Como de praxe no ambiente corporativo, nada como uma aposta certeira em um nicho carente para garantir não somente a sobrevivência, como principalmente a abundância. O velejador esportivo Abilio Di Gerardi hoje pode dizer que identificou meios para percorrer, até aqui com relativo sucesso, esse caminho. Ele investiu o que tinha e o que não tinha no negócio de embarcações leves para as forças de segurança e acabou lucrando com o fato de conseguir se diferenciar de toda a concorrência.
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Hoje ele opera um estaleiro de pequeno porte em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, com faturamento de R$ 12 milhões. E prevê um horizonte de muito crescimento já para os próximos meses. “A verdade é que a gente tem bem pouca concorrência”, confessa.
“E além disso, alcançamos um patamar legal não por marca ou por uma questão de lobby realizado em Brasília, nada disso. Foi um reconhecimento pelo nosso produto”, afirma o empresário, que há oito anos decidiu aplicar o dinheiro recebido de uma indenização para iniciar a operação. O negócio conta com 30 pessoas, 1,5 mil metros quadrados instalados e planos de expandir em 130% a capacidade atual de produção, de 20 barcos por ano, até 2015.
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“Eu senti a necessidade de projetar embarcações mais eficientes para as forças. Até então, no Brasil, quando o assunto era embarcações leves, o que você via eram empresas de lazer, de esportes, que pintavam as embarcações de cinza e participavam das licitações”, analisou o empreendedor.
“É mais ou menos como se o Exército abrisse uma licitação e eu pegasse um EcoSport 4x4, pintasse com as cores do exército e colocasse no campo de batalha. Nós, então, passamos a fazer embarcações desde o primeiro traço dedicadas para o uso militar. Essa foi a nossa diferença”, destaca Gerardi. Hoje ele tem 43 barcos vendidos para a Marinha e outros dez para órgãos de segurança, como por exemplo a Polícia Federal.
Endividado. Se hoje Abilio Di Gerardi esbanja um faturamento de R$ 12 milhões, o início foi difícil. Sem contar com investidores e descapitalizado, ele ingressou no mercado às custas de uma verba indenizatória que recebeu ao sair de uma empresa de proteção ambiental.
“Foi uma loucura. Eu acreditava muito no produto que tinha desenvolvido. Tanto que peguei R$ 30 mil que recebi como empregado, abri uma linha de crédito no banco, e quando tomei tudo o que podia, abri uma linha particular e peguei tudo que podia de novo”, lembra o velejador carioca, que ficou por dois anos com restrições de crédito. “Fiquei um bom tempo com meu CPF negativado, não conseguia nem pegar uma linha telefônica, não dava para comprar nada a crédito”, conta. Seis meses depois de participar de sua primeira feira na área, Abilio concluiu uma venda para a Marinha nacional.
Oportunidade. Na ocasião, Abilio Di Gerardi tomou um novo empréstimo e colocou o barco com alguns folders em um estande de feira especializada. Procurado por um oficial da Marinha, ele deixou um cartão e foi procurado dois meses depois.
“O barco interessava, mas como eu não tinha vendido para ninguém ainda, o oficial deu risada. Ele falou, ‘você quer que a Marinha do Brasil compre um barco que ninguém tem?’ Eu falei, ‘é exatamente isso que eu quero’. Tem a parte que as coisas vão conspirando e acabei vendendo a embarcação”, lembra o empreendedor.
“Dali para frente, foi um processo em cascata. Hoje temos embarcações a bordo de fragatas que estão defendendo as águas territoriais do Líbano, barcos na Antártida, na região da Cabeça do Cachorro (área de divisa na região do Amazonas). Isso não tem dinheiro que pague.”
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