‘Se você olhar, no fundo, as crises são benéficas’, diz Pedro Herz

O controle dos gastos pessoais e da empresa passou a fazer parte da rotina de Pedro Herz, da Livraria Cultura

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Mesmo diante de todos os desafios, o empresário Pedro Herz, atual presidente do conselho da Livraria Cultura, tenta ver um lado bom da retração econômica. “Toda e qualquer crise, afetiva, emocional, financeira... Um dia termina. Não existe crise eterna. Se você olhar, no fundo, as crises são benéficas”, diz o empresário, que participou do Face to Face, um bate-papo online promovido pela primeira vez pelo Estadão PME, e que ocorreu na sexta-feira dia 22.

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“Eu, que sempre pensei de uma forma, hoje, vendo a crise, passei a enxergar com outros olhos. Mas é preciso ter um momento que você tenha a capacidade de refletir sobre o que está acontecendo. E para isso acontecer você tem que ficar só. É muito mais do que fala”, analisou o empresário.

Segundo Herz, fazer com que o interlocutor o escute é algo difícil no mundo atual. “As pessoas falam de várias formas. Se pegar as mídias sociais, os tablets, smartphones, está todo mundo falando. Lá com os dedos, apertando o aparelho, mas estão falando. E ouvindo muito pouco. Isto é um problema”, explicou.

Crise. Sobre a situação atual da economia, Herz contou que “as empresas e as pessoas estão olhando muito para suas despesas e ficando surpresas com o que estão encontrando.” Ele mesmo começou a se policiar mais e controlar seus gastos. “Na empresa é a mesma coisa. Ela tem que ser gerida de uma forma muito parecida com isso”, afirmou o empresário, que ainda destacou a importância de ter bom senso. Na vida e na empresa.

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Para quem tem vontade de abrir o próprio negócio, o empresário recomenda ponderar todas as variáveis, não apenas a vontade de empreender. “Tem que pensar em tudo e ser muito pé no chão.”

Para ele, o momento atual é de conservadorismo, de colocar para funcionar o que já existe e fazer bem o que se propôs a fazer. Nada de mudanças bruscas. “Se perde a identidade daquilo que se propôs a fazer com uma facilidade tão grande”, afirmou.

O empresário conta, por exemplo, que é comum as pessoas chegarem na livraria e perguntarem: ‘qual é o livro novo?’ Um dia, ele puxou a bíblia, o que causou um estranhamento no cliente. “Eu perguntei se ele já tinha lido e ele respondeu que não. Livro novo é aquele que você não leu. Se ele tem 100, 500, mil, dois anos, cinco dias, um dia, não faz diferença”, diz Herz.

Mercado. A Livraria Cultura foi fundada por Eva Herz, mãe de Pedro, em 1947. Hoje, a rede é formada por 18 unidades, conta com 1,8 mil funcionários e tem faturamento na casa dos R$ 600 milhões. Mesmo depois de tanto tempo no mercado, com o advento dos e-books, Herz passou a ser muito questionado sobre o futuro do livro em papel. Mas para o empresário, essa é a pergunta errada. “Não é o livro que vai acabar. É o leitor que vai acabar. E isso preocupa”, disse. De acordo com o empresário, “os leitores estão sumindo”, um sinal extremamente grave de quão mal vai a educação no País.

O empresário, aliás, afirma que a opção pelo livro digital chegou a um ponto que “quem aceitou, aceitou”. Isso porque o aparelho digital não faz novos leitores. Quem os faz são os pais, dentro de casa. “Meus filhos passaram a pegar livros sem serem alfabetizados. Eles imitavam o que eu estava fazendo. A campanha que deveria ser feita é mais ou menos assim: Se você não lê, como você quer que seu filho leia?”

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