7 de Setembro muda depois de inteligência militar detectar ameaças de bolsonaristas radicais

Presidente Jair Bolsonaro queria transferir desfile do dia da Independência para Copacabana, mesmo local onde está programado ato político a seu favor

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Foto do author Francisco Leali
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SÃO PAULO e BRASÍLIA – A inteligência militar detectou a possibilidade de movimentos mais radicais de apoio ao presidente Jair Bolsonaro tentarem se infiltrar no desfile de 7 de Setembro no Rio de Janeiro para provocar tumulto e defender a intervenção militar no País. O alerta foi decisivo para os militares declinarem de realizar um desfile de armas em Copacabana como queria o presidente. Em pleno bicentenário da independência, a tradicional parada militar no Centro da cidade também foi cancelada. No lugar, o Exército irá realizar um ato sem arquibancada ou desfile de tropas.

Por várias vezes, o presidente declarou que a comemoração deveria ser transferida do Centro do Rio para Copacabana, onde bolsonaristas organizam um ato. Tradicionalmente, os presidentes da República participam do ato em Brasília. A escolha de Bolsonaro pelo Rio deve-se, segundo interlocutores, ao fato de a cidade concentrar o maior número de extremistas que apoiam o presidente. A coluna de Matheus Leitão, na no site da Veja, noticiou que órgãos de inteligência suspeitam inclusive de ataques violentos no 7 Setembro.

Marinha fará parada naval no 7 de Setembro no Rio de Janeiro Foto: Reprodução

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, entrou no circuito insistindo que não havia condições de realizar uma parada em Copacabana, como o presidente queria, por motivos de logística. Esse tipo de evento é organizado com um ano de antecedência. Não é a primeira vez que Bolsonaro tenta inovar num 7 de Setembro. Em 2019, o presidente estava no Rolls Royce modelo 1952 e quebrou o protocolo parando no meio do trajeto para dar carona a um menino que estava na plateia.

O presidente da República Jair Bolsonaro no seu primeiro desfile de 7 de Setembro em 2019.  Foto: Dida Sampaio/Estadão

A campanha de Bolsonaro também se preocupa com o radicalismo e viu com alívio a proposta inicial do presidente se inviabilizar. O grupo vai aproveitar para retomar um velho discurso do presidente de que ele afastou os radicais que defendem a intervenção militar, uma ação ilegal, e tentar passar uma imagem de ordem e de que ele tem o respeito das Forças Armadas. Desde a posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na terça-feira, 16, Bolsonaro não fez mais críticas às urnas eletrônicas, um tema que inflama seus seguidores mais radicais.

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Desfile militar de 7 de Setembro tradicionalmente era realizado na avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Para atender minimamente ao presidente, a prefeitura e militares ainda negociam a dimensão do evento em Copacabana, ainda que o ato não seja mais considerado o desfile oficial de 7 de Setembro. Já está definido que haverá apresentação da esquadrilha da fumaça, com aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), demonstração que foi realizada em outras comemorações do Dia da Independência. Organizadores confirmam que um grupo de paraquedistas do Exército também fará uma exibição em Copacabana.

A Marinha enviará embarcações que ficarão a 1 km da praia. A participação de navios militares na celebração, no entanto, não tem relação direta com o que Bolsonaro vinha pedindo. Isso porque a Força, por conta da comemoração dos 200 anos da Independência, iniciou há três anos um planejamento especial para o dia. Além dos navios da Marinha brasileira haverá também embarcações de outros países convidados. Entre eles estarão os Estados Unidos, que enviaram o navio anfíbio Mesa Verde. Até mesmo um navio dos Camarões, que já partiu da África, vai participar.

Mesa Verde, navio da Marinha dos Estados Unidos que participará da solenidade de comemoração do 7 de Setembro. Foto: Reprodução

Os navios serão deslocados pelo litoral carioca, da Barra da Tijuca até a zona portuária, passando por Copacabana. Oficiais confirmaram que no bairro onde está prevista a manifestação pró-Bolsonaro haverá a presença de bandas militares. Mas a presença de outros efetivos ainda não está definida. O Estadão apurou que as mudanças de última hora exigidas pelo presidente desagradaram a cúpula da Marinha.

Na última quarta-feira, 17, Eduardo Paes escreveu em sua conta no Twitter que não haveria interrupção no tráfego em Copacabana para realização do desfile militar. “Como já havia sido veiculado por alguns órgãos de imprensa, deverão acontecer apresentações da Marinha e da Aeronáutica no mar e no espaço aéreo, sem qualquer tipo de interferência nas pistas da Avenida Atlântica”, escreveu o prefeito. “Ao longo dos próximos dias teremos reuniões com as Forças Armadas para a organização de detalhes. Repito: a parada militar não será na (avenida) Pres. Vargas nem em Copacabana. Essa é a solicitação que recebi do Exército Brasileiro”, disse Paes.

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