60 anos do golpe: depoimentos inéditos expõem polarização que levou à ruptura em 1964

Relatos foram tomados no fim dos anos 1970, na vigência do AI-5, e guardados no arquivo do Estadão, com o compromisso de não serem divulgados enquanto os entrevistados estivessem vivos

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A série de depoimentos inéditos publicados pelo Estadão para marcar os 60 anos do golpe militar de 1964 traz relatos de personagens importantes do período que explicam o clima de forte divisão social e política que levaram à ruptura democrática. São histórias que ajudam a entender o contexto das ações que resultaram naquele 31 de março há sessenta anos, dia em que o então presidente João Goulart foi retirado do poder por uma conspiração que incluiu civis e militares.

Esses depoimentos foram prestados a repórteres do Jornal da Tarde (produto do Grupo Estado) entre 1977 e 1978, quando ainda vigorava a censura do Ato Institucional nº 5 e que, agora, vêm a público para contribuir com o entendimento do cenário no País nas décadas imediatamente anteriores ao golpe de 64 e nos anos que se sucederam até o início do debate sobre a anistia, que só viria a ser aplicada em 1979.

Pery Bevilaqua, Aliomar Baleeiro, Amaury Kruel, Alzira Vargas e Afonso Arinos Foto: Acervo Estadão

Os depoimentos que o Estadão apresenta vieram de uma iniciativa de Melchiades Cunha Júnior, então redator do Jornal da Tarde que, em 1976, apresentou ao diretor Ruy Mesquita a ideia de criar um banco de informações históricas sobre aquele período marcadamente conturbado. Os depoimentos foram gravados, transcritos e depositados no arquivo do jornal com o compromisso de que seu inteiro teor não seria divulgado enquanto os entrevistados estivessem vivos.

Afonso Arinos concede entrevista ao Jornal da Tarde em 20 de fevereiro de 1977 Foto: Arquivo

Afonso Arinos, ex-senador e ex-ministro:

O ex-líder do principal partido de oposição a Getúlio Vargas expõe divergências sobre apoio a Jânio Quadros, a tentativa americana de convencer o Brasil a apoiar a invasão da Baía dos Porcos e narra como as derrotas eleitorais agravaram a inclinação da legenda em favor da solução militar. Leia o depoimento.

O general Pery Bevilaqua durante entrevista em sua casa, no Rio, para o Jornal da Tarde em 20 de fevereiro de 1977 Foto: Sucursal Rio/Estadão

Pery Bevilaqua, general

Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, advertiu o presidente João Goulart no dia 31 de março de 1964: que se livrasse dos sindicalistas e governasse com os militares. Mais tarde, em 1969, como ministro do Superior Tribunal Militar, foi cassado pelo Ato Institucional nº 5. Leia o depoimento.

Amaury Kruel em seus escritório no Rio, onde foi entrevistado em 1977 Foto: Sucursal Rio/Estadão

Amaury Kruel, general

Ex-ministro da Guerra de João Goulart e comandante do 2º Exército, o general contou em depoimento o que pediu ao então presidente antes de se decidir pelo golpe: ‘O senhor tem de acabar com essa pelegada’. Leia o depoimento.

Foto 1: Acervo389.jpg (Pasta: Neg 770819 Min ALIOMAR BALEEIRO e ALZIRA VARGAS data 20.02.1977) Foto: Arquivo/Estadão

Aliomar Baleeiro, ex-presidente do STF

Ex-presidente da Suprema Corte, revela receio de Castelo Branco, o primeiro presidente após o golpe militar de 1964, de deixar o poder a outros militares, que derrubassem o governo, inaugurando uma espiral de golpes. Leia o depoimento.

Publicidade

Alzira durante seu depoimento ao projeto memória, em seu escritório, no Rio crédito: Sucursal Rio/Estadão Foto: Sucursal Rio/Estadão

Alzira Vargas, filha de Getúlio e chefe do Gabinete Civil da Presidência do pai

Ela conta episódios dramáticos da crise político-militar que levou ao suicídio de seu pai e trata da figura de João Goulart. Alzira Vargas também alega inocência do pai no atentado que vitimou o major Rubens Vaz e repete a versão sobre o jornalista Carlos Lacerda espalhada por getulistas: a de que ele simulara o atentado. Leia o depoimento.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.