O mercado de games continua a todo vapor. Movido por um consumidor cada vez mais qualificado e engajado, o crescimento do setor de videogames e e-sports gera cada vez mais oportunidades de negócios e abre espaço para as marcas atingirem um público segmentado, sobretudo a Geração Z, por meio de parcerias, patrocínio e publicidade.
De acordo com pesquisa realizada pela consultoria Newzoo, a partir da análise de resultados financeiros de 140 empresas de jogos, estima-se que o mercado de games gerou US$ 192,7 bilhões em 2021, com expectativa de que alcance US$ 203,1 bilhões neste ano, por meio de gastos do consumidor. O mercado está em processo de amadurecimento no País e startups como G4B e Final Level aproveitam seu potencial para impulsionar a profissionalização e trazer segurança para as marcas que querem investir no setor.
A G4B nasceu em abril de 2022 como um spin off da B4, time profissional de e-sports. Em meio à pandemia, o CEO da equipe Antônio Cardoso procurou Marcela Miranda, cofundadora da Seastorm, uma venture builder (fábrica de startups) com base em plataformas digitais, para uma consultoria de reposicionamento da empresa. Por lá, ela começou a questionar o modelo de negócio e observar diversas brechas. “Esse é um mercado bilionário, como é que aqui dentro no País não tem patrocinadores ou mais dinheiro circulando?”, questionava ela.
Após ampla pesquisa de mercado, Marcela entendeu que existia um ecossistema gigante dentro do cenário que demandava um olhar mais voltado para negócios e decidiu comprar uma parte da B4. Do investimento na equipe, nasceu a G4B, startup especializada em conectar grandes empresas ao universo dos games e e-sports. “O potencial desse mercado era gigante, dava para criar diversas startups para resolver esses problemas, mas o que a gente sentiu que estava mais palpável foi essa conexão de por que as marcas não investem nesse mundo”, conta.
Em um mês, a empresa já tinha quatro grandes clientes: a Ubisoft, terceira maior produtora de jogos eletrônicos do mundo, o rapper Alva, Tayhuhu, jogadora profissional de Valorant, além da própria B4.
“Nesse período a gente estava estruturando a G4B ainda, não existia nem CNPJ. Alinhamos a ideia para desenvolver o projeto e quando fomos falar com as marcas tivemos um retorno superpositivo, elas diziam que era exatamente aquilo que elas buscavam. Ali vimos oportunidade.”
Segundo Marcela, a G4B é um hub de conexões. Muito além da publicidade, a empresa quer ajudar a profissionalizar o mercado e mostrar para as marcas que dá para investir nesse mercado de uma forma muito mais segura e estruturada. “Se você quer ganhar dinheiro, quer fazer projeto, quer ir para marca, tem que entender de negócios e é pra isso que a gente está aqui”, explica.
Marketing de influência na indústria dos games
“Existe um elemento de paixão e socialização muito forte em torno desse mundo. É muito mais do que jogar”, explica Fernanda Lobão, CEO e cofundadora da Final Level, plataforma especializada em criação de conteúdo gamer. Criada em 2018 pelo grupo de investimentos Go4it, a startup identificou no universo dos jogos eletrônicos a oportunidade de trabalhar com a camada mais periférica desse mercado, o chamado lifestyle gamer.
Inspirada em modelos estrangeiros, o primeiro projeto da empresa foi a GameLand, primeira casa gamer do Brasil. Influenciadores parceiros moram nessa mansão temática e recebem suporte para roteirizar e produzir conteúdo diário para diversas plataformas. Em sua primeira edição, a casa recebeu os criadores Caio Pericinoto, Sheviii2K, Robin Hood Gamer e Bruno PlayHard.
Em 2020, com o crescimento do poder do marketing de influência no País, a startup decidiu expandir a sua atuação e começou a trabalhar com o ecossistema gamer como um todo. “Sempre tivemos uma proposta de valor muito voltada à profissionalização dentro da economia criativa, então fomos atraindo cada vez mais criadores de conteúdo que buscavam essas parcerias de negócios”, conta.
Através das redes da Final, a comunidade pode consumir muita informação especializada, ter acesso a grandes influenciadores e encontrar as pessoas que são a maior referência nos seus hábitos de consumo dentro dessa programação multiplataforma. “A materialização do estilo de vida gamer vai muito além dos jogos”, afirma Fernanda. Hoje, a Final Level gere mais de 40 criadores de conteúdo no YouTube, o que corresponde a mais de 100 milhões de fãs na plataforma e cerca de 600 milhões de views por mês. Além disso, a startup atua em parceria com grandes marcas como Monster Energy Drink, Riot Games e Oi.
De acordo com a CEO, o objetivo da Final Level é trazer a visão de negócios para um mercado que é feito essencialmente por pessoas que amam o que fazem, observaram um campo profissional para atuar, mas às vezes não conseguem olhar para as melhores oportunidades de crescimento e não sabem desapegar das próprias criações. “É paixão, mas não é só isso. É um mercado que muda muito rápido. Soluções que deram certo por muito tempo podem simplesmente caducar. Estamos aqui justamente para ter esse olhar mais atento e inovador.”
Expansão e profissionalização do mercado
O Brasil ocupa a décima colocação no mercado de jogos do mundo. Não à toa, as marcas têm observado esse movimento e buscado formas de investir no universo.
Segundo Marcelo Nakagawa, professor de Inovação e Empreendedorismo do Insper, as marcas querem atingir o público gamer, mas enfrentam o desconhecimento e a falta de ferramentas para mapear, monitorar e mensurar o impacto das ações. “Para além do medo de estar trabalhando com um público muito segmentado, as marcas não têm nenhuma experiência em lidar com esse consumidor, não conhecem em quem estão investindo e o seu alcance real”, explica.
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Nesse contexto, empresas que investem na profissionalização de streamers, jogadores profissionais e criadores de conteúdo especializado assumem um papel estratégico na atuação que as marcas têm nesse universo bilionário. Existe uma fragmentação muito importante nesse mercado, explica Marcelo. Enquanto você tem alguns influenciadores ou jogadores que são muito famosos e preparados, do outro lado você tem vários médios e pequenos que alcançam um público muitas vezes maior do que aqueles principais, mas demandam mais atenção e preparação.
Para Marcela Miranda, a demanda por empresas que invistam nesse mercado é gigantesca. Seja para profissionalizar criadores ou conectar marcas a esse mundo, existe muita oportunidade e muito dinheiro envolvido. “A gente precisa de outras empresas que invistam nesse mercado, porque a gente tem uma limitação do que conseguimos atender enquanto G4B. O mercado só vai girar dinheiro de verdade a hora que tiver muita gente fazendo o que a gente está fazendo”, diz.
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