“Os hóspedes são pets e os humanos, acompanhantes”. É assim que a CEO da Vila Ayê, Ana Luiza Russo, descreve a pousada que administra em Socorro, interior de São Paulo. Em operação desde 2015, o empreendimento que nasceu como uma simples estadia que aceitava pets foi se transformando até ser completamente adaptado para eles. Em 2023, o negócio faturou R$ 1,8 milhão.
O sucesso foi tanto que, atendendo a uma demanda dos hóspedes que têm os bichos como parte da família, a publicitária de 48 anos lançou uma rede de franquias na semana passada. Ainda em fase de negociação das primeiras unidades, a empresa espera chegar a 20 pousadas até o fim do ano – cada uma com faturamento anual estimado em R$ 2 milhões.
Cachorros são 95% dos hóspedes, gatos são 3%, e outros animais, como papagaios, calopsitas, porquinhos da índia, tartarugas, lagartos, 2%. Todos os portes e raças são admitidos, desde que sejam domésticos.
A única restrição da empresa diz respeito ao comportamento dos pets: os tutores assinam um termo de responsabilidade garantindo que o animal é sociável e amigável com outros animais e seres humanos.
“Se é muito reativo, agressivo, nós recomendamos adestramento e socialização antes de viajar, para o bem-estar de todos”, explica. Segundo Russo, a pousada de cerca de 2 mil metros quadrados comporta 22 pessoas e 16 pets.
No local, não é incomum ver pitbull brincando com shih-tzu, pastor alemão com labrador e gatos no meio dos cachorros. “É um ambiente pequeno, o manejo é fácil. Nunca fica aglomerado, e as pessoas conseguem ter controle da matilha de forma tranquila, sem precisar separar os pets”, afirma.
No entanto, caso o tutor prefira, pode manter os animais dentro do seu chalé. As oito acomodações privativas têm entre 28 e 48 metros quadrados e comportam quatro animais de pequeno porte, três médios ou dois grandes, além de uma a cinco pessoas. Todas têm varanda com tela de proteção.
100% pet friendly
A ideia do negócio veio de uma necessidade sentida pela empresária Ana Luiza Russo. “Sempre fui ‘bicheira’: tinha gato, um cachorro de mais de 65 quilos, cuidava de ouriço, gambazinho, lagarto… mas não conseguia viajar com todos eles”, lembra.
A pousada que mantinha desde 2015, batizada inicialmente de Chalés Santa Catarina, já aceitava animais de estimação, mas a dificuldade que encontrava para inserir todos os pets nas suas viagens a incentivou a fazer do local um espaço diferente, onde todos seriam aceitos.
“Fomos adaptando a pousada para nos tornarmos pet friendly cada vez mais, até criar essa hospedagem para pets, com lugares preparados e segurança para recebê-los”, conta.
O ambiente é completamente cercado e todos os portões com acesso para a rua são duplos, com sistema contra fugas: a pessoa precisa abrir e fechar um primeiro portão para abrir o segundo. “Então, os pets ficam livres na pousada”, explica.
Ao chegar, o pet recebe um kit de boas-vindas, com tapete higiênico, biscoitos, bandanas, cobre leito, toalha e extensor de guia. Às manhãs, é servido com um café da manhã. Todos os espaços da pousada, como “espaço zen”, bangalôs relaxantes, ofurô aquecido, parques com chaise longue e balanço, têm a versão correspondente para os pets.
Existe até uma piscina adaptada para eles, onde os animais de qualquer idade, entre 1,1 kg e 80 kg, inclusive com deficiência, podem entrar e sair sozinhos por meio de uma rampa. A água é tratada com uma espécie de filtro potente com ozônio para permanecer cristalina mesmo após a permanência dos mais peludos.
Em parceria com uma empresa de ecoturismo, a Villa Ayê oferece passeios, trilhas em cachoeiras e rafting para pets. Na volta, os tutores têm acesso a uma área de banho exclusiva para animais, equipada com shampoo, toalha e secador.
A diária pet é de R$ 65, independentemente da espécie e porte do animal. Para as pessoas, inclusive que podem se hospedar no local sem pets, a diária custa a partir de R$ 650 no modelo “conforto”, e R$ 840 na acomodação “luxo”.
