SALVADOR - O apartamento 201 do edifício José Silva Azi, no bairro da Graça, em Salvador, está vazio e à venda – é visitado apenas por corretores e clientes interessados. Unidades com a mesma planta no prédio estão avaliadas em cerca de R$ 500 mil em sites de anúncios imobiliários. O valor é 0,98% do dinheiro encontrado em malas dentro dele.
No local, impera a lei do silêncio. Moradores não falam e porteiros são orientados a não dar informação sobre o 201 – apartamento que ganhou o apelido de “bunker” depois que a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões em dinheiro armazenado em malas de viagem em 2017. “Não temos autorização para passar informações individuais” é a resposta padrão a quem pergunta pela unidade.
O empresário Silvio Antônio Cabral da Silveira, que emprestou o apartamento para Geddel, não quis falar com a reportagem. Em depoimento, ele afirmou que o ex-ministro havia pedido o imóvel emprestado para guardar pertences do pai, que morreu em 2016. Ele não foi processado.
Candidato
O ex-diretor geral da Defesa Civil de Salvador Gustavo Ferraz também escapou do indiciamento, mas ainda sofre as consequências do envolvimento no caso do “bunker”. Ele admitiu, em depoimento na época, que foi a São Paulo buscar uma mala de dinheiro para Geddel, a fim de financiar a campanha eleitoral de 2012, mas afirmou que não imaginava que o montante tratava-se de caixa 2 ou propina. Hoje, nega a alcunha de “operador” como chegou a ser apontado.
Em 2017, Ferraz ficou 40 dias preso no Distrito Federal. A Polícia Federal encontrou meia impressão digital do dedo anelar direito dele em sacos de dinheiro encontrados no apartamento. Ele se livrou por falta de provas suficientes de seu envolvimento no episódio.
Após a decisão da 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de não indiciá-lo, Ferraz voltou a advogar nas áreas cível e do consumidor. Ele projeta abrir um escritório próprio de advocacia, mas diz que hoje vive com “dificuldades” pela falta de emprego. Ferraz disse à reportagem que tem completado a renda com a contribuição da família.
O ex-diretor da Defesa Civil sustenta até hoje a versão de que não tinha relação próxima com os Vieira Lima, e diz que foi indicado para um cargo na prefeitura de Salvador “como tantas outras pessoas”. Ele se desfiliou do MDB no ano passado e, hoje no PV, é pré-candidato a prefeito de Lauro de Freitas, município da Grande Salvador. “Tenho certeza que o povo de Lauro de Freitas entendeu que, de fato, eu não tinha nada a ver com aquilo”, disse.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.