O setor de franquias cresceu 43,9% de 2020 a 2023, em um período de pandemia seguido por dificuldades na cadeia de suprimentos. De acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o faturamento total do setor atingiu R$ 240,661 bilhões em 2023, ante R$ 167,187 bilhões em 2020.
Conforme a ABF, entre 2022 e 2023, o segmento com melhor desempenho foi o de alimentação (food service), impulsionado pela retomada da vida social e pelas vendas por delivery, com alta de 17,9%. O segmento foi seguido pelo de saúde, beleza e bem-estar, com crescimento de 17,5%, e pelo de hotelaria e turismo, com 16,4% de aumento.
Para o presidente da ABF, Tom Moreira Leite, é possível observar que a pandemia acelerou mudanças fundamentais no setor de franquias. “A primeira (mudança), certamente, foi um grande movimento de digitalização interna. Muitos processos passaram a ser online, incluindo a consultoria de campo e a checagem do padrão da rede. Reuniões, treinamentos, debates e até convenções passaram a ser digitais, gerando ganhos importantes e mais agilidade. De outro lado, houve uma digitalização dos canais de venda, com destaque para o delivery, e até na prestação de serviço, como nas escolas de idiomas.”
Dessa forma, ele conclui que o contato com o consumidor também passou a ser focado no digital, a partir de aplicativos, redes sociais e chatbots. Tal comportamento tem como consequência positiva a geração de dados para o desenvolvimento contínuo do negócio.
Ao examinar o cenário de 2020 a 2023, o presidente da ABF afirma que, no início da pandemia, as franquias de casa e construção foram impulsionadas a partir da ressignificação das moradias e dos investimentos no lar. “Em um segundo momento, quando a pandemia começou a arrefecer, o destaque passou ao segmento de saúde, beleza e bem-estar”, afirma.
Na sequência, afirma ele, houve um incremento do setor de alimentação, tanto no atendimento presencial quanto no delivery, que se manteve – o que gerou, inclusive, novas oportunidades de negócio, como o modelo dark kitchen, que são restaurantes que atendem exclusivamente para entrega. “Por fim, especialmente a partir do ano passado, notamos uma forte recuperação de hotelaria e turismo e lazer e entretenimento, com os consumidores retomando seus hábitos e uma grande demanda reprimida por viagens e grandes eventos”, afirma.
Setor de franquias cresce 19,1% no início de 2024
O começo deste ano foi bom para o setor de franquias, que registrou um crescimento de 19,1% no primeiro trimestre em comparação ao do mesmo período de 2023, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF). O faturamento aumentou de R$ 50,854 bilhões para R$ 60,560 bilhões.
Além do cenário macroeconômico favorável (uma elevada taxa de ocupação, PIB positivo, queda da taxa Selic e inflação controlada), o crescimento foi impulsionado por fatores sazonais e pelo bom desempenho dos segmentos de alimentação e serviços.
A pesquisa mostra que, no período, foram abertos 4,3% mais franquias e encerrado 1,9%, resultando num saldo positivo de 2,4%. Ou seja, surgiram mais 5.733 operações de franchising, totalizando 190.144 no País. Em termos de emprego, o setor totalizou 1,65 milhão de postos de trabalho, um aumento de 4,9% em relação ao ano anterior.
Nessa primeira avaliação do ano, os segmentos que mais cresceram foram alimentação (comércio e distribuição), com aumento de 43,9%, seguido de alimentação (food service), com alta de 26,6% e, por fim, serviços e outros negócios, com crescimento de 25,3%.
Conforme o estudo, as franquias em ruas continuam predominando, representando 54,2% das operações, enquanto os shopping centers se mantiveram na segunda posição, com 19,8%. O item “outros”, que inclui operações em mercados autônomos e lojas de conveniência, subiu para 11,7%.
A pesquisa da ABF foi realizada com base em uma amostragem das redes de franquias que representam cerca de 32% das operações e 45% do faturamento do setor.
Mudanças macroeconômicas podem beneficiar o setor
Para o professor e coordenador acadêmico do MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da FGV, Antonio André, o País tem caminhado para mudanças macroeconômicas que podem beneficiar alguns segmentos específicos.
De acordo com ele, o afrouxamento da política monetária, que começou em agosto do ano passado com sete cortes na taxa básica de juros, a Selic, que hoje está em 10,5%, tende a favorecer o empreendedorismo. Além disso, disse o economista, a reforma tributária – que no momento passa pela fase de regulamentação no Congresso – pode ser benéfica para o setor de franquias, principalmente os que têm relação direta com a indústria.
“O governo quer promover a reindustrialização do Brasil e, nessa reforma tributária que vai acontecer, estão previstos vários benefícios para a área industrial”, afirma. “Na minha visão, temos um cenário moderadamente otimista para o setor de franquias e eu acho que esse é um bom momento para novos empreendedores olharem para isso”, diz.
Aumento de renda da população favorece o setor
Para a economista Carla Beni, o cenário macroeconômico apresenta uma certa estabilidade na inflação se comparado com o do período da pandemia, o que resulta em uma normalização da cadeia produtiva.
A especialista, que também é professora de MBA da FGV, afirma que o consumo interno foi o grande motor do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano – o indicador apresentou alta de 0,8% ante ao período anterior.
Com a queda da inflação e a taxa de desemprego diminuindo, a população retoma o poder de compra, o que movimenta também o setor de franquias. “Quanto maior a renda, maior é o consumo de serviços, quanto menor a renda, maior o consumo de itens básicos. Então, a elevação da renda da população aumenta as possibilidades de franquias nas áreas de serviços”, afirma.
Segundo ela, um consumo interno aquecido favorece todo o varejo, mas as franquias têm a vantagem de oferecer ao empreendedor a experiência de um negócio que já está dando certo. “Quando você pensa em abrir uma franquia, por exemplo, é uma forma de minimizar riscos, justamente porque você tem a experiência de um franqueador”, disse.
De acordo com Carla Beni, trata-se de um modelo de negócio em que o investidor “aumenta a margem de sucesso”. “Então é interessante, principalmente para quem não tem experiência. Para quem nunca teve um comércio é uma saída bem interessante”, diz.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.