Rede de franquias
Após a estadia, os “pais de pets” costumavam pedir que o negócio fosse ampliado para que eles pudessem viajar para outros lugares com os seus animais. De acordo com Russo, é comum que locais que se dizem “pet friendly” imponham uma série de regras e restrições.
Em 6 de abril, a franquia foi lançada para atender os pedidos. O plano de expansão foi iniciado há cerca de um ano, quando a empresária contratou uma consultoria especializada para entender se o negócio era escalonável.
“Vimos que tem muito potencial”, revela Russo. O noivo da publicitária, Silas Vieira, 49, entrou como sócio da franqueadora, com investimento de R$ 150 mil para a formatação administrativa e financeira do modelo de negócio.
São dois tipos de franquia: a “virada de bandeira”, em que o empresário já tem uma pousada ou hotel e escolhe se adequar às diretrizes da Villa Ayê, e a construção, onde a operação começa do zero.
Em ambas as situações, as unidades terão cerca de 2 a 3 mil metros quadrados, funcionarão com 10 unidades habitacionais, toda a infraestrutura para o lazer dos pets e seres humanos e de serviços, além do estacionamento para hóspedes.
Veja os valores:
Virada da bandeira
- Investimento inicial total: R$ 80 mil (taxa da franquia) + R$ 395 mil a R$ 650 mil (custo da adaptação da estrutura, a depender do estado e do imóvel)
- Royalties/mês: 7,5%
- Faturamento médio mensal: R$ 130 mil a R$ 200 mil
- Conclusão da reforma e começo da operação: 4 a 6 meses
- Lucro médio mensal: 21% a 24%
- Prazo de retorno do investimento: 22 meses
Construção do zero
- Investimento inicial total: R$ 80 mil (taxa da franquia) + R$ 1,2 milhão a R$ 1,4 milhão (custo da obra)
- Conclusão da reforma e começo da operação: 8 a 10 meses
- Royalties/mês: 7,5%
- Faturamento médio mensal: R$ 130 mil a R$ 200 mil
- Lucro médio mensal: 21% a 24%
- Prazo de retorno do investimento: 26 meses
*Nos 2 modelos, o valor para capital de giro de R$ 50 mil já foi considerado.
Reputação
No Google, a pousada Villa Ayê tem avaliação 4,7 de 5 dada pelos hóspedes e clientes. Dos 389 comentários, apenas nove deram a pontuação mais baixa. A maioria das críticas se refere à disparidade entre o preço cobrado e a estrutura e localização do empreendimento. Todos foram respondidos pela empresa.
Segmento “pet friendly” está na moda
Para o consultor de negócios do Sebrae-SP Ruy Barros, as empresas que adotam o modelo “pet friendly” têm mais oportunidades de atrair a simpatia dos clientes. “Os casais jovens estão preferindo ter um pet para cuidar antes de ter filhos, e as famílias já veem o pet como um membro, por isso a atenção dada a eles é um diferencial competitivo para o segmento”, avalia.
Apesar disso, o especialista recomenda uma série de cuidados necessários ao investir em uma franquia. “Somente a compra da marca não faz um empreendedor de sucesso”, ressalta. De acordo com ele, a transferência da tecnologia e do know how do franqueador é indispensável.
Isso acontece porque, como Barros frisa, “há pouca independência” nesse tipo de negócio. Segundo ele, existe o risco associado à performance da franquia, e o empreendedor terá que trabalhar com os métodos de atuação do franqueador.
No entanto, há as vantagens como uma maior garantia de sucesso e a possibilidade de ter um negócio sem precisar “inventar a roda”. Ademais, o investimento é menor, pois é absorvido pela rede, e o empreendedor pode contar com o apoio contínuo da franquia para ajudar na prosperidade do negócio.
Antes de tomar uma decisão, Barros sugere que o interessado analise o custo total da instalação da franquia, gastos com estoque, marketing, treinamento e manutenção. O ideal é que a pessoa entenda previamente quais são as cobranças de taxas e de que forma elas incidem sobre o resultado, qual será o faturamento médio e o prazo estimado de retorno, e, principalmente, se há compatibilidade entre o investimento inicial e as suas possibilidades financeiras.
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