Foi o Congresso do acordão. Embora o antigo Campo Majoritário tenha recuperado terreno numérico, o megaencontro do PT mostrou que a corrente do presidente Lula e do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu ainda está dividida e fragilizada pelo escândalo do mensalão. Mesmo tendo 51% dos 931 delegados eleitos para o Congresso, a tendência reunida na chapa Construindo um Novo Brasil teve de fazer acordos e concessões para aprovar propostas e não perder votações em plenário. Na outra ponta, o grupo capitaneado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro - principal desafeto de Dirceu no PT -, também foi obrigado a ceder. A chapa Mensagem ao Partido conseguiu emplacar o Código de Ética, mas teve de abrir mão da Corregedoria, ao menos por enquanto. Tratada pelos moderados que gravitam em torno de Dirceu como "delegacia de polícia", a Corregedoria foi empurrada para o debate de 2009. Era, na prática, uma espécie de bode na sala, que o grupo taticamente retirou para salvar o Código de Ética. Apesar dessa vitória, a ala de Tarso - que elegeu 13,78% dos delegados eleitos para o 3.º Congresso - comprou muitas brigas no partido, da esquerda ao centro, e está isolada. Mas já anunciou que vai continuar como uma corrente, para disputar a direção do PT, em dezembro. Além disso, o PT também deu uma guinada à esquerda e tentou se reaproximar dos movimentos sociais. Preocupado em não perder espaço para a esquerda latino-americana, que festeja o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o partido teve uma recaída socialista - depois de enrolar essa bandeira no 2.° Congresso, em 1999. Aprovou, ainda, apoio ao plebiscito para discutir a reestatização da Vale do Rio Doce, entrando em confronto com Lula. Mais: reforçou as críticas à política econômica e insistiu em que a produção de etanol, menina dos olhos do presidente, deve ser "objeto de regulação pelo Estado".
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