Ele viveu a seca quando criança e hoje fatura milhões economizando água para empresas

O engenheiro eletricista Camillo Torquato largou emprego na área de petróleo e abriu a T&D Sustentável, que tem 24 unidades pelo país e faturou R$ 7 milhões em 2024

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Foto do author Felipe Siqueira

Nascido em 1988, em Mossoró (RN) e criado num vilarejo próximo à cidade, Camillo Torquato conviveu com a realidade da falta de água até, ao menos, o início da adolescência. Segundo ele, a condição começou a melhor um pouco quando chegou à região o Programa Luz para Todos, lançado em 2003, no primeiro governo Lula, quando foi possível utilizar a eletricidade para o funcionamento de bombas de água, por exemplo, fazendo com que ela chegasse a novos locais.

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“Meu sonho era ser vaqueiro. Dá para entender como eram as perspectivas em relação a sair do lugar”, comenta Torquato. Mas este receio de não conseguir deixar a cidade não durou muito tempo durante sua carreira profissional. Vindo de escola pública e ensino médio técnico, ele sempre trabalhou para conseguir se sustentar. “Cheguei a dar aula de jiu-jitsu”, relembra. Filho de mãe solo, conseguiu entrar no curso de Engenharia Elétrica na Universidade Federal Rural do Semi-Árido.

O sonho de ser vaqueiro foi dando espaço para o desejo de entrar em uma multinacional que atuava, à época, na região. “Para dar certo na vida por ali, ou era no ramo de petróleo ou manutenção salina”, explica. Conseguiu entrar na empresa, do setor de petróléo, por volta dos 20 anos, e ficou por lá durante uma década. “Conquistei um salário de cinco dígitos, com excelentes benefícios e um ótimo plano de saúde, estava muito estável na minha vida.”

O fundador da T&D Sustentável, Camillo Torquatto Foto: Divulgação/T&D Sustentável

Mas ele sentia uma dificuldade em lidar com o mercado corporativo. Achava que bastaria ser o melhor em sua área - engenharia de operações - que a promoção viria ao seu encontro. Porém, as coisas não foram acontecendo da forma e na velocidade que ele gostaria. “Eu não tinha jogo político dentro da empresa. Hoje eu sei que, nessa parte, eu errei”, fala. “Quanto melhor fizer uma função, sem jogo político, mais você vai ficar preso por ali. E eu queria empreender, mas faltava a coragem.”

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Na editoria Sua Carreira do Estadão, a especialista em carreira e autora da obra “O livro secreto da carreira: Aquilo que não te contaram, mas você deveria saber”, Paula Boarin, já explicou que muitos profissionais ainda ignoram a importância de incluir o networking na agenda - e que isso deve ser parte do dia a dia do trabalho. Em resumo, não se pode esquecer do tradicional cafezinho. A reportagem completa, com dicas sobre como fazer networking no ambiente de trabalho, você pode ler aqui.

O início do projeto

A iniciativa, de acordo com Torquato, se deu por dois motivos:

  • apoio familiar: quando disse à mulher que pretendia empreender, ela o incentivou;
  • morte de um um amigo, que considerava como um irmão mais novo: isso o fez repensar o momento pelo qual passava e, enfim, tomar a decisão por empreender.

O nicho que veio por acaso

Um dos principais aspectos que são exigidos para um empreendedor é conseguir enxergar oportunidades. Isso quem diz é o próprio Sebrae, na lista de comportamentos que um líder de negócio precisa ter. “Empreendedorismo é resolver problemas e cobrar por isso”, resume Torquato.

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Em 2016, por uma demanda da empresa para a qual ainda trabalhava, precisou ir para o Rio de Janeiro, mais especificamente para Macaé. Por uma questão de custos, se estabeleceu na cidade vizinha de Campos de Goytacazes. “Eu tomava banho em um condomínio que ficava ao lado de uma lagoa e, mesmo assim, faltava água o tempo inteiro no lugar. A demanda era muito grande”, comenta.

Inicialmente, o foco do negócio seria conter desperdícios de água, fluidos e resíduos. E ali seria um bom local para testar o modelo em relação à água. Fez uma consultoria, realizou manutenções e otimizações e, como trabalhava embarcado, ficou fora por um tempo. “Quando eu voltei, esse síndico tinha me recomendado para vários outros e vi que poderia ter um mercado interessante por ali.”

