‘A gente acredita que Lula já chegou no teto’, diz ministro das Comunicações de Bolsonaro

Fábio Faria diz que Sudeste é fundamental e projeta mais de 60% dos votos em SP no presidente

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Foto do author Gustavo Queiroz

Após o presidente Jair Bolsonaro (PL) arregimentar apoios de governadores eleitos, o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), diz confiar numa virada no segundo turno. Para ele, o presidente consegue avançar no Sudeste – região considerada prioritária –, mas também no Nordeste, onde, conforme sua avaliação, deputados que fizeram campanha colados no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agora poderão angariar votos para Bolsonaro, já que não são mais candidatos.

Deputado do PP pelo Rio Grande do Norte, Fábio Faria licenciou-se em 2020 do mandato na Câmara para assumir a pasta das Comunicações. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Embora tenha se mantido no governo, Faria integra um núcleo próximo de assessores do presidente na campanha. Nesta entrevista ao Estadão, ele aposta que Lula atingiu um teto e que ainda há votos úteis que caminham para Bolsonaro. O ministro se tornou um crítico dos institutos de pesquisa e pediu para que as pessoas não respondam levantamentos eleitorais.A seguir, os principais trechos:

O presidente relançou um programa que permite a renegociação de dívidas com a Caixa. A isso se somam o Auxílio Brasil durante o período eleitoral, um pacote de bondades, a redução do preço da gasolina. Adversários acusam o governo de atuar pela campanha. Como o sr. vê isso?

A gasolina foi uma atuação do presidente com Arthur Lira (presidente da Câmara). Desde o começo da pandemia e depois, com a Guerra da Ucrânia, o governo tem trabalhado no combate à inflação. São quatro mil itens que reduziram impostos e isso tem dado certo. Por outro lado, muitos perderam emprego durante a pandemia. (Por isso) O governo fez o auxílio. Depois da guerra, com a inflação, teve que voltar para R$ 600 (o auxílio). O presidente já tinha falado de 13.º para o auxílio lá atrás, que não ia acabar. O presidente sempre faz a média ponderada. Conversa com a política, escuta o Paulo Guedes (ministro da Economia) e decide.

Também, por outro lado, há cortes no orçamento da Farmácia Popular e das universidades. Até que ponto o governo pode prejudicar a campanha?

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Isso ficou sem explicação, foi um contingenciamento de R$ 57 milhões. Teve um aumento de R$ 900 milhões em relação aos outros anos. O presidente já disse que dezembro, quando libera o contingenciamento, ele vai garantir os R$ 57 milhões. É algo muito pequeno (em comparação ao orçamento total). Farmácia Popular é a mesma coisa. O presidente chamou o Paulo Guedes na hora. Guedes já ficou com dever de casa de cortar de outros lugares para repor. O que existe no governo muitas vezes é o seguinte, você tem que performar. Se você não executa até setembro, sofre um corte. Parece que foi corte do governo, mas é porque seria impossível executar até dezembro. Na campanha isso soa ‘parece que cortou algo’, mas não.

Que cálculos a campanha faz para reverter a desvantagem de 6 milhões de votos?

A gente terminou o primeiro turno com as pesquisas dando um resultado bem diferente, uma grande possibilidade de primeiro turno (para Lula). E os nossos (institutos de pesquisa) que estávamos nos baseando, cravando segundo turno com 6 pontos (de diferença). A gente ficava muito tranquilo que iria para o segundo turno com uma margem de 4 a 8 pontos. Esse é o cenário que dava para virar no segundo turno. Se o resultado fosse acima de 8, eu achava difícil a virada. Quando veio esse cenário de cinco pontos, a gente sabe fazer conta. Primeiro precisávamos ganhar no Sudeste e ganhar em São Paulo e o Tarcísio (de Freitas) ir para o segundo turno, para a gente ter um arranque. (Bolsonaro) Recebeu apoio do governador de Minas (Romeu Zema), que pode ajudar a virar Minas. Recebemos grandes apoios. A gente projeta mais de 60%, tanto ele quanto Tarcísio (dos votos em São Paulo). Goiás está com o presidente. No Nordeste é o voto de base, (o deputado) coloca o voto na urna.

Como assim?

