BRASÍLIA - O novo advogado de Fabrício Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, também presta serviços à ex-mulher de Frederick Wassef. Atualmente, ele consta como advogado de Maria Cristina Boner Leo em uma ação cível, além de ter defendido a empresária entre 2012 e 2018 no caso em que ela é acusada de pagar propina a integrantes do governo do Distrito Federal em troca de contratos, o chamado mensalão do DEM.
Ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, Queiroz foi preso na semana passada em Atibaia, no interior de São Paulo, num imóvel de Wassef, que até domingo, 21, defendia o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). A localização do ex-assessor na casa do advogado do parlamentar levantou suspeitas de autoridades sobre uma possível tentativa de obstrução de Justiça.
Queiroz e Flávio são investigados sob suspeita de manterem um esquema de "rachadinha" - divisão do salário dos funcionários de gabinete - na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, o ex-assessor comandava a arrecadação irregular e repassava parte dos recursos ao filho do presidente Jair Bolsonaro.
Wassef se afastou do caso após a repercussão negativa da descoberta de que abrigava Queiroz em seu imóvel.
Embora Wassef e Cristina estejam separados, segundo o próprio advogado, os dois mantêm boa relação. No dia da prisão de Queiroz, por exemplo, Wassef estava em uma casa em Brasília que pertence à ex-mulher. É no endereço que ele costuma se hospedar quando está na capital federal. Uma mansão, no Lago Sul, área nobre de Brasília. No registro do cartório, a casa estava penhorada até março deste ano para pagamento de uma dívida no valor de R$ 35,1 milhões. A penhora foi cancelada no mês passado.
Além de Cristina, o defensor também defende outros personagens que mantêm relação com envolvidos no caso. Ele é advogado da família do miliciano Adriano da Nóbrega, morto no início do ano após se fugir da polícia. O Ministério Público do Rio de Janeiro apura se a mãe e a ex-mulher do miliciano fizeram parte do esquema de "rachadinha".
A reportagem questionou Catta Preta sobre um potencial conflito de interesse nos casos. "Se em algum momento se identificar potencial conflito, terei que avaliar", respondeu o advogado ao Estadão. Segundo ele, embora conste na Justiça como representante de Cristina na ação cível, ele deixou de atuar no processo. O processo diz respeito a um conflito entre Cristina e outro ex-marido, Antonio Bruno Di Giovanni Basso.
Na investigação do Rio, os promotores apuram, entre outros fatos, quem era responsável por financiar os custos de Queiroz, desde que ele deixou o Rio de Janeiro no início de 2019, quando o Estadão revelou o esquema de rachadinhas envolvendo o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro. Na época do suposto esquema, o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual.
No pedido de prisão do policial militar reformado, o MP do Rio disse que anotações manuscritas em uma caderneta apreendida na residência de Márcia Oliveira de Aguiar, esposa de Queiroz, e os recibos do Hospital Israelita Albert Einstein "comprovam que a mulher do operador financeiro da organização criminosa recebeu pelo menos R$ 174.000,00 (cento e setenta e quatro mil reais), em espécie, de origem desconhecida e pagou as despesas do hospital com dinheiro vivo".
Os promotores citam também nos autos terem encontrado "evidências de uma complexa rotina de ocultação do paradeiro de Fabrício Queiroz, articulada por uma pessoa com notório poder de mando, à qual se referiam apenas como 'ANJO'". Os procuradores consideram que Anjo é codinome de Wassef.
Uma vez que Queiroz foi encontrado em endereço de Wassef, os promotores vão aprofundar a investigação, para comprovar quem mantinha e onde vinha o dinheiro.
Caixa de Pandora
A empresária Cristina Boner Léo e mais sete pessoas são réus em uma ação penal na Justiça do DF em um caso que ficou famoso pelo video do ex-governador do DF José Roberto Arruda embolsando propina de R$ 50 mil. O dinheiro veio de uma empresa de Cristina Boner, a B2BR, pela obtenção de contratos com o governo do DF, segundo o delator Durval Barbosa, que então era o secretário de Assuntos Institucionais do Distrito Federal.
Catta Preta assumiu a defesa de Cristina Boner quando a denúncia foi apresentada, em 2012. Segundo disse ao Estado, ele deixou o caso em agosto de 2018. A ação penal ainda não foi julgada. Está na fase de alegações finais.
Segundo a denúncia do MP, apoiada na delação e nos vídeos de Durval Barbosa, a propina entregue a Arruda era parte de um acordo para direcionamento de um contrato emergencial de R$ 9,8 milhões à B2BR, de Cristina Boner, em troca de um pedágio de 10%. O contrato posteriormente foi anulado no tribunal de contas do DF e Cristina foi condenada por improbidade administrativa.
Era só o primeiro de uma série de contratações à empresa de Cristina, que segundo o Ministério Público pagava propina mensal. A acusação pede o ressarcimento do prejuízo, estimado em R$ 43.177.524,71. O Estadão não conseguiu contato com Wassef e Cristina Boner.
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