Rock in Rio: Pequenos negócios de alimentação mostram potencial no festival

Empreendedores de comunidades do Rio de Janeiro foram selecionados para estar no Espaço Favela por meio de parceria com o Sebrae-RJ; comida vegana também é destaque no evento

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Foto do author Ludimila Honorato

O Rock in Rio, como um dos maiores festivais de música do mundo, dá grande visibilidade a artistas e estilos musicais de forma inovadora. Mas nem só de hits é feito o evento. A estrutura montada no Parque Olímpico do Rio de Janeiro também vai mostrar o potencial de pequenas empresas do ramo de alimentação, que integram o circuito gastronômico durante os sete dias de festa.

Pela segunda vez, a organização do evento fez uma parceria com o Sebrae-RJ para levar negócios da periferia para o Espaço Favela, ambiente dedicado à cultura carioca periférica. Neste ano, 24 bandas vão se apresentar no local, além de DJs e bailarinos de diferentes comunidades do Rio.

A empreendedora Cláudia Pereira da Silva, da Pote Bem Estar, foi uma dos 21 empreendedores de favela selecionados para estar no Rock in Rio. Foto: Rossana Fraga

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A união entre ambos começou em 2019, quando o espaço foi incorporado pela primeira vez. “O Sebrae-RJ atua com o fortalecimento dos empreendedores nas favelas desde 2010. Começamos no município do Rio e expandimos para a Baixada. Por conta do histórico, eles nos procuraram para a parceria e em 2022 estamos repetindo esse sucesso”, diz a analista da instituição, Juliana Oliveira.

Com base nesse trabalho junto aos empreendedores, a equipe fez uma curadoria e, após uma banca de avaliação, chegou a 40 empresas. Nessa primeira etapa, os produtos foram degustados e se levou em conta também o processo de produção, a história do empreendimento, se estava com CNPJ regularizado, com documentação da vigilância sanitária e alvará de autorização em dia.

Juliana explica que donos receberam capacitação sobre como é participar de grandes eventos como fornecedor, manipulação de alimentos e gestão. Depois, eles tiveram de fazer um pitch, em que se avaliou o comportamento empreendedor e poder de comunicação, por exemplo.

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Por fim, 21 empresas oriundas de 18 comunidades, entre bares e restaurantes, foram selecionadas para estarem no Rock in Rio. Durante todo o mês de agosto, elas receberam consultoria e capacitação empreendedora, inclusive sobre marketing.

“O Sebrae-RJ montou uma cozinha industrial para os empreendedores produzirem lá, seguindo as normas de segurança alimentar, e todos eles foram preparados para estar no Rock in Rio e em outros grandes eventos como fornecedores”, reforça Juliana.

Empanado de banana, casca de banana e especiarias da Pote Bem Estar, empresa da periferia carioca que estará no Rock in Rio 2022. Foto: Rossana Fraga

Segundo ela, muitos desses empreendedores preparam as refeições na cozinha de casa, por isso a importância desse apoio. É o caso de Cláudia Pereira da Silva, dona do Pote Bem Estar, que estará pela primeira vez no Rock in Rio por meio dessa parceria com o Sebrae. Sozinha, ela comanda o empreendimento, que nasceu em 2014 pela necessidade dela de se alimentar melhor.

“Comecei a produzir saladas de pote e vi uma oportunidade de negócio. Fechei parceria com academias do bairro e para outras pessoas”, conta ela, que é do bairro Rio das Pedras. No começo, a empreendedora conciliava o negócio com uma loja que teve por dez anos na comunidade do Rio das Pedras. Após uma pausa, retomou a atividade gastronômica em 2018.

“Com essa oportunidade no Rock in Rio, a gente vai conseguir melhorar, porque está dando visibilidade para os pequenos empreendedores e para as pessoas que moram em comunidades”, acrescenta. Na primeira etapa da seleção, ela apresentou um sanduíche de casca de banana que, segundo diz, “foi super elogiado” e será servido nos dias do evento.

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Para Cláudia, participar desse grande festival de música é mostrar a força dos pequenos empreendedores e da favela. “O Rock in Rio é, sem dúvidas, uma dessas oportunidades ímpares e necessárias no sentido de valorizar o trabalho de pequenos empreendedores e é de comunidade, que é tudo muito difícil. Então, um evento como esse, e o Sebrae que nos capacita, consegue dar visibilidade a essas pessoas”, afirma.

A analista do Sebrae-RJ reforça essa visão. “O empreendedor, principalmente de favela, precisa desse suporte, desses olhares, de oportunidades. A gente entende que o conhecimento e talento eles têm, só não conseguem a orientação. Com a nossa orientação e o potencial deles, a gente tem resultado muito inclusivo, transformador e de impacto para toda a sociedade.”

Todos os produtos dos empreendedores selecionados serão vendidos no bar do Espaço Favela, de responsabilidade do Rock in Rio, que o criou junto ao cenário do palco, explica Juliana. “Já a cozinha colaborativa em que os empreendedores fizeram toda a produção foi montada e custeada pelo Sebrae-RJ.”

Vegano veterano

Se o público do Rock in Rio é exigente com o line-up, também o é com a alimentação. Para quem deixou de comer produtos de origem animal, tem alguma restrição alimentar ou é flexitariano, o Açougue Vegano se destaca como a rede 100% vegana do festival.

A empresa estreou no evento em 2017, poucos meses após ter se lançado no mercado. E como uma característica do empreendedor brasileiro, a parceria ocorreu pela iniciativa dos sócios-fundadores Celso Fortes e Michelle Rodriguez.

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“A gente encaminhou um e-mail para eles, apresentando a operação, a ideia, o conceito. Nem sabíamos de custos de estrutura e eles acreditaram na gente”, conta Fortes.

Celso Fortes e Michelle Rodriguez, fundadores do Açougue Vegano, tomaram a iniciativa para participar do Rock in Rio em 2017 e estarão na edição 2022. Foto: Ana Branco

Naquele ano, a rede ficou em um espaço fechado, com acesso limitado do público. Agora, o retorno será no Rock District, espaço externo, junto a grandes restaurantes. Depois de cinco anos, a dupla ainda colhe os frutos de ter participado do evento, que abriu as portas para contratos de franquia e novos clientes, que se remetem ao festival ao visitar uma loja.

Hoje, o Açougue Vegano tem 12 pontos de venda e se prepara para abrir a segunda fábrica, voltada para a linha de produtos sem glúten, além de aumentar a indústria atual. “No evento, você tem a oportunidade de ter sua gastronomia sendo degustada por pessoas que seria muito difícil de alcançar”, comenta Fortes.

Para a edição que começa nesta sexta-feira, 2, a expectativa do empreendedor é faturar mais de R$ 1 milhão ao logo de todos os dias de evento, tendo acesso diário a cerca de 100 mil pessoas. A empresa investiu R$ 500 mil na estrutura, que é três vezes maior do que a primeira e terá 50 funcionários.

Ele destaca que essa também é uma oportunidade de gerar emprego. Pelas regras do festival, os restaurantes participantes devem assinar a carteira de trabalho de quem vai atuar no dia. “A gente consegue fazer teste e se a pessoa tiver bom desempenho no festival, depois pode ser contratada em uma das nossas lojas.”

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