Foi assim que o foco passou a ser exclusivamente água. “Fluidos era um ramo muito burocrático, e resíduos era uma área muito nichada, com muitos locais com famílias que já prestavam esse tipo de serviço havia décadas”, de acordo com Torquato.

A coisa foi dando certo. Até que, em 2018, ele foi fazer um pitch para um hospital de Macaé. Aceitaram. No mesmo dia do fechamento do contrato, ele pediu demissão da empresa. Em 20 dias saiu a homologação e em dois meses estava oficialmente com sua empresa T&D Sustentável aberta e funcionando.

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Modelo de negócio

O faturamento da T&D Sustentável, na maioria das vezes, vem do valor de água economizado pelos seus clientes após a realização de seu trabalho. O faturamento de 2024 ficou em R$ 7 milhões.

Os principais clientes da marca são hospitais, supermercados, hotéis, escolas e empresas de grande porte. O principal critério é que a conta de água do lugar seja acima de R$ 7 mil por mês.

Franquias

A T&D Sustentável também investiu em franquias, especialmente para focar em uma maior capilaridade, conseguindo alcançar um número maior de unidades abertas.

Chegou a ter 24 unidades, mas, atualmente, conta com 13. “Nós absorvemos essas outras 11 como unidades próprias. No início, eu fiz muito negócio com amigos e colegas de trabalho, que, quando chegavam a um determinado faturamento, não queriam evoluir mais. E está tudo bem, mas atrapalhava a dinâmica de crescimento da marca. Portanto, compramos as unidades em operação”, explica o empresário.

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Todas seguem em funcionamento. Há unidades em diversas cidades, como São Paulo, Rio, Salvador e Natal, entre outras.

De acordo com o vice-presidente da vertical de consultoria do Ecossistema 300 Franchising, Lucien Newton, esse tipo de cenário é muito comum no início da trajetória de uma marca no frachising.

São as pessoas mais próximas, que acompanharam o crescimento do empreendedor de perto, que vão se interessar em fazer parte deste “bolo”. “A marca, a princípio, é desconhecida. Então, quem vai acreditar no projeto é quem viu tudo escalar desde o começo, na maioria das vezes. Só que, com o tempo, tudo pode se desgastar e a união empresarial passa a destruir relacionamentos”, explica.

Perfil difícil

Segundo Torquato, o perfil do franqueado é um pouco difícil de ser encontrado para o seu tipo de negócio. Por conta da necessidade de investimento alto, em dinheiro e tempo, da curva longa de aprendizagem e também da necessidade de ser um negócio muito hands on, fiscalizado de muito perto pelo franqueado e pela marca.

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Por conta disso, eles não trabalham mais com o foco de expansão de unidades. Se aparecer alguém com o perfil ideal, o negócio é fechado. Mas não procuram no momento.

Newton, da 300, ressalta que saber o perfil é essencial para o andamento de uma marca franqueadora. “Eu preciso saber qual é o tipo de empreendedor que o meu negócio precisa para escalar e dar certo. E isso tem que estar presente já na COF (Circular de Oferta de Franquia).”

Microfranquias

Agora, eles pretendem entrar no ramo de microfranquias - que têm investimento inicial de, no máximo, R$ 135 mil - para conseguir entrar no nicho de pequenos negócios - em que a conta de água não passe de R$ 5 mil.

Inicialmente, a ideia é que a área tenha um CEO próprio e abra possibilidades de novos contratos. “A solução vai ser mais primária e muito menos complexa. Mas já vai ajudar muito”, finaliza.

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Avaliação de clientes

No Google Meu Negócio, que conta com um sistema de avaliação que vai até 5 estrelas, a marca tem uma nota de 4,8, mas com apenas quatro avaliações - uma de 4 estrelas e outras três de 5. E essa nota se refere somente à marca, não às franquias espalhadas pelo País. Para saber caso a caso, é necessário pesquisar se cada unidade tem - ou não - alguma avaliação.

No site ReclameAqui, não há registros da reputação da empresa.

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