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Publicitário cria projeto para resgatar técnicas antigas de conservação de pescado

Projeto A.mar FishLab capacita pescadores e moradores de comunidades de Ilha Bela no beneficiamento do pescado

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Foto do author Bruna Klingspiegel
Atualização:


Apaixonado pelo mar desde pequeno, o paulistano Rodolfo Vilar passou a infância e a adolescência pescando e surfando nas águas de Ubatuba e Ilha Bela, no litoral de São Paulo. Sempre foi fascinado pela relação que os caiçaras tinham com a natureza. E, por isso, durante anos escolheu passar todos os fins de semana na praia com os locais que viviam exclusivamente da pesca artesanal.

“A minha paixão sempre foi ficar lá pescando com os meninos. Tudo que vem do mar é um mistério e eu aprendia muito todos os dias”, conta Vilar, que fez faculdade de publicidade e especialização em finanças. Em 2020, ele decidiu se mudar definitivamente para Ilha Bela e pôr em prática tudo que aprendeu nos bancos da faculdade e com a vivência com os pescadores da Praia do Bonete, em Ilha Bela.

O projeto A.mar Fishlab de Rodolfo Vilar (na foto) nasceu em 2017 com o objetivo de criar soluções para gerar autonomia alimentar e um complemento de renda para as famílias que viviam nas comunidades tradicionais na Praia do Bonete, em Ilha Bela.FOTO: EVELSON DE FREITAS/ESTADAO  Foto: ESTADAO / ESTADAO CONTEUDO

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Vilar deu início a um projeto para valorizar a cultura local, gerar autonomia alimentar e um complemento de renda para as comunidades tradicionais locais. “Para o mercado, o pescador não tem nome, mas são famílias envolvidas. É a Dona Cleide, o Seu Elias, o Alex, o Pedro que tem seus sonhos e sua cultura desvalorizada.”

O convívio com os pescadores aproximou Vilar da dura realidade dos moradores da região. Até 2017, a comunidade não tinha energia elétrica e, portanto, não havia alternativa de conservação dos pescados, o que dificultava a venda e o próprio consumo local. Sem muita estrutura no início, o projeto nasceu para gerar a autonomia alimentar na região do Bonete, ensinando técnicas de defumação feitas com o próprio fogão a lenha das casas.

A iniciativa evoluiu e hoje capacita pequenos grupos de pescadores e comunidades tradicionais de todo o Brasil. Um dos pilares do A.mar FishLab é o resgate de técnicas antigas de conservação do pescado. São 32 produtos organizados em 5 técnicas de conservação: salga, defumação, conservas, charcutaria e fermentação. “O Carapau, por exemplo, custa R$12,00 o quilo em seu estado natural. A defumação pode agregar 28 vezes esse valor.”

Além disso, a capacitação também envolve uma atividade anterior ao beneficiamento de produtos que é a chamada despesca ou tudo o que acontece quando o pescado sai da água e chega até a mão do consumidor.

O projeto atua capacitando pescadores e comunidades de todo o Brasil através do resgate de técnicas antigas de conservação do pescado. São 32 produtos organizados em 5 técnicass principais de preservação: salga, defumação, conservas, charcutaria e fermentação. FOTO: EVELSON DE FREITAS/ESTADAO  Foto: ESTADAO / ESTADAO CONTEUDO

Segundo Vilar, 90% da qualidade do pescado é resultado dos primeiros 10 minutos a partir do momento em que ele sai da água. Nesse período, o pescador precisa tomar uma série de providências para garantir um pescado com maior qualidade e mais durabilidade, conseguindo comercializá-lo por um preço melhor. “Quanto maior a qualidade do pescado, mais tempo e mais opções de escolha o pescador tem para vender seu produto.”

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Vitrine para as comunidades

Reconhecida por grandes instituições como o Instituto da Pesca e o SeaFood Watch, líder global do movimento sustentável de frutos do mar, a iniciativa funciona como uma vitrine para expor essas comunidades tradicionais isoladas e valorizar as famílias que vivem da pesca artesanal no litoral brasileiro.

Em um laboratório localizado na Praia da Armação, técnicas antigas de preservação de pescados sem energia elétrica são testadas. Da charcutaria a bottarga, o foco é trabalhar com espécies de peixes pouco conhecidas e não tão valorizados pelo mercado tradicional como a Guaivira, a Bicuda, Sororoca, a Trilha e a Betara.

Com recursos próprios e sem fins lucrativos, o projeto se financia através de palestras, workshops e visitas técnicas. Em pequenos grupos também é possível conhecer tudo sobre o projeto e explorar o laboratório com degustação dos produtos e jantar assinado pelo Chef Caio Ikunu.

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