Às vésperas da Copa do Mundo, as camisetas oficiais da seleção brasileira desapareceram das prateleiras das lojas. A Nike, fornecedora oficial dos uniformes da seleção, diz que as compras superaram todas as previsões positivas. Além da Copa, que começa neste domingo, 20, as eleições presidenciais e as manifestações de bolsonaristas, que adotaram a camisa verde e amarela como uniforme, também ajudaram no aumento da procura. Lojistas dizem que as vendas da camiseta até outubro foram muito boas.
Na Rua 25 de Março, em São Paulo, um dos principais centros populares de compras do País, lojistas reclamam que estão perdendo vendas pela escassez do produto oficial, o que acaba empurrando os consumidores para o comércio de peças falsificadas.
Na semana passada, a reportagem do Estadão percorreu as lojas da famosa rua de São Paulo e verificou os efeitos desse cenário. De um lado, estabelecimentos que vendem uniformes oficiais tendo de explicar para os clientes que as camisetas, de cerca de R$ 350, acabaram, sem previsão de data para reposição. Do outro, barraquinhas com peças falsas cheias – de clientes e de camisetas verde e amarelas.
De acordo com Gutemberg Sales, analista de compras de uma loja de material esportivo da 25 de Março, os pedidos foram feitos em novembro de 2021, mas, até agora, o local não recebeu nem 1% do que foi solicitado junto à empresa. “Perdemos muita venda por aqui. A todo momento temos de explicar para os clientes que o produto está em falta.”
E os produtos também estão em falta na “fonte”. No site da Nike, na aba especial para a seleção brasileira, não há camisas de jogadores, nem azuis nem amarelas. É possível apenas encontrar algumas coleções especiais, como camisas com cores mais chamativas, com o símbolo da CBF, mas que não são as de jogo, além de shorts e blusas.
No catálogo da rede Centauro, que faz parte do mesmo grupo da Nike no Brasil, o SBF, também não há exemplares da “amarelinha”. No endereço eletrônico da varejista, não há peças e, nas redes sociais, quando consumidores questionam se haverá reposição, a empresa afirma que não há certeza se isso acontecerá até o início da Copa. “Por ora, estamos sem camisa da seleção. Estamos fazendo o possível para repor antes da Copa. Porém, ainda não temos previsão”, disse o perfil oficial da Centauro no Instagram na aba de comentários de uma das publicações, em resposta a um seguidor. As dúvidas de clientes na internet remontam há, ao menos, cinco semanas.
A reportagem também entrou em contato com algumas lojas físicas da Centauro, em São Paulo e no ABC, e em todas o produto estava em falta ou tinha algumas unidades da camisa azul - número dois do kit. Em um dos casos, o estabelecimento informou que os materiais chegaram e se esgotaram no mesmo dia.
Consultada pela reportagem, a Nike, por meio da Fisia, que é a distribuidora oficial da marca no Brasil, informou que a companhia está, desde agosto - quando os materiais foram lançados - trabalhando em ritmo acelerado para suprir as demandas pelos produtos.
“A marca informa que algumas peças se esgotaram no mercado e, apesar do desabastecimento momentâneo, novos produtos estão sendo disponibilizados para reposição semanalmente e reforça que as camisas também podem ser encontradas em outros pontos de venda do mercado, enquanto durarem os estoques.”
Falsificações
A falta das camisas oficiais na 25 acabou abrindo uma brecha para os falsificados, diz Gutemberg Sales. E não é difícil comprovar a tese. Durante a reportagem, o Estadão viu inúmeras barracas com camisas fake cheias. A todo momento as pessoas paravam para perguntar preços - que chegavam a R$ 100, quase um terço do valor da original.
Em determinados momentos, os vendedores na 25 de Março, tanto de produtos oficiais quanto de falsificados, dizem não entender se quem compra camisas da seleção está pensando em Copa do Mundo ou em manifestações políticas, como as recentes, em rodovias, a favor do atual presidente Jair Bolsonaro. “A venda de produtos oficiais do Brasil na Copa não começou, a gente acabou vendendo na época de manifestações, porque, agora, não temos produtos”, diz Sales, que trabalha em revendedora de produtos oficiais na 25 de Março.
O comerciante Jesse de Queiroz, proprietário de três bancas de artigos esportivos na 25 de março, afirma, no entanto, que muitos clientes não querem comprar a camisa amarela por causa da política. O cenário em 2018 era outro. “Há quatro anos as vendas eram um ‘pipoco’.” Na época, ele costumava vender em média 250 camisas por dia. Nesta edição da Copa, o número não passa dos 60. Até outubro, no entanto, as vendas foram muito boas. Agora deu uma diminuída, diz.
As réplicas comercializadas nos estabelecimentos de Jesse custam em torno de R$ 90, chamadas de primeira e segunda linha. Com o início das partidas da seleção brasileira, a expectativa é que a procura pelo vestuário de baixo custo aumente. “Aqui tem bastante gente que compra réplica, então, talvez tenha uma crescente após o primeiro jogo”, diz ele, destacando que hoje a camisa azul tem tido a preferência do público.
A ausência das amarelinhas também tem a ver com a concorrência entre eventos de fim de ano e Copa, afirma Vandir Borges, atendente de outra loja de produtos oficiais na 25. O comerciário defende que a data de realização do evento esportivo atrelado ao período natalino foi um fator de impacto para as vendas. Os produtos ficaram divididos e o nosso investimento foi direcionado aos artigos de fim de ano. “A comemoração da Copa não é uma certeza, então, não podíamos correr risco.”
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