Um dos fundadores do PSDB, o engenheiro agrônomo Xico Graziano, é o principal assessor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e foi seu chefe de gabinete no Palácio do Planalto, além de deputado federal e coordenador da campanha do senador Aécio Neves, nas redes sociais, durante a disputa presidencial de 2014.
Nesta entrevista ao Estado, Graziano afirma que vê com reservas o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff em tramitação no Congresso Nacional, defende novas eleições e diz que, com o vice-presidente Michel Temer, seria mantido o mesmo esquema de poder.
Vai na manifestação deste domingo na Avenida Paulista?
Vou com a minha família inteira. Vou como cidadão.
Teme que possa ocorrer algum tipo de enfrentamento nas ruas devido ao acirramento político?
Parece que vai haver provocação, mas não temo isso, pois faz parte da tática lulopetista de nos agredir. Tem muita gente que está se estimulando a ir justamente por isso. Ninguém aguenta mais essa coisa opressiva. Não seria estranho que fizessem algo para alimentar o discurso do Lula. Tenho experiência com o MST, que fazia manifestações e, propositadamente, colocava mulheres com criança no colo na linha de frente. Provocação não me intimida.
Defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Hoje tenho dúvidas se o impeachment da presidente Dilma é a melhor saída para a crise. Eu preferia que houvesse novas eleições, inclusive para o Congresso Nacional. Precisamos dar uma virada de página. Acabou um ciclo na política. Esse seria o mundo ideal, mas o mais provável é que ocorra o impeachment.
Por quê o impeachment não é o cenário ideal?
Porque se ela sai, quem entra é o Michel Temer. E aí continua o mesmo esquema de poder. Não me atraio por essa solução, a não ser que Temer promova uma governo de transição com todos os partidos, inclusive o lado bom do PT.
Se a presidente Dilma e Michel Temer forem cassados pelo TSE, haverá novas eleições. O PSDB viveria uma guerra fratricida pela escolha do candidato que disputaria a presidência?
Nessa circunstância, o Aécio seria o candidato natural. Não haveria uma guerra fratricida. As pesquisas mostram isso.
O que achou da decisão do juiz Sérgio Moro de determinar a condução coercitiva do ex-presidente Lula?
Se ele tomou essa decisão é porque precisava. Havia razão para isso. Ninguém pode acusar o juiz Moro de irresponsável. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Os petistas e aliados dizem que o juiz Sérgio Moro preserva a oposição, em especial o PSDB, e persegue o ex-presidente Lula, Dilma e o PT.
Falam isso mesmo porque não têm outra coisa para falar. Trata-se do maior esquema de roubalheira do poder público. Eles querem tentar fazer pegar algo fora do PT para espalhar o problema.
O senador Aécio Neves foi citado em depoimentos de delação premiada. Isso não compromete o discurso do PSDB? Palavra de delator vale ou não vale?
Delação vale. Tem que valer. Mas não pode ser só a delação. Estou achando maravilhoso essa coisa de delação. Não achei que isso poderia funcionar tanto aqui no Brasil. Todo mundo tem que delatar. Quanto mais delatores aparecerem, melhor. Sobre o Aécio, é preciso ver se (a delação) se realmente se sustenta. Já acusaram o Antonio Anastasia e não havia nada. Tentam trazer gente do PSDB para o meio da meleca.
Como avalia o fato do caso do mensalão mineiro não ter tido a mesma celeridade do mensalão e da Lava Jato?
Não se avalia direito se demorou mais ou menos, mas o mensalão foi o maior esquema de corrupção, que só foi superado pela Lava Jato.
A jornalista Miriam Dutra, que manteve uma relação extraconjugal com FHC, acusou o ex-presidente de ter usado uma empresa que era concessionária do governo para lhe enviar dinheiro. O senhor considera grave essa denúncia que foi feita?
Duvido que ele tenha feito isso. Instalaram um procedimento de apuração. Que se apure se é verdade ou não (essa denúncia). Isso é mais uma tentativa do esquema lulopetista de misturar as coisas. Quando pegam o tríplex no Guarujá inventam que FHC tem apartamento em Paris. Eles tem uma máquina agindo na internet.
A Miriam Dutra seria, por exemplo, parte desse esquema lulopetista?
Não digo isso, mas sempre que sai uma denúncia contra o Lula dizem algo sobre o Fernando Henrique. Eu trabalho com mídia social e fico monitorando isso. Tentam criar uma geleia só. Com o Lula está sendo tudo provado.
Alguns grupos que organizam a manifestação de domingo defendem o fim do Partido dos Trabalhadores. O que o senhor acha dessa ideia?
Não tem porque defender isso. O PT está apodrecendo sozinho. Do ponto de vista democrático, partidos como o PT e que representam operários e trabalhadores não devem deixar de existir.
O senhor avalia que os últimos acontecimentos em torno do Lula unificaram os movimentos sociais de alguma maneira?
Quais movimentos sociais? Movimentos sociais uma ova. Isso é tudo manipulado pelo esquema do poder. É um escândalo. Milhões são transferidos para associações e ONGs para fazer cursos disso e daquilo, mas na verdade esse dinheiro irriga os movimentos sociais. O que eles têm é instinto de sobrevivência. Quando a Dilma cair, vai todo mundo junto.
O PSDB tem militância ativa atualmente?
Tem bem menos do que deveria ter.
Depois de 20 anos governando São Paulo, o PSDB formou uma militância de ‘contracheque’ no Estado?
Obviamente que se um partido está há 20 anos no poder, os simpatizantes tendem a fazer parte dos quadros do governo. No nosso sistema presidencialista há muitos cargos de confiança. Esse é um defeito dos nosso sistema de gestão pública.
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