7 de Setembro: bolsonaristas preparam ato com Musk como herói, Moraes como vilão e bonecos gigantes

Ato na Avenida Paulista terá a anistia dos presos do 8 de Janeiro como pauta formal, mas impeachment de ministro do Supremo Tribunal Federal é o assunto que aglutina manifestantes

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Foto do author Guilherme Caetano

BRASÍLIA - Após um ano de ressaca e ânimos resfriados, a manifestação do 7 de Setembro organizada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve voltar à Avenida Paulista no próximo sábado com dois personagens centrais: o bilionário Elon Musk e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Ainda que o pano de fundo seja a luta pela liberdade de expressão e a anistia dos presos no 8 de Janeiro, quando uma multidão de apoiadores de Bolsonaro destruiu prédios dos Três Poderes, o evento deve ter a adesão impulsionada pelos recentes acontecimentos envolvendo esses dois atores.

Jair Bolsonaro e Silas Malafaia Foto: @PastorMalafaia via X

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Além de reportagens do jornal Folha de S.Paulo que revelaram a atuação informal entre gabinetes de Moraes no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na semana passada o ministro mandou suspender o funcionamento do X (antigo Twitter) no País em razão do descumprimento de ordens judiciais por parte de Musk. O bilionário, dono da rede social, por sua vez, passou a vazar as decisões do Supremo na internet, em retaliação. Em vez de enfraquecer a convocação para o evento, a derrubada do site colocou lenha na fogueira, dizem os organizadores.

Mais do que nunca, Musk estará sob os holofotes. Um boneco de 20 metros de altura, previsto para ficar ao lado do carro de som do grupo Movimento #ForaMoraes, liderado pelo empresário Guilherme Sampaio e pelo ex-comentarista da Jovem Pan Marco Antônio Costa, deve dar o tom do enredo. Ao lado de Musk, Moraes será representado por outro boneco gigante com uma “cabeça de ovo” — pecha com que bolsonaristas se referem ao ministro. Abaixo, as escrituras: “Supremo Tirano Federal” e “Democracy or Moraes”, uma referência a Musk.

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O mesmo grupo também planeja um boneco gigante do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) vestido com uma fantasia de banana, para pressioná-lo pelo impeachment de Moraes. O Senado, que ele preside, é a Casa responsável pela eventual deposição de ministros do Supremo.

Incentivo vindo de fora

Musk tem feito seus esforços para incendiar a direita brasileira contra a mais alta Corte do País. Dias atrás, ele compartilhou uma convocação para o ato feita pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), e tem dado inúmeras declarações contra Moraes. “Não há dúvida de que Moraes precisa sair. Ter um ‘ministro do Supremo’ que viola repetida e flagrantemente a lei não é justiça alguma”, escreveu Musk no X em agosto.

Aliados de Bolsonaro ouvidos pelo Estadão dizem que a anistia aos bolsonaristas presos no 8 de Janeiro deve ser a reivindicação formal do protesto, mas que a ira contra Moraes é a pauta que aglutina os manifestantes que devem comparecer à Avenida Paulista.

O modo com que a ofensiva contra Moraes vai ser tratada nos discursos tem gerado insatisfação contra um dos principais organizadores da manifestação, o pastor Silas Malafaia. Na sexta-feira, 30, um grupo de militantes se desentendeu com Malafaia e abandonou a presença no Demolidor, o trio elétrico mais potente entre os carros de som previstos no ato, onde o evangélico estará.

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Os militantes criticam as condições impostas pelo pastor, que teria restringido o número de pulseiras da área VIP e vetado discursos contra Moraes de cima do Demolidor. Como o veículo deve acomodar Bolsonaro e seus filhos, existiria uma preocupação de que ataques excessivos ao ministro respinguem no ex-presidente. O próprio Malafaia deve ficar incumbido de subir o tom. Procurado pelo Estadão, ele confirmou a informação e encaminhou à reportagem um vídeo em que diz que fará seu “mais duro discurso” contra “o ditador Alexandre de Moraes” no evento.

Outros organizadores afirmam que Moraes será alvo de qualquer jeito. Mas o receio de ser incluído nas investigações contra atos antidemocráticos deve reduzir as chances de uma reedição do 7 de Setembro de 2021, em que o então presidente Bolsonaro chamou o ministro de “canalha” e afirmou que não iria mais cumprir decisões da Corte. Alguns ativistas querem tomar precauções: “a gente não apoia qualquer agressão ad hominem, de cunho pessoal, Nada que agrida a pessoa de qualquer ministro, e também não apoiamos pedidos de golpe, intervenção”, diz empresário Guilherme Sampaio.

Sete grupos diferentes de militantes protocolaram junto à Polícia Militar o pedido de autorização para se manifestar na Avenida Paulista no sábado: Grupo Movimento Conservador Escolhidos por Deus; Movimento Patriotas do QG; Movimento #ForaMoraes; Movimento Marcha da Família — Foro Conservador; Movimento Resistência Brasil e Monarquistas; Movimento Voluntários da Pátria e Auri-Verde; e Bruno Kendy Sato, de maneira independente. Com exceção do grupo de pauta homônima, todos os outros inscreveram como motivações temas referentes à liberdade ou homenagem à data do Dia da Independência.

Diferentemente da manifestação de 25 de fevereiro convocada por Bolsonaro como uma demonstração de força diante das investigações da Polícia Federal que se fechavam contra ele, quando cartazes e faixas foram vetadas pelo próprio ex-presidente, as mensagens devem voltar à avenida e refletir os ânimos contra o STF.

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Se ao longo de 2023 as críticas ao Poder Judiciário desapareceram dos eventos bolsonaristas, hoje lideranças voltam a tratar do assunto de forma espontânea. O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) define o momento político como de “justa indignação da sociedade” e diz que “manifestar-se é o pleno exercício de democracia. Fala-se tanto de democracia, mas ir para as ruas é um ato democrático”.

Já a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirma que, “se o povo não reagir e pressionar os senadores de centro para que o impeachment de Moraes seja possível, não voltaremos jamais a ter liberdade” no País. “E a manifestação de 7 de Setembro será uma excelente forma de mostrar pro mundo que ainda há chance do Brasil ser um país democrático”.

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