Após ser sondada para ser candidata a vice do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), de João Doria (PSDB) para Prefeitura em 2016, e até de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), de 54 anos, foi pega surpresa com o convite – esse para valer – para compor a chapa de Simone Tebet (MDB-MS) na disputa presidencial deste ano. ”Não lutei por essa vaga”, disse ela em seu apartamento, enquanto se preparava para um dia de campanha. Seu nome despontou na última hora e ganhou força com pesquisas qualitativas que mostravam uma boa aceitação do eleitorado a um palanque feminino.
Primeira tetraplégica em uma disputa presidencial no Brasil, Mara levou a inclusão para o centro da campanha de Simone e inseriu no programa da chapa uma proposta ousada para os padrões eleitorais brasileiros: a distribuição pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de medicamentos a base de cannabis medicinal, o CBD.
Mara adotou a cannabis medicinal em 2018, quando começou a ter espasmos involuntários. O uso do medicamento hoje é permitido, mas custa caro e só pode ser importado. O cultivo é proibido no País.
A proposta foi encampada por Simone e as duas gravaram um comercial para o horário eleitoral na TV defendendo a ideia. O programa não tem data para ser exibido. Estrategistas avaliam que ainda há uma forte resistência do eleitorado mais conservador, especialmente o evangélico. Há temor de que a ideia seja distorcida. Braço direito de Mara, a ex-secretária de Direitos Humanos da capital, Claudia Carletto (PSDB), ponderou que a defesa de medicamentos a base de cannabis no SUS e a legalização da maconha são coisas diferentes.
A palavra cannabis não aparece no plano de governo de Simone. O texto fala de forma genérica em “acesso a medicamentos por pessoas com doenças raras”. “Defendo a legalização do plantio, mas a descriminalização da maconha não é o momento de discutir. A urgência é aprovar a cannabis medicinal”, disse Mara.
Antipetismo
Na quinta-feira passada, durante trajeto até a Rede de Habilitação Lucy Montoro, onde caminhou 1 km em uma esteira com um exoesqueleto, Mara falou sobre outro tema que ela agregou à campanha: o antipetismo. A senadora é filha de um empresário de ônibus de Santo André que, segundo ela, teria sido vítima de extorsão de administrações petistas sob o comando do ex-prefeito Celso Daniel, que foi executado a tiros. O tom de Mara em relação ao PT diverge de Simone – ou, segundo aliados, complementa a narrativa.
“É uma das mulheres mais preparadas do País para debater e tratar de temas relacionados às pessoas com deficiência.”
Simone Tebet (MDB-MS), candidata à Presidência
Depois da sessão de fisioterapia, Mara e comitiva seguiram para o Hospital Cruz Verde, que atende crianças com paralisia cerebral. O local foi escolhido a dedo. Naquele dia, uma reportagem do Estadão havia revelado que Mara indicou R$ 19,2 milhões em emendas do orçamento secreto em 2020. A revelação foi um constrangimento, já que Simone Tebet classifica o orçamento secreto como o “maior esquema de corrupção do planeta”. O hospital recebeu R$ 700 mil de emenda.
Sobrenome
“No meio da pandemia eu recebi um telefonema do (senador) David Alcolumbre dizendo que havia recursos de emendas que sobraram para saúde. Em 2020 não tinha esse sobrenome de ‘secreto’. Depois fui me dando conta que uns recebiam e outros não”, disse Mara, enquanto almoçava uma marmita vegana no carro, preparada ali mesmo em uma espécie de cozinha adaptada.
Na reta final da agenda, a senadora retoma o tema da acessibilidade e lembra que forçou reformas físicas em todos os parlamentos por onde passou: Câmara Municipal de São Paulo, Câmara dos Deputados e Senado. “É mais difícil conseguir um emprego de garçonete do que ser presidente. Não vejo limitação nenhuma”, disse a senadora ao falar da possibilidade de uma tetraplégica assumir a Presidência da República.
”Mara é uma das mulheres mais preparadas do País para debater e tratar de temas relacionados aos interesses das pessoas com deficiência”, disse Simone Tebet.
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