshio. O problema ainda tem afetado o negócio, apesar dos bons resultados.
Para 2023, a expectativa é de que o Pop’s Fantasy alcance um faturamento de cerca de R$ 1,5 milhão – uma queda de quase 15% em relação ao faturamento do ano passado, de R$ 1,7 milhão.
Apesar disso, Toshio tem uma perspectiva mais positiva para 2024. “Chegaremos a mais estados do Brasil e fortaleceremos a nossa atividade naqueles onde já atuamos”, afirma.
Nos últimos seis anos, a Pop’s Fantasy vendeu mais de 2 milhões de unidades de pipocas e algodão doce. O faturamento da marca cresceu 750% nesse período.
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