Mais da metade da população brasileira (57%) defende um candidato de terceira via para superar a polarização nas eleições de 2026. Esse total soma o porcentual dos que dizem concordar totalmente (39%) e os que afirmam concordar em parte (18%). Os dados são da pesquisa Ipec divulgada nesta segunda-feira, 19, pelo jornal O Globo.
Uma parcela de 27% discorda totalmente ou em parte; outros 5% afirmam que não concordam e nem discordam. Os que não sabem ou não responderam totalizam 11%.
Nas eleições do ano passado, os principais candidatos da chamada terceira via não tiveram bom desempenho nas urnas. No primeiro turno, a ex-senadora Simone Tebet (MDB) - atual ministra do Planejamento - teve 4,9 milhões de votos (4,2%). Já Ciro Gomes (PDT) recebeu 3,5 milhões (3%).
Segundo o cientista político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), esse cenário aconteceu porque a ascensão de uma terceira via foi tardia. Segundo ele, o que comprometeu o surgimento de uma nova opção diante da polarização entre o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi a ausência de uma unidade entre os partidos.
“PSDB, MDB e União Brasil ficaram muito tempo discutindo e demoraram a chegar em um nome. Quando chegaram com o nome da Simone Tebet, rachou o grupo”, explica. “Nesse contexto, se não tiver unidade dos partidos que se propõem a lançar a terceira via, ela pode surgir natimorta (...) A impressão é que a sociedade queria mais a terceira via do que os partidos.”
Para Teixeira, para que haja a possibilidade de uma terceira via com força política nas próximas eleições, é preciso que os partidos encontrem uma liderança e que essa figura passe a ser inserida no debate público a partir de agora já. “(Hoje) há um vazio no espaço da oposição por uma candidatura a ser construída”, ressalta.
Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Prebiteriana Mackenzie, destaca que a consolidação de um nome que rompa com a polarização Lula-Bolsonaro não será fácil. Segundo ele, é preciso que esta figura tenha, dentre outras características, carisma, apoio político e acesso aos partidos que, “em grande parte dos casos, têm seus caciques ou lideranças já consolidadas.”
Desejo por nova liderança
O levantamento do Ipec mostra que o desejo por uma terceira via é compartilhado de forma homogênea. No recorte de gênero, por exemplo, 56% dos homens defendem um nome alternativo a Lula e Bolsonaro, assim como 57% mulheres. Nas faixas etárias, o cenário é semelhante: 16 a 24 anos (59%), 25 a 34 (61%) e 35 a 44 (59%), 45 a 59 (54%) e 60 e mais (50%).
“Novas lideranças são sempre almejadas. Contudo, o risco, em muitos casos, é que essa liderança não tenha sido socializada no ambiente político”, diz Prando.
A pesquisa Ipec realizou entrevistas presenciais com 2 mil pessoas de 16 anos ou mais em 128 municípios do País entre os dias 2 e 6 de março. A margem de erro máxima estimada é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.
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