BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva escolheu os principais nomes da equipe de transição do governo. Na área econômica, o grupo será liderado por quatro economistas com perfil distinto: André Lara Resende, Persio Arida, Guilherme Mello e Nelson Barbosa. O anúncio foi feito nesta terça-feira, 8, pelo futuro vice-presidente Geraldo Alckmin, coordenador-geral da transição, cinco horas antes do desembarque de Lula em Brasília. Os nomes de Lara Resende, Arida e Mello foram antecipados pelo Estadão, no sábado.
A composição inicialmente divulgada mostra que o PT vai dividir as discussões com economistas de histórico liberal, com quem o partido divergia na época do Plano Real e na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A senadora do MDB Simone Tebet comandará a área social do grupo.
Integrantes de 12 partidos, incluindo o PT, vão participar da equipe pelo lado de Lula. O presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, para conduzir os trabalhos e definir os nomes que repassarão as informações sobre programas e projetos do governo.
O PT tenta se aproximar de partidos de centro e centro-direita para compor a base de sustentação do novo governo no Congresso e convidou o PSD de Gilberto Kassab para participar do Conselho Político da transição. Alckmin assinou na terça-feira três portarias e disse que serão montados 31 grupos temáticos.
Em sua primeira viagem a Brasília após a vitória nas urnas, no último dia 30, Lula terá uma série de reuniões na capital. Ele vai se encontrar nesta quarta-feira com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). No Judiciário, Lula também terá conversas com os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber; do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes; e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Maria Thereza de Assis Moura.
Na pauta dos encontros estão desde negociações para a montagem do primeiro escalão até a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir ao governo pagar o Auxílio Brasil de R$ 600, rebatizado de Bolsa Família, a partir de janeiro de 2023.
O MDB ainda deverá anunciar outro nome para a equipe de transição porque Simone entra na chamada “cota pessoal” de Lula. Desde que saiu da eleição em terceiro lugar e fez campanha para o petista, ganhou muitos pontos com ele. Coube a Alckmin, no entanto, falar sobre a função de Simone na equipe.
Questionado sobre qual será o cargo da senadora na Esplanada, o ex-tucano abriu um sorriso. “Ela tem espírito de ministra”, afirmou. O vice-presidente eleito não disse, porém, qual cadeira a senadora ocupará no futuro governo. “Simone, com sua experiência, sensibilidade e força da mulher, vai trabalhar na área do desenvolvimento social, que é importantíssima”, observou Alckmin.
Simone gostaria de ser ministra da Educação, mas ainda não se sabe com qual espaço ficará. Além dela, vão integrar o grupo social as ex-ministras Márcia Lopes e Tereza Campello e o deputado estadual de Minas André Quintão (PT).
Aliado de Alckmin, o ex-deputado Floriano Pesaro (PSB) será coordenador executivo da transição. O ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, será o responsável pela coordenação técnica e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ficará com a articulação política. A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, futura primeira-dama, está encarregada de cuidar dos preparativos para a posse de Lula, em 1.º de janeiro de 2023.
Alckmin também afirmou que o economista Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma Rousseff, participará da transição. “Contamos com sua experiência”, disse o vice eleito, após assinar as portarias referentes à instalação do novo gabinete e de seus integrantes. Todos vão trabalhar no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Formuladores do Plano Real, André Lara Resende e Persio Arida são próximos de Alckmin. Arida foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 1993 e 1994 e do Banco Central na gestão FHC. Em 2018, coordenou o programa econômico de Alckmin. Naquele ano, Lara Resende – um dos profissionais mais influentes de sua geração – assessorou a então candidata à Presidência Marina Silva (Rede), hoje deputada eleita.
Já Nelson Barbosa foi ministro da Fazenda e do Planejamento do governo Dilma. Guilherme Mello, por sua vez, é economista ligado ao PT. Professor da Unicamp, Mello atuou como um dos principais porta-vozes da campanha de Lula para a área econômica.
O quarteto tem pensamentos diferentes, e, em alguns casos, até mesmo opostos sobre política econômica. A aposta de Lula, porém, é promover um equilíbrio de forças de economistas que atuam dentro e fora do partido. Petistas vinham cobrando uma participação mais equilibrada na equipe de transição.
Indagado pela reportagem se será possível a convergência de propostas diante de posições distintas, Alckmin respondeu: “Não são visões opostas. São complementares”.
O arranjo na economia não significa compromisso com cargos no novo governo. O vice-presidente eleito destacou que, nesta fase, o objetivo de todos é elaborar propostas.
Ainda nesta terça-feira, 8, em reunião virtual com dirigentes do PT, Gleisi Hoffmann também ouviu reclamações e sinais de preocupação sobre a falta de protagonismo do partido no futuro governo. /COLABOROU LAURIBERTO POMPEU
Veja a lista da transição:
Coordenador-Geral: Geraldo Alckmin
Coordenação Executiva: Floriano Pesaro
Coordenação de Articulação Política: Gleisi Hoffmann
Coordenação dos Grupos Técnicos: Aloizio Mercadante
Coordenação de Organização da Posse: Janja da Silva
Conselho de Transição Governamental: representante dos partidos:
1. Antônio Brito (PSD)
2. Carlos Siqueira (PSB)
3. Daniel Tourinho (AGIR)
4. Felipe Espirito Santo (PROS)
5. Gleisi Hoffmann (PT)
6. Guilherme Ítalo (Avante)
7. Jefferson Coriteac (SD)
8. José Luiz Penna (PV)
9. Juliano Medeiros (PSOL)
10. Luciana Santos (PCdoB)
11. Wesley Diógenes (REDE)
12. Wolney Queiroz (PDT)
Grupos Técnicos, com até quatro integrantes na coordenação:
I. agricultura, pecuária e abastecimento;
II. assistência social;
III. centro de governo;
IV. cidades;
V. ciência, tecnologia e inovação;
VI. comunicações;
VII. cultura;
VIII. defesa;
IX. desenvolvimento agrário;
X. desenvolvimento regional;
XI. direitos humanos;
XII. economia;
XIII. educação;
XIV. esporte;
XV. igualdade racial;
XVI. indústria, comércio e serviços;
XVII. infraestrutura;
XVIII. inteligência estratégica;
XIX. justiça e segurança pública;
XX. meio ambiente;
XXI. minas e energia;
XXII. mulheres;
XXIII. pesca;
XXIV. planejamento, orçamento e gestão;
XXV. povos originários;
XXVI. previdência social;
XXVII. relações exteriores;
XXVIII. saúde;
XXIX. trabalho;
XXX. transparência, integridade e controle;
XXXI. turismo
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