Críticas de Aécio a aliança com Tebet visam levar partido para colo de Bolsonaro

Divisões internas de tucanos podem favorecer grupo que quer apoiar o presidente da República na eleição

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Por Lauriberto Pompeu
Atualização:

BRASÍLIA – Desafeto do ex-governador João Doria, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) disse que o PSDB não deve fechar “aliança automática” com a senadora Simone Tebet (MS) para a eleição presidencial. Aécio já reclamou mais de uma vez que o MDB foi “sócio dos equívocos do PT”. Nos bastidores, tucanos avaliam que a estratégia tem como objetivo abrir caminho para o apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

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Nesta quarta-feira, 18, os presidentes do PSDB, Bruno Araújo; do MDB, Baleia Rossi, e do Cidadania, Roberto Freire, decidiram indicar Simone como candidata da terceira via à sucessão de Bolsonaro. A escolha ainda terá de passar pelo crivo das Executivas nacionais dos três partidos, na próxima terça-feira, 24.

Ex-presidente do PSDB, Aécio diz, porém, que os tucanos devem apresentar candidatura própria à Presidência para ser alternativa a Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde que não seja a de Doria. Um importante integrante do diretório nacional do PSDB, que preferiu não ser identificado, avalia que a tentativa do mineiro de barrar uma aliança com o MDB é “uma evidente ajuda a Bolsonaro” e que, ao impedir a união dos dois partidos, “algum tipo de serviço está sendo prestado” à reeleição do atual presidente.

Ao mesmo tempo, a bancada de deputados tucanos e alguns pré-candidatos a governos estaduais têm procurado se aproximar de Bolsonaro. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, o pré-candidato a governador Eduardo Riedel já declarou apoio ao presidente. Na Paraíba, o deputado Pedro Cunha Lima, que também quer ser governador, chegou a participar de ato com Bolsonaro no Estado. Justificou depois sua presença em uma inauguração de obra, ao lado do presidente, como “algo institucional”.

O PSDB é rival do MDB nos dois Estados. Riedel deve ter André Puccinelli (MDB) como adversário e Cunha Lima vai enfrentar na eleição o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), apoiador declarado do ex-presidente Luiz Inácio do Lula da Silva (PT).

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Os dois partidos também são adversários em outros Estados, como em Pernambuco, onde o MDB quer apoiar o pré-candidato de Lula ao governo, o deputado Danilo Cabral (PSB), enquanto o PSDB quer lançar Raquel Lyra.

O ex-governador João Doria (PSDB) e a senadora Simone Tebet (MDB); disputa pela candidatura na terceira via Foto: Tiago Queiroz e J.F.Diório/Estadão

Documentos enviados pelos próprios parlamentares ao Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que 19 tucanos de uma bancada de 22 deputados indicaram recursos do orçamento secreto. A prática, revelada pelo Estadão, é usada pelo governo de Bolsonaro para ganhar apoio político no Congresso.

Na Câmara, o PSDB costuma votar alinhado com o governo. Segundo os ofícios enviados pelo Congresso, pelo menos R$ 483 milhões foram apadrinhados por tucanos em 2020 e 2021. O único integrante da bancada que disse não ter indicado as emendas foi o deputado Alexandre Frota (SP). Joice Hasselmann (SP) e Aécio não responderam ao STF.

No início de abril, durante a janela partidária, período em que deputados federais podem trocar de partido sem o risco de perder o mandato, dez deputados se desfiliaram do PSDB. Alguns deles viraram declaradamente bolsonaristas, como Domingos Sávio, que já foi aliado de Aécio e deixou de ser tucano para entrar no PL, partido do presidente.

O exemplo mais explícito de um atual filiado tucano que apoia Bolsonaro acontece no Mato Grosso do Sul, onde Eduardo Riedel, que tenta suceder o também tucano Reinaldo Azambuja no governo, já disse que “está fechado com Bolsonaro”. O exemplo de Riedel foi levado para a reunião da Executiva do PSDB ontem, 17, com reclamações de que a pré-candidatura de Doria atrapalha ele. A deputada Tereza Cristina (Progressistas-MS), ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro, deve ser a candidata a senadora na chapa do tucano.

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Ao falar do MDB, Aécio não economiza nas críticas à parceria que o partido já teve com o PT. “Na nova matriz econômica, que levou o Brasil a três anos consecutivos de recessão, na ocupação desenfreada do Estado por um grupo político, na equivocada política externa que fez o Brasil ser conduzido por um arcaico bolivarianismo, representado por Hugo Chávez e Maduro, em todos esses equívocos, o MDB esteve lá”, declarou.

Apesar disso, o PT atraiu uma parcela da velha guarda tucana. O ex-senador Aloysio Nunes, que foi vice de Aécio na eleição presidencial de 2014, já declarou voto em Lula. O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também já disse que votaria em Lula caso aconteça um segundo turno entre o petista e Bolsonaro.

Para evitar uma aliança com o MDB, o principal argumento citado pelo mineiro é que a senadora Simone Tebet (MDB-MS), pré-candidata presidencial, pode ser rifada pela própria legenda na convenção partidária. Aécio tem reclamado, em conversas reservadas, que não quer ficar a reboque do que vão decidir caciques do outro partido, como o senador Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney, que apoiam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Uma ala do PSDB ainda tenta fazer com que o senador Tasso Jereissati (CE) ou o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite possam ser candidatos do partido.

De acordo com a avaliação de um membro da Executiva, que até pouco tempo apoiava Doria, existem três tipos de candidatos a presidente para os candidatos a governador: o que atrapalha, o que ajuda e o que não ajuda e nem atrapalha. A avaliação geral é que Doria, pela rejeição que acumulou, atrapalha. A ideia é buscar um outro tucano que seja neutro e não dificulte os acertos regionais da legenda.

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