FLORIANÓPOLIS e SÃO PAULO — O empresário Juliano Dias já fez um pouco de tudo. Porém, nunca deixou de vender. Começou como comerciante de carros de luxo. Depois disso, se tornou piloto de avião. E agora é dono da empresa especializada em vendas Meetz. Ela opera no mercado de prospecção de clientes para vendas B2B - entre empresas -, oferecendo software e equipe de contato com os potenciais clientes. Faturou R$ 6,8 milhões em 2023.
Antes disso, chegou a se mudar para Portugal para conseguir financiamento para uma empresa do setor gráfico, mas teve que fechá-la por conta da pandemia. Dias após isso, estava com um novo projeto de pé, com foco no que faz de melhor: vendas, agora pensando em grandes companhias.
A Meetz vem crescendo nos últimos anos e faturou cerca de R$ 6,8 milhões em 2023. O segredo, segundo eles, é saber prospectar bons clientes e ter faro para negócios. “Temos uma cultura de vendas. O nosso RH vende, e até o nosso CTO (gerente de tecnologia)”, afirmou Dias, durante o Startup Summit, evento do setor realizado em Florianópolis, SC, e organizado pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) e o Sebrae Startups.
A companhia opera no mercado de prospecção de clientes para vendas B2B - entre empresas -, oferecendo tanto a solução de software como uma equipe que pode fazer o trabalho de contato com os potenciais clientes, além de marcar reuniões para venda de produtos ou serviços.
Uma empresa que usa os serviços da Meetz, além de ter acesso ao know how de vendas da companhia, consegue, por meio da base de dados da startup, saber quais outras empresas no País podem ser potenciais clientes e ter acesso a formas de contato e prospecção. Eles também atendem marcas de diferentes segmentos como a 99 e a Ame Digital, empresa de serviços financeiros da B2W, controlada pelas Americanas.
Foi vendedor de carros de luxo por acaso
Dias foi convidado por um amigo para um cargo auxiliar em uma concessionária de carros de Recife, PE, no final dos anos 1990.
No momento em que os colegas vendedores estavam no horário de almoço, fez sua primeira venda, já que era o único funcionário na loja.
Conquistou a chefia e mudou de cargo. Com o tempo, começou a ser disputado pelas empresas do setor e passou por concessionárias de marcas como Land Rover, Mercedes-Benz e BMW.
Foi com o dinheiro que ganhou com as vendas que conseguiu financiar o antigo sonho de se tornar piloto de avião. Passou por todo o treinamento, com diversas horas de voo.
Tentou ser piloto de avião
Ele largou o emprego de vendedor para trabalhar na aviação executiva. Mas, ao ver que o sonho de se tornar piloto de aeronaves comerciais levaria muito tempo, decidiu que a carreira em empresas do setor aéreo ficaria em segundo plano.
“Sou piloto, mas, em primeiro lugar, sou vendedor”, diz, ao lembrar que, mesmo durante esse período, ajudava a intermediar a venda de jatos entre os donos das aeronaves.
Em 2016, já fora do setor de aviação, notou uma brecha em um mercado com o qual tinha pouca familiaridade: o do setor gráfico.
Percebeu que as companhias tinham dificuldade para fazer a encomenda de produtos e lidar com intermediários com pouca profissionalização - pulverizados em diferentes regiões do País.
Foi então que montou a própria empresa, que ligava clientes com gráficas, organizando processos e operando como uma espécie de marketplace do setor.
Para impulsionar a empresa, procurou financiamento em um hub de startups em Lisboa, em Portugal, e ficou entre idas e vindas à Europa a partir de 2017, já que também contava com clientes por lá.
Foi logo após se mudar com a família para o velho continente, no início de 2020, que a chegada da pandemia o fez ter de fechar a empresa.
Foi nesse momento, ainda em fevereiro de 2020, que estruturou a Meetz. “Sentei na cozinha da minha casa. Peguei R$ 500 e comprei um template e um domínio de site. Fiz uma logo, e foi assim que a Meetz começou”, relembra o empresário.
A experiência faz o empreendedor
O consultor de negócios do Sebrae-SP Thiago Trajano explica que esse processo de passar por diversos cenários e possibilidades, como é o caso de Dias, é muito comum no empreendedorismo. É nesse período, inclusive, que o empreendedor vai se moldando - como profissional e como empresário.
“Todas as experiências, mesmo que, de início, não pareçam atreladas ao negócio, afetam a trajetória do empreendedor, como a rede de contatos que certamente construiu ao longo do tempo, o estudo de casos que deram ou não certo, entre outras coisas”, fala.
E tudo isso, segundo Trajano, é essencial para o desenvolvimento de um empreendimento, ao lado da organização. O instinto de que tudo vai dar certo é importante, mas não pode segurar sozinho o trabalho de uma empresa. “É preciso se organizar”, diz. E como fazer isso?
Por meio de ferramentas de planejamento, com plano de negócios bem estruturado. Isso vai ser importante na hora de validar alguns aspectos de um empreendimento como ponto de equilíbrio, definição de capital de giro e precificação, por exemplo.
“Tudo isso existe para ajudar o empreendedor a mitigar as chances de o negócio naufragar. Risco sempre tem. Mas dá para diminuir”, conclui.
*O repórter João Scheller viajou a convite dos organizadores do Startup Summit 2024
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