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Teve 82% de votos válidos para deputado federal. A cola desses deputados para sobreviver era com Lula. Se eles colocassem na colinha o nome de Bolsonaro no primeiro turno, eles perdiam voto. E esses deputados que já estão eleitos foram ao Planalto, tiveram com o presidente e disseram: ‘Agora, no segundo turno, é só o presidente. Nossa base vai votar no presidente’. Ele vai ter aí 300 deputados que não trabalharam para ele e que agora vão trabalhar. Hoje vejo perspectiva total de vitória de Bolsonaro.

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Lula conseguiu apoios ao centro, como Simone Tebet, enquanto Bolsonaro fechou com os governadores eleitos dos grandes colégios eleitorais. O que vale mais?

Os grandes apoios estão do lado do presidente. O voto da Simone Tebet que ia para o Lula a gente já mediu e foi no primeiro turno. Nas nossas pesquisas, Lula não teve aumento de votos. A gente acredita que ele chegou no teto. Ele recebeu todos os votos possíveis de Ciro Gomes e Simone. Ele perde em São Paulo, perde em Minas. O presidente vai converter votos até pela rejeição, que já diminuiu muito. Quem recebeu apoio foi Bolsonaro. A política sabe ler. O mercado cresceu na segunda-feira, 5,5%. Quem tem leitura política vê que um Congresso conservador assumiu o Senado e a Câmara. Bolsonaro teve um pouco menos votos que esse Congresso. Tem tudo para chegar a esse patamar. A leitura do mercado é: Se Lula for eleito nesse Congresso, o Brasil não vai se entender.

“Os grandes apoios estão do lado do presidente. O voto da Simone Tebet que ia para o Lula a gente já mediu e foi no primeiro turno. Nas nossas pesquisas, Lula não teve aumento de votos.”

Em um eventual segundo mandato, o presidente conviverá com um Congresso teoricamente menos hostil. A possibilidade de investir no impeachment de ministros do Supremo é real?

O presidente me disse: ‘Fábio, você tem ideia do poder que tem um presidente da República? É maior do que você pensa. Se eu quisesse, estaria em lua de mel tal com os ministros do Supremo, com o Judiciário, com a imprensa, o problema é que eu estaria traindo o meu eleitor’. Ele tem uma crise de consciência. Quando viu esse resultado, disse: ‘Isso é um recado para todo mundo que achava que ia ser uma derrota geral’. Você vê a conversa dele com o (Sergio) Moro. Se chegar qualquer conversa que for com alguém e a pessoa falar: ‘Presidente, daqui para frente, o sr. se excedeu aqui, vamos conversar’. O presidente é zero revanchista.

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O presidente insiste em colocar em dúvida o resultado das urnas. No pedido da Defesa, o TSE atestou que não houve fraude. O presidente não precisa se manifestar? É uma questão que tensiona o processo eleitoral.

A gente respeitou totalmente o resultado. O presidente disse: ‘Eu só quero que tenha mais transparência’. Acho que (o ministro) Alexandre (de Moraes) teve papel importante nisso. Depois que assumiu (o TSE) ele aceitou as Forças Armadas, acho que diminuiu bem a tensão e foi quando a gente conseguiu prosseguir nesse assunto. Aqui e acolá pode ter alguém que fale alguma coisa, um fato isolado. Se você olhar para o fato central está pacificado, mas o presidente quer que as Forças continuem lá dentro, contribuindo.

“Pedi para não responderem (pesquisas de intenção de voto) porque (os institutos) erraram. Nossas pesquisas dando 2 ou 3 pontos e eles soltaram 17 de diferença.”

Estimular as pessoas a não responder uma pesquisa eleitoral não é contribuir para um processo que pode virar desinformação?

Eu pedi para elas não responderem porque erraram no primeiro turno. Nossas pesquisas dando 2 ou 3 pontos e eles soltaram 17 de diferença. No outro dia começou uma campanha de voto útil, coincidentemente. E isso funcionou para o Lula. Uma boa parte da população vota em quem vai ganhar. Quando vejo que é fair play, eu aceito, mas quando a pesquisa vem, no outro dia vem um trabalho de voto útil e fica um trabalho de uma dando o mesmo resultado da outra enquanto todo mundo está caminhando para outro sentido… Vai induzir voto, vai interferir no regime democrático, a gente tem que reagir. Tem uma parcela do bolsonarismo que não responde pesquisa. Vão sempre errar, eu pedindo ou não.

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