A quatro meses e meio das eleições, o comando da campanha de Jair Bolsonaro é alvo de cotoveladas e divergências que crescem na mesma velocidade do preço dos combustíveis. Sem conseguir dar uma resposta para o aumento do custo de vida, Bolsonaro busca agora culpados para a crise econômica, que vão da pandemia de covid-19 à guerra na Ucrânia, passando por governadores e desembarcando na Petrobras.
Diante de discursos desencontrados, o comitê da reeleição marcou reuniões para esta semana numa casa alugada no Lago Sul, em Brasília, com o marqueteiro Duda Lima, homem de confiança do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Em tempos de haraquiri na política, como se vê com o ex-governador João Doria, em pé de guerra com o PSDB, a ordem é dar um freio de arrumação na retórica do presidente e divulgar “ações” dos ministérios.
O senador Flávio Bolsonaro (PL), coordenador da campanha do pai, diz ser preciso melhorar logo a comunicação, pois eleitores têm “informações distorcidas” sobre o governo. Não é o que parece.
Bolsonaro colhe o que plantou. Fala e faz o que bem entende e já demitiu dois presidentes da Petrobras, além de um ministro de Minas e Energia. Para quê? À beira de um ataque de nervos, quer mostrar que fez tudo o que pôde e, ao prever “eleições conturbadas”, prepara o discurso do dia seguinte.
Se perder, dirá que foi roubado; se ganhar, que tinha vencido com mais votos. Paira sobre esse script a ameaça de golpe, uma coisa de “psicopata”.
No mundo real, porém, os problemas do Brasil são bem mais pragmáticos: corrosão dos salários, miséria, desemprego e inflação, pressionada pelo aumento dos combustíveis. “Eu não manjo nada de economia, assim como o Guedes não manja nada de política”, admitiu Bolsonaro em almoço com empresários, na segunda-feira, numa referência ao Posto Ipiranga.
Em um ato de sincericídio, o presidente disse tudo. Mas a busca de culpados por sua estagnação nas pesquisas virou rotina nos bastidores da campanha. No Planalto, generais afirmam que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), não atua como “amortecedor”, como prometeu, e tem “agenda própria”.
O Centrão, por sua vez, discorda da cruzada de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas, a Justiça Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal, mas está mais preocupado em administrar o orçamento secreto. O objetivo do bloco é eleger bancadas fortes para negociar com o próximo governo. Se o ex-presidente Lula for eleito, não há dúvida de que a tal encarnação do “mal” vai virar “bem”. Pelo poder o Centrão faz até haraquiri.
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