ESPECIAL PARA O ESTADÃO - O acesso à saúde mental não deveria ser tratado como luxo e privilégio de poucos. O painel apresentado na manhã desta quinta-feira, 31, durante a 9ª edição do Brazil Conference, abordou a importância de discutir como a pressão social e os desafios do mundo contemporâneo, rodeado pelas artificialidades da internet, afetam a saúde mental da população.
A discussão sobre o tema foi feita com a participação do apresentador Luciano Huck, pela deputada federal Tabata Amaral e pela CEO e diretora criativa da empresa Obvious, Marcela Ceribelli, que conduziu o painel. Os participantes enfatizaram a maneira pelo qual o tema se tornou uma prioridade nos últimos anos, especialmente após a pandemia. “Tem um aspecto sombrio no mundo de hoje. Vivemos uma polarização intensa, [passamos por] uma pandemia que desestabilizou todos e isso gerou um declínio na saúde mental”, frisou Huck.
Em meio a esta nova dinâmica estabelecida pelo isolamento social, o painel discutiu o papel exercido pela internet no cotidiano das pessoas e de que maneira impôs novas condições de interação. “A internet tem a capacidade de ecoar. [Ela é] uma grande câmara que ecoa as coisas para o bem e também ecoam o mal da sociedade”, disse o apresentador. “Quando esse lado sombrio recebe eco e apoio em um ambiente que não podemos controlar, entendemos porque vemos a depressão como nunca vimos antes, o suicídio entre os adolescentes como nunca vimos antes”, pontuou.
Neste sentido, Marcela Ceribelli comentou que a noção de pertencimento oferecida pela internet traz, muitas vezes, uma sensação de segurança, e que é preciso saber como impedir que pessoas imersas em grupos virtuais não integrem este ambiente sombrio. “Precisamos encontrar um equilíbrio”, disse. Para ela, vivemos uma época de solidão, “já que as telas não conectam, muitas vezes, de forma verdadeira”.
Dentro do cenário político, a deputada Tabata Amaral relatou a necessidade de transformar a maneira como a sociedade enxerga os transtornos mentais, de forma que eles não sejam vistos como fraquezas e sim tratadas como doenças que merecem receber um tratamento digno e de qualidade. “Pode parecer por muito tempo que saúde mental é uma questão de elite, como eu achava, que é para quem é fraco e por aí vai”, explicou. “Temos um longo caminho pela frente (...) Quero que tratem a saúde mental como tratam a saúde física: com atendimento, com estudo, com remédio, com acolhimento e de forma humanizada”, declarou.
Gênero e saúde mental
A saúde mental sob a perspectiva de gênero foi outro ponto tratado pelo debate. Marcella Ceribelli destacou as dificuldades das mulheres em se impor no mercado de trabalho e a maneira como a carga mental recai sobre elas. “Vivemos por muito tempo nesse pacto do silêncio, como se nossas dores tivessem que ser tratadas no individual, como se todas fôssemos inseguras e faltasse autoconfiança”, disse. “Agora, começamos a reconhecer que tem obstáculo que mulheres e outras minorias passam que tem que ser tratados com seriedade. É no coletivo que resolve isso”, citou.
Para a deputada Tabata Amaral, a mudança dessa visão passa pelo cenário político. “Uma grande luta da nossa geração é porque queremos ocupar esses lugares do nosso jeito”, enfatizou. “Hoje eu vejo como muitas mulheres foram forçadas a se colocar em uma caixinha, e hoje nós queremos estar no mundo da forma como desejamos”, desabafou. Segundo ela, a mudança não irá acontecer se não houver a construção de um espaço representativo. “Como avançamos nisso se a cada cinco políticos no Brasil, quatro são homens?”, indagou.
Desigualdade e aprendizagem
Durante a abertura do evento, o publicitário Nizan Guanaes ressaltou o cenário de desigualdade atual do Brasil no século XXI, abordou a necessidade do País em avançar de forma que abranja toda a população e ainda apontou a polarização política e binária vivenciada pelo mundo, criticando a maneira como a política brasileira segue o mesmo ritmo nos últimos anos.
“Precisamos de muita estrutura e renovação. Precisamos lutar para que o século XXI não seja privilégio de poucos”, indagou. “[Precisamos] permitir essa transição no Brasil, criando pontes. Não é mais possível o País mudar de direção a cada novo governo. Estamos aqui para discutir o que temos que ser e as coisas que devemos deixar de ser” esclareceu.
Já o primeiro painel debateu os desafios e caminhos para iniciar um novo negócio, tema discutido entre os empreendedores Anu Hariharan e Pedro Franceschi. Durante a conversa, ambos compartilharam experiências e trajetórias em desenvolver uma empresa do zero. Franceschi, um dos brasileiros mais jovens a desenvolver uma startup, enfatizou os riscos que qualquer novo negócio está sujeito e declarou que o sucesso é algo lento. Um dos conselhos dado por ambos é se manter sempre no processo de aprendizagem e avaliar o conhecimento sobre o próprio negócio.
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